Caieiras :Fatos e Personalidades da“Cidade dos Pinheirais ”
Marclio Dias de Moraes
Apresentao
Esta obra tem por finalidade perpetuar a lembrana de um povo simples, pacato e trabalhador que, numa atmosfera de paz, harmonia, cordialidade e alegria, construiu uma sociedade que, diga-se de agem, serve de modelo a muitas de suas congneres.
Um grupo de pessoas composto, na maioria, de imigrantes italianos e alemes, comeou a existir em torno de 1890 como o embrio do que futuramente seria a atual sociedade caieirense. Com o ar do tempo, aquele ncleo de famlias foi crescendo medida que chegavam outros elementos provindo dos mais longnquos rinces do Estado de So Paulo, ou seja, de Atibaia, Bragana Paulista, Jundia, Campinas, Piracicaba, Limeira e Alta Araraquarense.
E assim, aquele grupo social foi tornando-se um mesclado de raas com as mais variadas tendncias. Por isso, Caieiras est bem representada na cultura, incluindo as artes e a cincias.
O presente trabalho no tem a pretenso de ser perfeito, mas tem, no entanto, a inteno de trazer ao conhecimento pblico a vida de um povo, no tempo e no espao, mostrando a sua evoluo moral, material e cultural.
Ao mesmo tempo, a obra procura enaltecer os nomes no somente daqueles que j partiram e que, com muita honra, levaram o nome de Caieiras alm das fronteiras, como tambm daqueles que aqui permaneceram, dando o melhor de seus esforos para o progressso desta coletividade.
O autor
Nota do organizador
A obra de Marclio Dias de Moraes no linear. Seu trabalho evita traar a evoluo dos acontecimentos como um livro didtico. O autor optou por retratar pocas restritas e momentos isolados que, uma vez reconstitudos, so capazes de montar o mosaico do quebra-cabea histrico da cidade de Caieiras.
No houve, portanto, grande preocupao em explorar as ltimas dcadas. A ateno est centrada na primeira metade do sculo. Esse direcionamento da pesquisa, que se dedicou, sobretudo aos tempos remotos e deixou lacunas em outros perodos, no deixa de ser legtimo. Ao supervalorizar pocas como os anos 40 e episdios cotidianos da comunidade de trabalhadores, Marclio capta elementos pitorescos e datados, que no poderiam continuar desconhecidos pelas ltimas geraes. A retrospectiva completa pode ainda ser feita por outro historiador, mas, no caso deste livro, a inteno no foi essa.
A alta de rigor tcnico na citao de personalidades, sem a convencional apresentao acadmica, tambm se justifica. O livro no poderia se tornar uma enciclopdia onomstica, repleta de nomes de rodap. Para suprir um pouco essa necessidade, j existe o captulo Personalidades, que trata das biografias de algumas das mais importantes pessoas da histria caieirense. Cabe nesse item uma observao. Marclio Dias preferiu no publicar a saga de personalidades que marcaram o progresso da cidade e que ainda estivessem vivos at a data da primeira edio.
A obra foi produzida no apenas para servir de objeto de consulta, mas para o deleite de quem quiser ler os captulos narrativos quase como um romance histrico. H trechos, porm, que no correspondem essa sutileza literria, como os que se referem transcrio de leis herldicas e descrio de paisagens geogrficas. Embora sejam captulos no to agradveis quanto outros, no poderiam estar ausentes, visto o seu interesse em trabalhos escolares.
Os moradores mais antigos de Caieiras podem reconhecer nas dezenas de nomes citados alguns de seus antigos familiares. Dessa forma, o autor liga os feitos do personagem ado com o interesse do leitor presente. Cria-se, assim, a identificao do indivduo com suas prpria origens.
O retrato da vida privada e dos laos culturais foi preponderante na pesquisa de Marclio. Esse aspecto contraria o costume de alguns historiadores em se limitarem seqncia dos fatos polticos, o que geralmente omite a simplicidade do cotidiano.
A organizao do livro decidiu pela diviso em captulos para tornar o contedo (que j estava quase todo escrito) sistematizado e mais digervel. Essa escolha no impede que informaes de um captulo sejam repetidas em outro, de acordo com a necessidade da narrao. As mudanas feitas pelo trabalho de reviso visaram padronizar o texto conforme as regras gramaticais e as normas preestabelecidas de redao. Mas o estilo essencial do autor foi mantido.
Vale salientar que os elogios tecidos Companhia Melhoramentos de So Paulo so espontneos e partiram do autor, com forma de reconhecimento de Caieiras empresa precursora de seu desenvolvimento. No houve motivo comercial, seja em forma de patrocnio ou qualquer outro, que influenciasse essa atitude. O mesmo vale para todos os estabelecimentos comerciais e industriais citados no livro.
“Caieiras - Fatos e Personalidades da Cidade dos Pinheirais” deve ser entendida como a obra de um autor que viveu o perodo sobre o qual se props a escrever. E, como tal, retrata a sua prpria viso da histria. Leitores que tambm participaram desses acontecimentos podem no concordar com vrios dos pontos documentados.
Todavia, a polmica s enriquecer a discusso sobre o tema, podendo at originar futuras obras, capazes de abordar tpicos diferentes. Caieiras s tem a ganhar com iniciativas do gnero. Afinal, um povo que busca freqentemente conhecer seu ado pode viver melhor seu presente e planejar com prudncia o seu futuro.
Renato de Souza
O sculo 19 e a fundao da Melhoramentos
Os projetos de um coronel
O incio da histria de Caieiras est estritamente ligado a uma personalidade de destaque do comrcio, da agricultura e das instituies financeiras de So Paulo. Trata-se de Antnio Proost Rodovalho, que chegou ao posto de coronel, uma designao tpica do sculo 19, graas ao apoio dado ao Exrcito brasileiro ainda durante a Guerra do Paraguai (1864-1870).
Tudo comeou quando Rodovalho comprou uma fazenda ao longo do Rio Juqueri-Guau, numa regio prxima s terras hoje ocupadas pelo Municpio de Caieiras. Era a oitava dcada do sculo ado. Ele plantava uva e chegou at a praticar pecuria na fazenda.
Numa de suas visitas s suas terras, onde costumava caar e pescar descobriu por meio da observao de pessoas que circulavam no local a existncia de minerais ricos em carbonato de clcio, excelentes para a produo de cal. Esse produto tinha grande valor num pas que prenunciava um processo intenso de industrializao na virada do sculo, exigindo matria-prima para a construo civil. O local que armazenava os minrios ficou sendo dominado Bom Sucesso, nome que, alis, seria mantido na oficializao do bairro que ali se formaria.
J em 1877, o empreendedor Rodovalho mandou construir dois fornos de barranco para o incio da produo da cal, mantidos graas ao corte de madeira abundantemente encontrada na regio. Os fornos serviram de sugesto para o nome da localidade: Caieiras. Existia j uma trilha pela qual avam boiadas. Esta foi transformada em estrada para que a cal obtida nos fornos pudesse ser levada Estao Ferroviria de Perus, em lombo de mula. Produtos derivados da cal, como manilhas, ladrilhos, guias e sarjetas, tambm eram encaminhados estao ferroviria da The So Paulo Railway Company Limited, chamada pelo povo de “Inglesa”.
O coronel entrou em acordo com amigos e financistas da Capital e fundou em conjunto, a 25 de julho de 1877, a Companhia Cantareira de Esgotos, que visava extrair os recursos disponveis em Caieiras para a realizao de servios de higiene em So Paulo. Facilitava-se assim a chegada de gua para beber e se banhar
Um ncleo planejado de trabalhadores
Aos poucos, Caieiras foi se tornando um “animado canteiro de obras e servios”, como cita o historiador Hernani Donato. Trabalhadores italianos que anteriormente se dedicavam agricultura foram fixados em 180 residncias construdas com essa finalidade. Estava formado o primeiro ncleo habitacional planejado para trabalhadores livres do Brasil.
Data de 19 de julho de 1883 a criao da Estao Ferroviria de Caieiras, faanha implantada pela “Inglesa” e solicitado por Rodovalho e seus scios britnicos e influentes da Cantareira. A partir desse ano, no era mais necessrio o uso de animais para o transporte da produo at a estao. Um plano inclinado de 5 mil metros foi construdo a mando de Rodovalho para suprir aquele problema. Monjolinho, Fbrica, Calcrea e Bom Sucesso eram os pontos que serviam de depsito do material que era levado em caambas.
J nesse perodo, salas de aula abrigavam aproximadamente 70 crianas em Caieiras propriamente dita e no Bom Sucesso.
O morador Emlio Ascanha, fixado entre o Bom Sucesso e o Monjolinho, mudaria os planos de Rodovalho. Ele misturou guaran e samambaia na obteno de uma pasta com caractersticas de papel e precisava de ajuda para montar uma fbrica. Aps se fazerem pesquisas com materiais sumrios, como tina, peneira e fibra, chegou-se ao produto desejado, embora ainda sem muita qualidade.
Decidiu-se ento que, a partir de 1877, seria fabricado papel industrial em Caieiras, um projeto que ficou a cargo da empresa alem Gebruder Hemmer, Neidenburg, Pfalz, considerada especializada nesse tipo de negcio.
A infra-estrutura foi sendo montada paulatinamente. Os materiais necessrios para a produo do papel foram sendo obtidos. As pedras foram
Extradas do morro do Tico-Tico, enquanto o cimento e as folhas de zinco tiveram que ser importados da Europa. Foi feita uma barragem, navegaria barcaas a vapor para o escoamento da produo.
Nessa poca, a populao de Caieiras recebeu novos imigrantes, desta vez, os alemes vindo de Hamburgo em maro de 1889 para a montagem das trs primeiras mquinas de fabricar papel, que chegaram um ano antes. O incio da produo de papel se deu em 4 de abril de 1890, com o funcionamento de uma das mquinas.
Em abril de 1890, Caieiras recebeu a visita do ento presidente da Provncia de So Paulo, cargo hoje similar ao de governador do Estado. Pelo que a Histria do Brasil assinala naquele perodo, o ento presidente de So Paulo era Prudente de Morais, que se tornaria em breve o presidente da Repblica. Poderia ser tambm Jorge Tibiri. No foi possvel saber o ms em que um deles saiu do cargo para ser substitudo pelo outro. Na visita estavam presentes tambm outros polticos e empresrios. O evento foi documentado na primeira pgina do jornal O Estado de S. Paulo, em sua edio de 20 de abril de 1890. Todas as instalaes da fbrica de papel foram mostradas em detalhes aos seus participantes.
As condies apontavam a possibilidade de criao de uma grande empresa no local. Havia no Rio de Janeiro, capital da Repblica, a Empresa Industrial de Melhoramentos no Brasil, financiada pelo Governo Federal e que pretendia estabelecer negcios nos outros Estados. Estava ali a chance de Rodovalho fundar a sua empresa com base nas instalaes que j possua.
A origem do nome
A denominao “Caieiras” foi dada estao da antiga estrada de ferro The So Paulo Railway Company Limited pelo seu engenheiro Mac Leod e seus companheiros, aps fazerem o levantamento planaltimtrico da regio para a locao do leito da ferrovia.
Para dar nome s estaes, era praxe usar as caractersticas dos lugares onde as mesmas seriam edificadas. Naquela poca, entre os poucos pontos caractersticos do local, estavam os fornos de cal, existentes nas proximidades da estao, no bairro do Monjolinho. Da, o nome “Caieiras”, em referncia denominao comumente dada aos fornos que produzem cal.
Os fornos se encontram hoje desativados, mas esto no mesmo lugar, quase intactos, como marcos imperecveis atravs dos tempos e cuja imagem se encontra gravada no braso da cidade.
Nasce a Companhia
A Companhia Melhoramentos de So Paulo - Indstria de Papel, com a denominao, simplesmente, de Companhia Melhoramentos de So Paulo, foi ento fundada em 12 de setembro de 1890, no salo nobre do Banco do Brasil, na cidade do Rio de Janeiro, por um grupo de empreendedores e progressistas brasileiros.
A denominao “Melhoramentos”, sugestiva e dinmica, to adequada vertiginosidade da terra de Piratininga, permite a formulao de uma hiptese cujos fundamentos se prendem aos primrdios da era republicana, poca que, no campo dos negcios e das finanas, se assinalou por violento e descontrolado o surto de atividade de todos os gneros no Brasil, sob o influxo inflacionista do fim do sculo 19.
Fundava-se no Rio de Janeiro uma sociedade com a denominao de Empresa Industrial de Melhoramentos do Brasil. Ela pretendia levantar capitais para se formar uma sociedade industrial em cada Unidade de Federao. Todas essas iniciativas se identificariam sempre pela expresso “melhoramentos”, acompanhada do nome do Estado onde estava sendo fundada. Documentos histricos indicam que apenas So Paulo se incorporou ao negcio.
A Companhia Melhoramentos de So Paulo era adquirida por compra feita em nome do coronel Antnio Proost Rodovalho e sua esposa, D. Etelvina Dutra Rodrigues Rodovalho, por escritura de 26 de setembro de 1890.
As anotaes do 3 Ofcio de Notas da cidade do Rio de Janeiro descreviam os limites de uma a uma das prosperidades de posse da nova empresa. Apesar da cansativa listagem de lugares hoje obsoletos, a descrio at peculiar. Naquele tempo, havia proprietrios de terra conhecidos como “Francisco de Tal” etc. Eis as terras adquiridas pela Melhoramentos por ocasio de sua fundao.
•A Fazenda Manguinho, na Freguesia Nossa Senhora do :
limitada pelo Rio Juqueri, desde a foz do Ribeiro do Jo ou Vrzea Grande, at encontrar um rasgo; seguia at as cabeceiras e continuava at a lagoa onde desce a divisa rumo foz do Ribeiro do Jo; esse terreno dividia-se em toda a sua extenso com terras da sociedade que existia entre o finado capito Domingos Manoel Barbosa e os herdeiros de D. Maria Joaquina Nbrega, exceo do lado de Rio Juqueri;
•A Fazenda Monjolinho: na Freguesia de Parnaba, que estava compreendida sob o nome de Fazenda Bom Sucesso a parte utilizada na indstria pastoril, situada na Vila Parnaba; essa vila era limitada pelo lado direito com o Rio Juqueri e por terras da propriedade chamada Fazendinha; pelo lado esquerdo, se encontrava o stio Criscima; frente, tambm estava o stio Criscima, alm da Estrada de Ferro “The So Paulo Railway” (Santos – Jundia); pelos fundos, estavam o Stio dos Buenos e o Stio Juqueri – Mirim;
•Pedreiras Olhos de gua: compradas de Charles Jones em 1880 e que estavam agora como dependncia da Fazenda Monjolinho;
•Metade do Stio Fazendinha: na Freguesia do , cujas confrontaes partiam do Rio Juqueri at a foz do Ribeiro Juli ou Vrzea Grande, encontrando, a seguir, as terras do stio que pertencera a Jos Tibrcio Leite Penteado; subiam a divisa pelo Crrego Pinheirinho at as cabeceiras; da, a fazenda da Melhoramentos seguia por um valo velho, que descia at a separao das terras dos herdeiros do proprietrio Jos Manoel Leito; descia, pois, a divisa pelo Ribeiro da Vrzea Grande, terminando na foz do Rio Juqueri;
•Parte do Stio Criscima: nas partes da Freguesia de Nossa Senhora do e da comarca de Jundia; as fronteiras eram, pelo lado da Capital, as terras de Francisco de Tal, Valrio e Raimundo de Tal; pelo lado do Juqueri, os terrenos de D. Francisca de Tal; pelos lados de Perus, as terras de Dr. Laurindo Abelardo de Brito; pelo lado da linha frrea, o Rio Juqueri;
•Parte do Stio Morro Grande: os limites eram as terras de Chico Gato, vulgo nome de Francisco de Tal, e os terrenos dos herdeiros de Joaquim Bueno de Moraes e de Jos Cndido de Moraes, alm do Stio Criscima;
•Partes do Stio Juqueri – Mirim: eram pertencentes ao Distrito e Vila de Parnaba, compreendendo terras que foram de Antnio Bento da Silva, num lugar chamado Lavrinha; as fronteiras eram: Crrego da Capela do Bom Sucesso, desde a foz do Rio Juqueri – Mirim at o lugar onde ele formava uma espcie de cotovelo; seguindo uma linha direita, alcanava-se o Morro Agudo, at encontrar a divisa com terras dos Ps e o Rio Juqueri – Mirim; as terras encontravam, a seguir, o Rio Juqueri – Guau, se entrecortando com terras dos Rocha; da achava-se a foz do Crrego do Bom Sucesso, onde toda a divisa se iniciou.
De incio, a Melhoramentos de So Paulo deveria usar suas terras tambm para atividades agroindustriais. Grande parte do capital social da empresa foi itido em bens reais, que foram divididos em dois grupos:
• 1 grupo: teria instalaes industriais montadas nas propriedades de Caieiras e que pertenciam ao coronel Proost Rodovalho, num total de 6 lguas quadradas;
• 2 grupo: propriedades agrcolas nos municpios de So Simo e Pirassununga, no interior do Estado. A idia era se utilizar vrias fazendas com mais de 2 mil alqueires de terra roxa e outros 2.500 de terras baixadas e pastos, alm de cerca de 800 mil ps de caf formados e mais 1 milho de outros ps cafeeiros de 1, 2 ou 3 anos. A previso era que, no ano de 1891, a produo deveria exceder a 80 mil arrobas. A colheita a ser obtida em trs anos, s pelo que existia de cafezais a formarem-se, chegaria tambm a mais de 80 mil arrobas.
Nos bens do primeiro grupo, referente s terras caieirenses, os chamados “louvados” de 1890 salientavam:
“Na fazendinha est a concluir-se a montagem de uma fbrica de papel do tipo mais aperfeioado, dotada de todas as mquinas necessrias, edifcios incombustveis, fora motriz hidrulica, trs turbinas etc(...) Os louvados so de parecer que a concluso desta importante fbrica de papel dever ser ultimada pela atual proprietria e, incluindo a matria-prima j em depsito, avaliam esta fbrica em 1.200 contos de ris.”
Os dados mencionados eram de grande interesse e curiosidade. Mostravam o arrojo do empreendimento visado dentro de uma sociedade de capital organizada. O capital social da empresa, em 1890, subscrito ou incorporado aos bens reais, chegava a 15 mil contos de ris, uma vultuosa importncia para a poca.
A Melhoramentos em ao
Os irmos Weiszflog
Fundada e juridicamente organizada pela forma de sociedade annima, a trajetria da Companhia Melhoramentos de So Paulo se dividiu em partes distintas: de 1890 a 1920, tempo do pioneirismo de Rodovalho; de 1921 a 1962, era dos pioneiros que surgiam aps a entrada dos irmos Weiszflog na istrao da empresa; de 1963 a 1990, perodo em que tentou se firmar ainda mais no mercado; a partir de 1990, que engloba o seu segundo sculo de existncia.
De 1890 a 1920, a empresa viu-se presa s grandes crises que recaam sobre a estrutura econmica da Repblica. Lutando com dificuldades imensas, geradas pela diversidade de seus objetivos, a situao se agravava pelas circunstncias de possuir sua sede no Rio de Janeiro e operar em So Paulo.
O dilema era: ou dedicar-se a objetivos essencialmente agrcolas nas suas imensas fazendas de caf e de outras culturas ou voltar-se inteiramente ao setor industrial, que se encontrava carente de ateno e de recursos financeiros.
A diretoria optou pela segunda face do dilema, em consonncia com a nova realidade histrica brasileira, que favorecia o crescimento industrial. Anos depois, a Melhoramentos se desinteressa de suas propriedades agrcolas e transfere sua sede finalmente para a capital paulista em 1903.
Em seus primeiros 30 anos, a Companhia Melhoramentos de So Paulo foi marcada pelas constantes lutas de seus notveis homens de ao, que prestaram o melhor de sua inteligncia, capacidade e obstinada confiana no futuro. Valorizando a dedicao de todos, desde os mais humildes trabalhadores at os mais altos dirigentes, cabe citar os nomes de dois dos maiores representantes desse grupo: coronel Antnio Proost Rodovalho e Joaquim Pinto Pereira de Andrade.
O primeiro foi um empreendedor nato, que assentou em Caieiras a primeira mquina de papel da empresa e a terceira do Brasil. Formou o primeiro ncleo de indstrias da Melhoramentos. J o segundo foi eleito presidente da empresa em 27 de janeiro de 1910 e s sairia do posto em 25 de julho de 1943. Joaquim Pinto era um notvel homem de negcios, financista e de grande tato e experincia. Foi por meio dele que foram possveis os entendimentos que culminaram na incorporao Companhia da firma Weiszflog Irmos.
O ano da juno da firma dos irmos Weiszflog a Melhoramentos foi 1920. Aquela empresa havia sido fundada em 1894 pelos irmos Otto e Alfried Weiszflog, aos quais se une em 1904 outro irmo, Walther Weiszflog. Ele se tornaria grande colaborador, inicialmente, do departamento editorial da firma. Como Otto faleceu j em 1910, no foi possvel ver os destinos promissores que esperavam os irmos alemes.
A partir de ento, a Melhoramentos toma extraordinrio impulso, ampliando o mbito de suas atividades industriais tambm para o ramo das artes grficas e da produo de artefatos de papel, servios de especialidade da antiga Weiszflog Irmos. Na ata de incorporao a Melhoramentos da firma que funcionava em So Paulo, constavam os seguintes dizeres, escritos em 4 de dezembro de 1920:
“Com o estabelecimento grfico Weiszflog Irmos tem todo um perfeito aparelhamento para produzir grande variedade de produtos, com enorme freguesia e representantes espalhados por todo o Brasil, a direo (da Melhoramentos) acha que, saindo do mercado Weiszflog Irmos, pela venda de todo seu aparelhamento, a nossa Companhia pode, sem receio da falta de consumo, desenvolver sua atividade numa grande produo. Para vender mais barato, preciso produzir grandes quantidades(...) Para no guardar enormes estoques, grande parte de sua sada ser assegurada pela indstria que anexaremos, de pautao, encadernao, livros em branco, edies, fabricao de envelopes, baralhos, tipografia, litografia, enfim, todas as produes de Weiszflog Irmos.”
O grupo Industrial Weiszflog constituiu-se de fato em fator decisivo para o desenvolvimento da Companhia Melhoramentos. Alfried Weiszflog (1872-1942) empreendeu a realizao de vasto programa de reequipamento industrial. Foi o que chamam de homem de ao. Suas diretrizes sempre estiveram providas de prudncia e segurana, apesar da conturbada conjuntura econmico-social do mundo. Nas comemoraes dos 50 anos da Melhoramentos, em 1960, Alfried foi classificado como “o consolidador” da empresa.
A 2a Guerra e a crise econmica
Em 1938, quando a Alemanha j se preparava para o desfecho da Segunda Guerra Mundial, chamando seus sditos para assumirem seus postos hierrquicos na armada daquele pas, iniciou-se tambm uma grande crise internacional, que finalmente atingiu quase todos os pases do mundo.
O Brasil encontrou-se nessa fase de sua histria numa situao bastante constrangedora. Mantinha timas relaes com a Alemanha e tinha representantes da raa germnica em seu territrio. Os Estados do Paran, Santa Catarina e Rio Grande do Sul detinham colnias alems, que at hoje conservam seus costumes, sua tradio e seu folclore, amando tanto o Brasil como a terra de seus pais. Possuem uma cultura riqussima. Desses Estados, saram tambm grandes generais, homens de letras e estadistas .
Eis que, por razes que no conhecemos com absoluta certeza, o Brasil foi obrigado a cerrar fileiras com os Pases Aliados, contra os alemes, mandando para a Europa nossos pracinhas.
Naquela ocasio, Caieiras tambm foi representada na guerra pelos seus filhos Antnio Jos Nani, Slvio Pinheiros e padre Aquiles Silvestre, sendo este ltimo retratado em captulo biogrfico parte.
Curiosamente, naquele mesmo ano de 1938, Companhia Melhoramentos, que resumia em seu mbito quase toda a histria caieirense ocorrida at ento, recebeu da Alemanha a sua ltima encomenda, feita antes da guerra: a Mquina n 5, fabricada pela firma J. M. Voith Haidenhain, a mais perfeita no gnero, com mais de 100 metros de comprimento e com capacidade de produo de mais de 100 metros de papel por minuto.
Para assentamento dessa mquina, a Companhia foi obrigada a construir um enorme prdio, todo em concreto armado, para resistir seu peso e evitar a vibrao provocada por seu movimento de rotao. O prdio foi feito sob responsabilidade tcnica da firma Freitas & Janks, tendo como tcnico de obras Alexandre Lutswerk, que aps o trmino daquela obra, radicou-se em Caieiras, onde viveu at a morte, cercado de amizades e deixando entre ns sua esposa, D. Paulina Lutswerk.
Vale lembrar que a Melhoramentos mantinha em todos os seus estabelecimentos fabris aparelhos contra incndios, como o de p qumico e o de soda custica, colocados em lugares estratgicos. Havia treinamento peridico do pessoal que operava as mquinas, a fim de se evitarem tragdias.
Caso houvesse atraso na encomenda da mquina n 5, talvez a Melhoramentos tivesse que aguardar at o final da guerra, em 1945, para sonhar com a chegada da grande mercadoria, uma vez que as relaes comerciais de quase todos os pases do mundo com a Alemanha se azedaram durante o conflito.
A crise de 1938 atingiu diretamente todas as indstrias paulistas, provocando uma onda de desemprego em massa e chegando ao ponto de causar um xodo de operrios que abandonavam desesperados as cidades rumo ao campo, a fim de encontrarem outras atividades para fugirem da fome e da misria.
A Melhoramentos tambm sofreu grandemente esse impacto, vez que importava celulose do Canad, na Amrica do Norte. Aquela era a principal matria-prima para o fabrico do papel. Os fardos de celulose eram desembarcados no Porto de Santos e transportados para a Estao de Caieiras pelo trem da antiga “The So Paulo Railway”. Da para a fbrica de papel, a celulose era levada pelo trenzinho da prpria Companhia, o mesmo que em horrios normais de trabalho transportava os operrios para o servio.
Quando a importao da celulose tornou-se to restringida e finalmente cortada, a Companhia conseguiu ainda contornar a situao, devido ao grande estoque que possua e ao enorme volume de aparas que vinha armazenando atravs dos anos.
Nesse perodo, as indstrias de So Paulo lanavam mo da dispensa em massa dos operrios. No entanto, a Melhoramentos, graas habilidade de seu diretor tcnico, Johannes Ferdinand Ehlert, apenas diminuiu por certo tempo a jornada de trabalho, mas no despediu um sequer de seus empregados.
A formao moral e cvica dos funcionrios os fez reconhecer a crise por que ava a Companhia. Mesmo em horrio reduzido, eles deram o mximo de sua capacidade laborativa para que a empresa no viesse a sofrer grande defasagem na produo, o que certamente prejudicaria o atendimento do mercado.
Sendo assim, a Melhoramentos continuou fabricando com suas reservas de celulose o papel de primeira classe. O papel de segunda tinha reservas de aparas, que avam por um processamento especial para se obter o aproveitamento total.
Mesmo assim, para fazer face quela crise, a Companhia foi obrigada a lanar mo de um emprstimo do Banco Transatlntico Alemo, o que foi saldado em pouco tempo. Graas sbia orientao do tcnico e Ehlert, naquele conjunto de esforos fsicos, materiais e humanos, a Companhia voltou ao seu ritmo normal de trabalho, sendo logo obrigada a aumentar seu contingente de obreiros para atender demanda do mercado, que tambm voltava normalidade.
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Uma excurso em massa
Aps aquela espetacular vitria da Melhoramentos em poder transpor uma de suas crises, Ehlert no conteve seus impulsos de homem justo e reuniu os scios para propor que, em reconhecimento pela fidelidade, compreenso e colaborao dos empregados, fosse dado a eles uma recompensa, o que foi aprovado por unanimidade.
Assim resolvido, encarregaram o diretor social da Companhia, Antnio Siqueira Branco, a organizar uma excurso para todos os empregados. O local escolhido foi praia do Gonzaga, em Santos. Para tal empreendimento, o diretor social tratou de fretar um trem da antiga “So Paulo Railway” para fazer o percurso de Caieiras a Santos, ida e volta, bem como os bondes da Companhia City de Santos para efetuar o trajeto da Estao de Santos Praia do Gonzaga. A notcia foi recebida pelos operrios com gritos de alegria. A partir da, aram a contar nos dedos os dias que se avam.
Finalmente, chegava a madrugada em abandonaram a cama s 4 horas da matina, deixando Caieiras deserta, pois todos corriam apressados a fim de pegar um lugar naquele trem reservado especialmente a eles.
Na plataforma da Estao de Caieiras, na hora da partida, se encontravam os senhores Ehlert e Walther Weiszflog, acompanhados de suas respectivas esposas, D. Alice e D. Bertha, os quais assistiam sada vagarosa daquele trem repleto de alegria. Os operrios gritavam incessantemente “vivas aos bota fora”, gritos estes entrecortados pelos apitos repetidos da mquina. O Maquinista, contagiado pelo entusiasmo dos operrios, participava ativamente daquele folguedo e, vendo os operrios acenarem com lenos em sinal de despedida, continuou acionando o apito da mquina at o trem desaparecer na curva da estrada.
A viagem foi demorada e cansativa, especialmente para as crianas. Todavia, por outro lado, somente o espetculo da natureza que tiveram a oportunidade que tiveram de ver na descida da Serra de Santos compensou todo e qualquer sacrifcio da viagem.
E para a surpresa de todos, na chegada da caravana Estao de Santos, notaram que havia dezenas de bondes reservados para o transporte do pessoal at a praia do Gonzaga, os quais traziam faixas escritas “Bem-vindos os caieirenses nossa cidade”. O que constituiu mais uma surpresa para todos foi quando, ando por uma linda praa no centro da cidade de Santos, l estavam os diretores da Companhia acenando e dando boas-vindas, o que era respondido com aplausos, num dia em que tudo era festa e alegria.
Ao chegar praia, cada um procurou o esporte de sua preferncia, pois alm do banho de mar, havia as corridas de bicicleta, jogos de voleibol, petecas etc, no faltando a caipirinha e os espetinhos de camaro.
Finalmente, por volta das 18 horas, quando o sol baixava detrs da serra, deixando seus raios dourados incidirem sobre as nuvens e provocando os mais variados matizes, todos caminhavam tranqilos em direo aos bondes que os esperavam enfileirados defronte praia para a volta estao de embarque.
Durante a viagem de volta, como era de costume, cada um destrinchava um farnel, uns levavam uma refeio frugal, constituda de po, queijo, presunto e frutas, outros, o tradicional frango assado com farofa de midos. E finalmente, os gastrnomos levavam as de macarronadas, carne etc.
Assim, por volta de meia-noite daquele dia, o trem estava chegando Estao de Caieiras, onde o trenzinho da Companhia os aguardava a fim de leva-los para casa. E assim, para a saudade de todos, ficou aquela viagem na histria de Caieiras e na memria nostlgica dos que participaram dela.
Investimentos sucessivos
Os investimentos promovidos pela Companhia Melhoramentos em seu parque industrial sempre representaram aplicaes de capital essencialmente brasileiro. Todas as variaes que suas finanas sofreram refletiram apenas as possibilidades, retrataes ou condies peculiares do mercado nacional de capitais. Ela pode ostentar com orgulho a condio de ser uma das mais antigas empresas industriais do pas, com capital, atividades e objetivos que jamais deixaram de ter cunho verdadeiramente nacional.
Em publicao comemorativa do sucesso da empresa, foi citado em 1950 que o desenvolvimento da organizao se devia s diretrizes e atuao do industrial Alfried Weiszflog. “Dele, os dirigentes de 1950, e qui os de muitos anos futuros, se sentem continuadores, to marcantes traos ficaram de sua personalidade no conjunto orgnico das atividades da empresa.”
Em 1950, a Melhoramentos j possua sua sede social no Bairro da Lapa, em So Paulo, num moderno edifcio construdo junto aos estabelecimentos industriais da Companhia, totalizando uma rea superior a 15 mil metros quadrados. L se instalaram as grandes fbricas de diversificados artefatos de papel e organizaram todo o trabalho editorial da empresa. No centro da capital, Rua Lbero Badar, no mesmo prdio que em tempos idos pertenceu firma Weiszflog Irmos e onde teve sua sede at 1948, a Melhoramentos ou a colocar sua tradicional loja de vendas a varejo, num ponto que se tornou centro costumeiro de encontros de amigos, autores, professores e intelectuais paulistas.
No Rio de Janeiro, a Companhia ainda preferiu manter naquela poca uma filial para representa-la e promover a venda e distribuio de seus produtos na cidade que era ento a capital do Brasil. Evaristo Bianquini foi a personalidade inesquecvel que chefiou durante cerca de 30 anos aquela filial da Melhoramentos.
Um reflorestamento cientfico
Em todos os lugares onde a Melhoramentos atuou, inclusive Caieiras, sempre foi dada especial ateno ao reflorestamento do solo com essncias vegetais utilizveis na indstria papeleira como matria-prima ou combustvel.
No incio dos anos 20, um levantamento realizado pela Companhia captou que dos 4 mil alqueires disponveis em Caieiras para a empresa, 30% estavam cobertos por mata, 66% por campo e outros 4% ocupados em atividades agrcolas. Os fornos de cal queimavam 3 mil metros cbicos Poe ms. Outros 700 metros de lenha partiam para os fornos e at para o uso dos moradores locais.
Diante daquela situao alarmante, foram convocados engenheiros silvicultores para planejar tecnicamente um viveiro de mudas de dimenses aproximadas de 2,9 hectares, o que foi finalizado em 1925. Era a primeira floresta cientificamente planejada em todo o subcontinente. Em 1930, havia em Caieiras 442 mil rvores e 1 milho de mudas aguardavam plantio no mesmo viveiro. Em 1990, quando a Melhoramentos completou seu primeiro sculo de existncia, computavam-se nada menos que 7 milhes de rvores em suas trs fazendas florestais, contando a a participao caieirense.
Os ncleos populacionais
Por paradoxal que parea, a dcada de 40, a pior para o mundo devido Segunda Guerra Mundial, foi tima para Caieiras. A Companhia Melhoramentos era constituda de um conjunto populacional de centenas de famlias que viviam numa atmosfera de paz e harmonia, a ponto de dar a impresso de que toda a comunidade era formada por uma s famlia: a famlia caieirense.
O historiador Hernani Donato, em sua obra “100 Anos da Melhoramentos”, descreve sumariamente a sociedade caieirense do incio dos anos 40, tratada tambm numa edio de 1940 da revista paulistana “Servio Social”. Tais dados so de grande importncia para se recortar o panorama da populao da cidade naqueles tempos.
A pesquisa cita que 3 mil pessoas ocupavam os ncleos de trabalho da Companhia, das quais 1.500 eram assalariadas diretamente pela empresa. Ocupar as casas onde moravam aqueles trabalhadores requeria o pagamento de taxas simblicas de aluguel. Os funcionrios podiam se utilizar reas para cultivo de cereais. Havia concursos e promoes para incentivar a manuteno da limpeza e das fachadas floridas nas residncias, tal como existe atualmente em estncias tursticas do sul do Brasil e de outras regies. Da o interesse em se deixarem os jardins e pomares tpicos de cidades europias, embora sempre simples.
Os servios sociais populao carente eram desempenhados normalmente pelas esposas dos diretores da Companhia, como Bertha de Moraes Weiszflog, Ingeborg Reimann, Karola Weiszflog, Adolfa Plger e Alice Ehlert. Clubes eram pontos constantes de animao.
Especificamente em 1940, foi instalado no local o Tiro de Guerra 35, Seo Caieiras, para treinamento militar. No salo de festas da Companhia Melhoramentos, o capito fez comentrios sobre a cidade na qual estava sendo construdo um estande de tiro, a ser instalado num bairro chamado Barreirinho.
O capito destacou o trabalho do diretor tcnico Ferdinand Ehlert, Cujo papel frente da Melhoramentos e no desenvolvimento em toda regio est traado em captulos biogrficos deste livro. Falava o capito:
“Assim que hoje, graas aos seus denodados esforos e larga viso, tem Caieiras uma fbrica de papel das mais perfeitas e uma organizao completa, objeto de contnuos e francos elogios, emanados de altas sumidades, em evidncia no Brasil e mesmo no Exterior, seja no mundo das letras, do alto comrcio, das indstrias em geral, da istrao pblica, das classes armadas e da religio, tudo pelo aperfeioamento de suas instalaes, que somente produzem papis de alta classe”.
A respeito da sociedade caieirense, o militar tambm fez suas observaes.
“No terreno social, tem sido a Companhia Melhoramentos alvo dos maiores encmios, de valor inestimvel, em razo de promenarem de vultos de grande projeo intelectual em todos os ramos de atividade e que no tm escondido sua irao pelo elevado nvel de vida da famlia operria de Caieiras”.
Um dos problemas que mais mereciam ateno do governo brasileiro na poca que, graas ao empenho da istrao da Companhia, em nome do senhor Ehlert, ela j possua a matria-prima nacional para a produo do papel, fabricada com pinho paulista. J estava sendo aproveitada a madeira da vasta floresta existente em Caieiras, bem como a de Camanducaia, no Estado de Minas Gerais, a fazenda Levantina, cuja formao tambm foi uma das mais belas e produtivas realizaes da Companhia.
Colaborava-se daquela forma pela emancipao de nossa indstria papeleira em relao matria-prima antes importada, gerando uma grande economia de divisas para o Pas.
Os visitantes verificavam as acomodaes dos trabalhadores e de suas famlias em residncias confortveis e providas de todos os requisitos higinicos e salutares, dispondo de luz eltrica, gua encanada, pisos assoalhados e forros de estuque.
As casas tinham amplos terrenos, onde se viam bem cuidados jardins, hortas, tudo muito bem distribudo. E para facilitar o o dos moradores aos locais de trabalho, ruas tratadas, com rede de esgoto e bicos de iluminao eltrica eram abertas.
Inteiraram-se da existncia de bem organizados servios de assistncia mdica, grupo escolar, escolas isoladas, cursos gratuitos de aperfeioamento profissional, farmcia e armazm de abastecimento, onde os gneros de primeira necessidade, inclusive o po, eram vendidos a preos inferiores aos do comrcio varejista de So Paulo.
Havia distribuio de leite puro a preo nfimo, aougue, quitanda, ferrovia com transportes grtis e que ligavam entre si os bairros em comunicao com os trens da antiga “The So Paulo Railway”, rumo a So Paulo e ao Interior.
Existia tambm automvel de eio cedido a qualquer famlia da localidade para casos de enfermidade que exigisse tratamento urgente ou hospitalizao na Capital. Uma rede telefnica, ligada linha interurbana, estava disposio de todos.
A empresa cedia suas terras aos seus operrios e ainda incentivava-os a cultiva-las nas horas vagas, adquirindo, aqueles que assim desejassem, as obras da colheita de cereais ao preo em vigor no comrcio paulistano.
Os visitantes verificavam que todos os benefcios proporcionavam aos trabalhadores um invejvel padro de vida, o que os fazia ficarem satisfeitos e desejosos de se radicarem em Caieiras.
Os descendentes dos moradores integravam o batalho de escoteiros criado e mantido pela Companhia, onde os pequenos recebiam instruo cvica, moral e fsica, excelente preparo a fim de no futuro bem servirem ao Brasil.
Os tais visitantes que a Melhoramentos recebia compreendiam de pronto que ali se produzia algo de fato positivo, nobre e de elevado valor em prol do engrandecimento da Ptria. Eles no se furtavam dos mais calorosos e merecidos aplausos, afirmando todos eles que, em Caieiras, estava perfeitamente resolvido o problema social.
Apontada como uma das mais avanadas do mundo, a Legislao brasileira, em matria de assistncia e previdncia sociais, impe indstria em geral a obrigatoriedade de contribuies ou encargos que oneram sensivelmente os custos de produo. Esse mesmo sistema de contribuio assistencial e previdencirio, mesmo que altamente custoso no tem podido corresponder aos justos anseios das classes trabalhadoras. Estes no tm conseguido sequer prescindir, como seria justo e ideal, da ao supletiva que as empresas sempre so obrigadas a manter alm de suas j pesadas contribuies compulsrias.
Dessa forma, no intuito de que seus empregados e dependentes usufrussem do mximo de benefcios assistenciais dos rgos e servios criados por Lei, a companhia Melhoramentos procurava desde cedo desenvolver um vasto e completo servio de assistncia social prpria.
A tradio da empresa foi sempre de estimular a conscincia de que os empregados so to interessados no bem-estar de seus subordinados como estes o so na estabilidade econmica e no desenvolvimento da indstria. Sempre que possvel istrao e a responsabilidade pelos servios sociais eram confiadas aos prprios empregados, com um mximo de autonomia. A interferncia da Melhoramentos se limitava a planificar o interesse da consecuo de idias e objetivos comuns, o que era essencial para o seu prprio funcionamento.
A participao na economia nacional
Foram inmeras as formas em que os empreendimentos da Melhoramentos refletiram na economia nacional j em suas primeiras dcadas de atuao, valorizando sempre o homem brasileiro e sua cultura.
Somente para ilustrar, em 1891, primeiro ano de operao da empresa, a Companhia produziu 194 mil quilos de papel. Em 1949, suas mquinas j fabricavam 12.669.900 quilos de papel de excelente e tradicional qualidade, quantia apta a atender s exigncias do mercado interno e externo.
Os lanamentos editoriais
Desde a primeira publicao do departamento editorial da Melhoramentos, em 31 de outubro de 1915, j foram lanados milhes de ttulos com sua marca nas livrarias de todo pas. Nos primeiros 35 anos de sua operao, o nmero de livros publicado j superava 33 milhes.
A Literatura Infanto-Juvenil, de tanta importncia para a formao moral e espiritual das crianas e adolescentes, sempre foi uma das prioridades. No ano de 1950, a Editora Melhoramentos era responsvel por aproximadamente 80% das obras infanto-juvenis e 25% das publicaes didticas lanadas anualmente no Brasil.
Os historiadores da Literatura sempre ressaltaram o papel preponderante exercido pelas empresas grfico-editoras no florescimento das letras ptrias, oferecendo oportunidade aos autores de talento, difundindo obras de valor e encorajando a iniciativa literria at para trabalhos especializados. A divulgao em vernculos de obras clssicas estrangeiras tambm foi de suma importncia.
O literato Pedro Calmon, membro da Academia Brasileira de Letras, formalizou em 1931 Companhia Melhoramentos de So Paulo a sua irao pelo incentivo dado Literatura:
“Tenho muita satisfao em poder editar na sua casa mais um livro. Isto me honra, porque nenhuma outra empresa editora to grandes servios vem prestando s letras nacionais.”
Desde 1915 e depois a partir de 1939, os livros que ostentariam um dia o rtulo “Edies Melhoramentos” tm sido publicados com grande xito, incluindo grandes e imperecveis obras, muitas delas de consagrados mestres brasileiros. Grandes intelectuais das primeiras dcadas do sculo puderam ser lidos pela Melhoramentos: Rocha Pombo, Erasmo Brago, Arnaldo de Oliveira Barreto, Mariano de Oliveira, Francisco Viana, Antnio Firmino Proena e outros.
Os livros de Histria do Brasil tambm foram destaque no setor editorial da empresa. Entre eles, estiveram “Histria Geral do Brasil”, de Francisco Adolfo Varnhagen, atualizada por Capistrano de Abreu e Rodolfo Garcia, “Histria do Brasil”, de Frei Vicente do Salvador, e de outras obras de autores no menos importantes, como Manoel de Oliveira Lima, Pedro Taques, Visconde de Taunay, Afonso de E. Taunay e outros.
Para vrias categorias profissionais, foram criadas sries especializadas. Aos professores, surgiu a “Biblioteca da Educao”, dirigida pelo prof. Loureno Filho. Aos agricultores e pecuaristas, destinaram-se trs colees: “Biblioteca Agronmica Melhoramentos”, “Criao e Lavoura” e “ABC do Lavrador Prtico.”
Milhes de exemplares de obras didticas foram colocados no mercado tambm pelas Edies Melhoramentos, desde as cartilhas de primeiras letras, os mapas, os cadernos, at outras mais complexas, voltadas a estudantes dos cursos secundrio e superior.
A literatura Infantil outro campo vasto, que sempre contou com lbuns, biografias, relatos de viagem, aventuras, histrias didticas e recreaes em geral.
A Melhoramentos sempre contou com a colaborao dos grandes autores de obras para a infncia, de tradutores especializados e de ilustradores.
A busca constante do progresso
Por meio de todas as conquistas em prol do povo caieirense e brasileiro como um todo, a Companhia Melhoramentos de So Paulo pde inscrever em suas edies o seu tradicional slogan: “Do Pinheiro ao Livro – uma Realizao Melhoramentos”.
A organizao da empresa, incluindo o ciclo completo da fabricao de seus produtos, desde a matria-prima at o acabamento, representa a busca constante de um ideal. As palavras pronunciadas pelo ex-diretor Alfried Weiszflog para pessoas de sua famlia, poucos dias antes de falecer, simbolizam esse ideal.
“Revendo tudo quanto fiz na vida, sempre abstra a minha pessoa da Companhia Melhoramentos de So Paulo para v-la como um artista que, ao contemplar sua obra, procura melhor-la, retocando-a at que chegue perfeio visada... E hoje, finalmente, tentamos termin-la com a construo e instalao de nossa fbrica de celulose, dando assim, o retoque final nossa indstria de papel, numa evoluo de sentido completamente nacional”.
Alfried Weiszflog (1872-1942)
Jornal O Estado de S.Paulo, 13.12.1942
Essas palavras do eminente industrial, publicadas no jornal O Estado de S.Paulo, Confirmam a importncia da atuao da Companhia Melhoramentos de So Paulo ao progresso da terra de Piratininga, procurando sempre honrar e dignificar o lema do braso paulista: Pro Braslia Fiant Eximia!
Com mais de um sculo de realizaes, a Companhia Melhoramentos hoje um patrimnio da histria de Caieiras, motivo pelo qual faz parte da obra que pretende traar fatos da cidade. Suas ltimas conquistas, como a compra da subsidiria de uma multinacional americana, a KC do Brasil, em 1994, no foi tratada neste livro por serem episdios mais recentes e que merecem anlise em obras publicadas no futuro.
Inmeros outros acontecimentos e personalidades ligadas histria da Melhoramentos esto tratados ao longo de toda esta obra, nos captulos que a compem.
Nota explicativa do autor
Grande parte dos fatos relatados neste captulo sobre a histria da Companhia Melhoramentos de So Paulo foi extrada de uma publicao da empresa por ocasio da agem de seus 60 anos de existncia (1890-1950).
Nesse perodo, o Brasil no era em grande parte um pas intervencionista e nem poderia ser, visto que no possua uma legislao adequada. Mesmo assim, o operariado desta Companhia nunca foi explorado, a exemplo do que ocorreu at em pases da Europa, como a Blgica, no sculo ado.
Os pases capitalistas sugavam o mximo da capacidade laborativa de seus empregados, sem se importar com suas condies de vida. Os trabalhadores chegavam ao estado de extrema misria, razo pela qual muitos deles abraaram o comunismo como tbua de salvao.
Esses fatos serviram de subsdio ao grande pontfice Papa Leo X para escrever sua encclica denominada Rerum Novarum. Esses acontecimentos histricos j tinham sido observados por ele durante o tempo em que foi nncio apostlico daquele pas
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Observao: Desde 1994, a denominao da primeira empresa da cidade Melhoramentos Papis S.A. No entanto, essa indstria papeleira foi citada nesta obra como Companhia Melhoramentos de So Paulo, por ser um nome mais corrente, popular e que perdurou por mais de um sculo na histria de Caieiras.
Poltica
Sociedade Amigos de Caieiras
Moradores se unem pelo bem da comunidade
Quando Caieiras ainda era Distrito de Franco da Rocha, ocorreu a fundao da Sociedade Amigos de Caieiras, uma entidade sem vnculos polticos, mas que marcou a organizao da populao em busca dos objetivos comuns. O fato se deu numa reunio de 30 de agosto de 1936 entre algumas das famlias de Criscima e representantes do quadro da Companhia Melhoramentos de So Paulo, que discutiram assuntos de interesse geral da comunidade. Esse encontro ocorreu no largo da Igreja de Santo Antnio de Criscima.
No tardou para ser realizado no mesmo local uma reunio com um fato sui generis. Foi posto em prtica o exerccio do voto secreto, sistema de votao que ainda estava recm aprovado pela Constituio brasileira de 1934, sendo regulamentado pelo Cdigo Eleitoral feito em seguida. De qualquer forma, no era uma prtica poltica comum no Brasil.
Votaram na reunio da Sociedade Amigos de Caieiras 52 eleitores, ficando assim constituda a diretoria da entidade: Dr. Armando Pinto, presidente, Joo Leonardo Barreti, vice-presidente, Alcides Maziviero e Joo Pereira dos Santos, secretrio, Atlio Massinelli e Pedro Rodrigues de Paula, tesoureiros, e Geraldo Valim e Luiz Gaspar, como bibliotecrios.
Dr. Armando Pinto incumbiu a entidade de preparar seu estatuto e prometeu a doao de um terreno de sua propriedade quela novel sociedade para a construo de sua sede. Em seguida, ou a escritura pblica de doao.
A sociedade Amigos de Caieiras se responsabilizou pela continuidade das obras da Igreja de Santo Antnio a partir do incio dos anos 40. Promovia solenidades e festas de Natal com at 500 crianas. Somente em 1942, a associao conseguiu contemplar mais de 1.000 crianas, sendo a maior parte vinda de Franco da Rocha e de Perus em trens especiais, cedidos pela antiga “So Paulo Railway”. Executou tambm a abertura dos alicerces daquele tempo.
Seus membros estavam sempre ligados a todas as iniciativas levadas a efeito no bairro. Sua atividade pujante se fez sentir em todos os momentos, o que possibilitou tornar Criscima a vanguarda das maiores realizaes da cidade.
Tambm por seu empenho, a luz eltrica foi inaugurada em 1939, ocasionando uma festa na casa do senhor Pedro Muro. Em seguida, o povo foi reunido na residncia de Dr. Armando Pinto, o qual ofereceu uma recepo especial, deixando aquele dia na histria de Caieiras.
Em 1950, a Sociedade Amigos de Caieiras foi extinta, mas seus membros continuaram lutando pelo futuro da cidade.
O Distrito de Franco da Rocha
Caieiras sempre foi ligada a Franco da Rocha e, assim, nunca deixou de dar ao “municpio pai” sua contribuio fsica, moral e financeira, at a ocorrncia de sua emancipao. Contribuio fsica porque sempre participou ativamente da vida poltica francorrochense, desde as primeiras iniciativas daquela cidade no sentido de sua prpria emancipao em relao ao ento Municpio de Juqueri, hoje Mairipor.
Entre os filhos e colaboradores caieirenses que mais participaram da histria de Franco da Rocha, esteve o saudoso e dinmico Dr. Armando Pinto, que lutava por seus ideais polticos por meio da imprensa. Ele comandava o jornal Vida Nova, o qual, com a ajuda de amigos e correligionrios cujos nomes dispensam adjetivos, continua at hoje um marco imperecvel atravs dos tempos. Cada exemplar traz uma torrente de entusiasmo e recordaes, dando alento para a luta pelo bem-estar da coletividade.
O jornal de Dr. Armando Pinto teve uma atuao marcante na histria poltica de Franco da Rocha, dando cobertura de todos os seus acontecimentos e difundindo os trabalhos executados pelos poderes pblicos e pelas entidades particulares. Seu objetivo era sempre a elevao cultural do povo.
Mas a luta pela emancipao de Franco da Rocha seria ferrenha, a ponto de Dr. Armando ser processado por crime de imprensa. Seu acusador no poderia ser outro seno o ento prefeito de Juqueri, Benedito Fagundes Marques, que no se conformava com a iminente emancipao de Franco da Rocha. Apesar de ter lanado mo de todos os recursos para evit-la, tudo foi em vo.
Dr. Armando teve como seu defensor o ilustre criminalista Dr. Boaventura. Num trabalho brilhante, ele conseguiu a absolvio de seu cliente por unanimidade no antigo Frum da Praa Clvis Bevilqua. Aquele foi um dia de grande apreenso, tanto por parte de Dr. Armando, como pelos seus amigos. Mas foi tambm uma data de festa e alegria, pois, aps o trmino do julgamento, Dr. Armando Pinto levou seus amigos Cantina Capri, onde mandou servir a todos um lauto jantar regado a um bom vinho.
Quanto emancipao, Franco da Rocha obteve vitria em todos os pontos de vista.
Depois da independncia francorrochense, Caieiras ainda continuou subdistrito daquele municpio. Mas o povo caieirense foi bem representado nas primeiras gestes da Cmara Municipal de Franco da Rocha. Alm de Dr. Armando Pinto, outras personalidades a alcanarem o posto de vereador nos anos 40 e 50 foram: Ozrio Ferreira Camargo, Sebastio Pimentel, Joo Henrique de Macedo Mendes, Nelson Manzanares, Vitrio Rossi, Antnio Milano Neto, Wilson Garbelini, Joo Pasin, Joo Lusvardi e outros cidados caieirenses que atuaram na poltica do distrito no perodo.
A contribuio moral de Caieiras, citada no incio deste captulo, se entende pela escolha de seus cidados de melhor gabarito a fim de representar a comunidade na vida poltica e istrativa do distrito. Essas pessoas deram o melhor de seus esforos na luta pelo progresso. Quanto contribuio financeira, Caieiras tinha como subdistrito uma arrecadao muita boa, devido principalmente ao pagamento dos impostos pela Companhia Melhoramentos de So Paulo, disparada a maior empresa da regio na poca.
A seguir, a galeria dos prefeitos de Franco da Rocha, desde o primeiro mandato:
Galeria dos prefeitos de Franco da Rocha
Benedito Fagundes Marques
De 01.01.45 a 07.02.45 e de 15.12.45 a 24.03.47
Osrio Ferreira Camargo
De 07.02.45 a 06.03.45
Cevero de Oliveira Moraes
De 23.11.45 a 15.12.45 e de 24.03.47 a 15.04.47
Aldo Savazoni
De 15.04.47 a 31.12.47
Joo Victor Jnior (1 eleito)
De 01.01.48 a 31.12.51
Bernardino Pereira Mauro (vice: Pedro Llis de Souza)
De 01.01.52 a 31.12.55
Jos Alves Ferreira Filho
(vices: Antnio Molinari e Emlio Hernandes Aguilar)
De 01.01.56 a 31.12.59 e de 01.01.64 a 26.03.65
Pedro Llis de Souza
(vice: Emlio Hernandes Aguilar)
De 01.01.60 a 31.12.63
Emlio Hernandes Aguilar (mandato prorrogado)
De 26.03.65 a 31.01.69
Donald Savazoni (vice: Antnio Teixeira)
De 01.02.69 a 31.01.73
ngelo Seleguim (vice: Rocildo Rolim Quesado)
De 01.02.73 a 31.01.77
Donald Savazoni (vice: Oscar de Almeida Nunes)
De 01.02.77 a 25.04.80
Oscar de Almeida Nunes
De 25.04.80 a 31.01.83
Emlio Hernandes Aguilar (vice: Dionzio Bovo)
De 03.02.83 a 31.12.88
Oscar de Almeida Nunes
(vice: Jos Severo Horta)
De 01.01.89 a 31.12.92
Mrio Maurici de Lima Morais
(vice: Widerson Tadeu Anzelotti)
De 01.01.92 a 31.12.96*
* trmino previsto
As primeiras lideranas polticas
As verdadeiras lideranas polticas comearam a nascer em Caieiras por volta de 1953, quando seu povo queria participar alm das representaes que mantinham na Cmara Municipal de Franco da Rocha. Desejava-se tambm um prefeito caieirense no distrito. Da a razo de terem sido escolhidos para candidatos dois jovens lderes da mocidade de Caieiras: Gino Drtora e Marclio Dias de Moraes. Estes contavam com apoio da mocidade catlica e da populao como um todo, estimada na poca em 5 mil habitantes o provveis 800 eleitores.
Franco da Rocha se preparava nesse perodo para as eleies de 1954. As campanhas polticas se intensificavam cada vez mais e Caieiras tambm se preparava para a luta, confiante na vitria de seus representantes. Num comcio realizado na Avenida Sete de Setembro, no centro de franco da Rocha, os candidatos caieirenses foram aplaudidos por um contingente de aproximadamente 3 mil pessoas. Parecia que havia possibilidade real de vitria. O povo de Franco da Rocha deu naquela noite uma demonstrao de civismo, aplaudindo os candidatos mesmo que por uma questo de simpatia.
Mas era pblico e notrio que o bairrismo imperava, razo pela qual os candidatos caieirenses perderam a eleio por uma margem razovel de votos para o candidato “Zezinho”. Apesar do resultado geral negativo, os candidatos de Caieiras tinham obtido cerca de 80% da escolha de eleitores de sua prpria cidade.
Logo aps a eleio, o prefeito eleito conversou com um dos candidatos derrotados, Marclio Dias de Moraes, num encontro ocorrido na sede do Clube Expedicionrios, ento localizado em frente a Fbrica de Linhas Centaurus, hoje Avenida dos Expedicionrios. Na oportunidade, Zezinho pediu que os ex-candidatos do subdistrito no ficassem aborrecidos por terem perdido a eleio. “O que pretenderem para Caieiras, eu, como prefeito, tudo farei por vocs”, citou o prefeito eleito.
Mesmo sem esperar, Zezinho recebeu sem nenhum constrangimento a reivindicao: Caieiras desejava sua emancipao poltico-istrativa. A resposta do prefeito foi clara e sucinta: “Somente peo que no iniciem qualquer movimento nesse sentido pelo menos antes do meado do meu mandato; se iniciarem aps esse perodo, ou mesmo prximo do fim, prometo que, alm de no colocar obstculos, serei tambm um colaborador, reconheo todo o mrito daquele povo e, acima de tudo, o direito que assiste”.
Aquelas foram, sem dvida, as primeiras palavras sobre a emancipao poltica e istrativa de Caieiras, sadas do prprio prefeito recm eleito de Franco da Rocha.
Nomeao e queda do subprefeito
O prefeito Jos Alves Ferreira Filho, alm de cavalheiro, era tambm um homem de palavra. Da mesma forma como houvera dito, o movimento de emancipao de Caieiras se iniciou realmente no fim de seu mandato. Um de seus primeiros atos foi o da instalao da Subprefeitura de Caieiras, levando um de seus ex-adversrios para o cargo de subprefeito: o senhor Gino Drtora.
Na ata da sesso de posse de Gino, consta a data e o endereo do grande evento: 4 de fevereiro de 1956, no edifcio onde funcionava a Subprefeitura do Distrito de Caieiras, Rua Criscima, 139, s 17h45. Gino Drtora havia sido “nomeado conforme portaria n 17, de 2 de fevereiro de 1956”. Aps a leitura do termo de compromisso por Cevero de Oliveira Moraes, chefe da Seleo do Expediente e do Pessoal, o documento foi assinado pelo novo subprefeito e pelo chefe do Executivo de Franco da Rocha. Este justificou o nome escolhido para ocupar o posto dizendo que “apesar de haver inmeros candidatos livres de questes polticas, sua conscincia determinou que Gino Drtora fosse nomeado subprefeito de Caieiras”.
Salientou tambm que estava fazendo uma “poltica sadia, pois o povo de Caieiras queria Gino no para subprefeito, mas sim para prefeito de Franco da Rocha”. Sua lamentao ficou por conta da ausncia das autoridades, especialmente do Poder Legislativo, na homenagem ao novo subdistrito.
Em seu primeiro discurso, j empossado no cargo, Gino proclamou: “Aceito este cargo no porque quero um cargo, mas porque quero cooperar com o municpio”. Disse tambm que a renda do distrito seria aplicada exclusivamente em sua prpria jurisdio e agradeceu a confiana depositada nele pelo Poder Executivo francorrochense, que estaria tendo nas mos de Jos Alves “melhores destinos”.
Facultada a palavra, falaram os senhores Joaquim Cerca, Marclio Dias de Moraes e Antnio Siqueira Branco, este como representante da Companhia Melhoramentos de So Paulo.
O prefeito municipal encerrou os trabalhos, agradeceu a presena de todos os que compareceram para homenagear Gino Drtora e determinou que a ata fosse lavrada.
Porm, Gino Drtora no ficou muito tempo como subprefeito. Houve desentendimento com o prefeito de Franco da Rocha e acabou sendo exonerado do cargo.
O motivo da discrdia pode ser explicado. Naquela poca, o fornecimento de energia eltrica para Caieiras e Franco da Rocha era feito por meio de geradores instalados no Bairro de Pouso Alegre. Havia um fator muito complicador, pois a potncia total dos geradores no comportava a demanda de duas cidades ao mesmo tempo. Por isso, era necessrio fazer a ligao para Franco da Rocha e Caieiras alternadamente. Ocorre que o subprefeito de Caieiras, Gino Drtora, foi at a casa de mquinas e ordenou a ligao dos geradores para o lado caieirense, deixando a cidade de Franco da Rocha s escuras.
O prefeito Zezinho no gostou da atitude do subprefeito Gino e, conseqentemente, exonerou-o do cargo. Em substituio, nomeou Jos Pereira dos Santos, que seria o ltimo subprefeito de Caieiras. Foi um caso puramente istrativo, sem nenhuma interferncia poltica. Por essas alturas, j no mais havia por parte de Gino interesse pelo cargo, vez que suas atitudes e preocupaes estavam voltadas para a emancipao poltica e istrativa de Caieiras. Seu desligamento do cargo, mais cedo ou mais tarde, haveria de acontecer.
O povo toma a iniciativa
A verba destinada pela Prefeitura de Franco da Rocha Subprefeitura de Caieiras era da ordem de Cr$ 5 mil, o que no dava sequer para tapar os buracos formados pela eroso e muito menos para patrulhar as ruas e as estradas do Subdistrito de Caieiras.
Nessa poca, Caieiras contribua para a sede com uma arrecadao muito boa, devido principalmente tributao da Companhia Melhoramentos de So Paulo. Mas a expanso demogrfica do municpio aumentava vertiginosamente e os gastos demandados da receita cresciam na mesma proporo. Logicamente, o prefeito francorrochense no poderia fazer milagres.
A situao financeira de Caieiras tornou-se to precria que a prefeitura no tinha sequer de contratar um engenheiro para assumir a responsabilidade tcnica das obras da istrao Municipal. O salrio legal do profissional dessa categoria era cerca de dez salrios mnimos vigentes no perodo. Para preencher aquela lacuna, o prefeito de Franco da Rocha, Jos Alves Ferreira Filho, contratou os servios de Marclio Dias de Moraes, projetista e arquiteto, para trabalhar como tcnico de obras daquela prefeitura.
Para cooperar com o prefeito na soluo do problema, Marclio aceitou a condio de receber apenas um salrio mnimo, avaliado ento em Cr$ 7,00 mensais. Ele deveria despachar os documentos e fazer as vistorias mais urgentes aos sbados e domingos, j que era tambm funcionrio efetivo da So Paulo Light Servios de Eletricidade, hoje Eletropaulo. Assim sendo, ele trabalhou para a Prefeitura de Franco da Rocha at o final da gesto do prefeito Jos Alves Ferreira Filho e no comeo do mandato de seu sucessor, Pedro Llis, quando foi substitudo por Armando Misson. Este continuaria funcionrio da prefeitura at sua aposentadoria.
Com todas essas dificuldades, Caieiras, por meio de seu povo, comeou a sentir-se como uma “menina desprezada”, pois estava quase isolada da sede do municpio, cuja distncia era de aproximadamente 5 quilmetros, num trecho cortado por terras pertencentes ao Estado e onde estava localizado o Hospital Psiquitrico.
Por outro lado, o Municpio de Franco da Rocha, dado os seus parcos recursos, no poderia oferecer nem para a sede do distrito os servios pblicos mais prementes, quanto menos para seus subdistritos. Por isso, em Caieiras, tudo era feito a partir da iniciativa privada, com seus clubes, escolas e bandas de msica, todas sendo entidades mantidas pela Companhia Melhoramentos, inclusive as professoras e o prprio padre capelo. A nica escola que havia fora das propriedades da Companhia era a Escola Mista de Criscima, mas mesmo esta funcionava num prdio particular, de propriedade de D. Terezinha Camargo Pinto.
No final dos anos 50, no obstante as ruas de Vila Criscima fossem despidas de calamento, eram bem conservadas. Dentro das cercanias do Hospital Psiquitrico de Franco da Rocha, havia grande quantidade de uma espcie de areia grossa, quase como pedrisco, diferindo apenas pela cor avermelhada. Por permisso do diretor daquele hospital, o material era extrado pela Prefeitura e colocado nas ruas da cidade. Depois de consolidada no terreno, essa areia se tornava como calamento, evitando a poeira ao mesmo tempo em que no se esvaa com a enxurrada. Mas o calamento propriamente dito no chegava.
O tempo se ou e o povo se cansou de ficar na expectativa de dias melhores. Eis que num dia do ms de fevereiro de 1956, reuniu-se um grupo de pessoas radicadas em Caieiras no salo de ento Cine Santo Antnio, localizado Rua Domingos do Carmo Leite, Bairro de Criscima, onde ou a funcionar mais tarde a Discoteca Rainbow. A finalidade do grupo era de fundar uma agremiao filantrpica do tipo sociedade amigos de bairro. A arrecadao da entidade seria destinada s obras de calamento de Vila Criscima.
As pessoas resolveram por bem que a dita sociedade que se pretendia fundar aria a denominar-se Comisso Pr-Melhoramentos de Caieiras, a qual futuramente seria a Comisso de Emancipao de Caieiras, pois todo o plano daria certo.
No mesmo dia da reunio, foi eleita por aclamao a primeira diretoria que provisoriamente comandaria os destinos daquela sociedade. Em seguida, tratou-se de preparar o estatuto, cujo objetivo era de arrecadar fundos para obras pblicas, tendo por princpio o incio do calamento de Criscima.
O povo de Caieiras era e continua sendo um povo extraordinrio em matria de cooperao e filantropia, principalmente quando se trata de um movimento visando o bem-estar da comunidade. Aps a primeira reunio da comisso, a notcia se espalhou de boca em boca, a ponto de que, dentro em pouco, toda a populao caieirense j se encontrasse inteirada daquele movimento e de suas metas.
aram a fazer parte do movimento os senhores Gino Drtora, Marclio Dias de Moraes, Olindo Drtora, Alpio Martinho, Joo de Abreu Jnior, Joo Pasin, Joaquim Cerca, Licnio Jarussi, Assis Crema, Ortzio Crema, Jos Carlos da Silva Jnior, Francisco Assis Fernandes, Jpiter Bueno, Sebastio de Paula, Joo Arajo, Sebastio Pereira de Arajo e Jorge Pereira de Arajo. Todos eram ilustres personalidades da histria da cidade.
Festas para arrecadar fundos
Programa de calouros
Entre as primeiras decises da nova diretoria da Comisso Pr-Melhoramentos de Caieiras, esteve a iniciativa de organizar um programa de calouros para arrecadar verbas. O show ocorreria s segundas-feiras, j que nesse dia no havia sesso cinematogrfica no salo do Cine Santo Antnio. Sendo assim, o proprietrio cedeu gratuitamente o salo para aquela finalidade.
O ingresso do show de calouros era irrisrio, de apenas Cr$ 5,00, e a arrecadao era destinada ao incio das obras de calamento de Criscima.
O calamento foi introduzido por quatro funcionrios municipais, entre os quais, o senhor Dionzio, que era especialista em assentamento de pedras. Dois canteiros trabalhavam na pedreira preparando as pedras em paraleleppedos, assentados por dois calceteiros. Conseguiu-se, assim, o calamento de um trecho da Rua Domingos do Carmo Leite, a comear da esquina com a Avenida 14 de Dezembro at a Rua Eugnio Berti. Aquele servio ficou como um marco inicial na histria do povo que, num esforo incomum, iniciava o calamento de sua cidade. Se no fosse interrompido por motivos polticos e interesses obscuros, o projeto teria continuado a ponto de talvez calar a cidade toda.
ando a funcionar semanalmente, o programa de calouros contou em primeiro lugar com colaborao efetiva do maestro Francisco Assis Fernandes, que se encarregou da parte musical do programa, ou seja, do acompanhamento de todos aqueles que se apresentavam para cantar, bem como dos ensaios e da preparao geral dos calouros. Assis reunia os calouros no salo do cinema todos os domingos de manh e l ava horas ensaiando as crianas e adultos para a apresentao.
O programa funcionou durante dois anos no salo daquele cinema e tornou-se to conhecido e freqentado, que no havia condies de se atender a todos os que chegavam para tomar parte entre os calouros. No havia interesse em ganhar prmios, mas apenas de desfrutar o prazer de participar e colaborar com aquela iniciativa.
Aparecia uma gama de artistas de todos os gneros, como cantores, declamadores, violeiros, catireiros, faquires, comedores de fogo, malabaristas, acordeonistas, solistas e acompanhadores, inclusive conjuntos famosos das rdios da Capital. Houve colaborao at do famoso apresentador e comentarista “Comendador Bigu”, da Rdio Tupi. Ele trouxe em sua companhia vrios conjuntos e duplas, como as Irms Galvo, Pininha e Serrazinha e um conhecidssimo cmico da TV Record, Saracura.
Alm dessas sesses das segundas noite, realizavam-se aos domingos tarde concertos e horas ltero-musicais. Nessas ocasies, pde-se contar com a cooperao de muitas personalidades do mundo musical e artstico de So Paulo, como o professor Matuzzi, concertista de violino, e seu amigo e tambm professor Marcelo Guaicurus, especialista em acompanhamento para concertos de violino e orquestra.
Numa dessas exibies, Caieiras teve a honra de receber a famosa professora de bal Araci Evans de Oliveira. Ela trouxe cidade 18 nmeros de bal, num programa elaborado com muito carinho. Fora as msicas populares, havia arranjos de cmera e grandes clssicos. As alunas de Araci ficaram encantadas com a viagem pitoresca que fizeram, como tambm com a hospitalidade do povo caieirense.
Cada menina participante, ao encerrar o espetculo sob os aplausos frenticos do pblico, recebeu uma medalha gravada como lembrana daquele acontecimento. A professora Araci Evans foi presenteada com uma corbelha de rosas. Para o encerramento da festa, a professora escolheu um nmero especial, com uma coreografia de sua autoria. Para execut-la, foi chamada uma de suas alunas prestes a se formar, Maria de Lourdes Camargo, que danou a msica intitulada “Mercado Persa”.
Concurso de beleza
Realizou-se na mesma poca, tambm no Cine Santo Antnio, um concurso de beleza entre as moas de Caieiras. Desse certame, sagrou-se vencedora Cida Natalina de Abreu, com o ttulo de rainha. Como princesa, ficaram as senhoritas Diva Bugnotti e Neuza Siqueira. O concurso foi patrocinado pela clnica do Dr. Hermann Bello. Alm de cobrir todas as despesas da festa, o proprietrio da clnica ofereceu lindos presentes s moas eleitas.
Foi nessa festa que Caieiras recebeu a visita da secretria do Comit Metropolitano do Partido Socialista Brasileiro, D. Eliza Romero Castilho, a convite do professor Alpio Correa Neto, presidente do partido. Nesse partido, chegou a ter livre trnsito at aquele que seria o futuro presidente da Repblica, Jnio da Silva Quadros, sem contar o lder Rog Ferreira. Usando a palavra, D. Eliza proferiu um belo discurso enaltecendo o povo de Caieiras e parabenizando as moas eleitas.
O fim da participao popular
Lamentavelmente, aquela festa de coroao das meninas caieirenses foi a despedida daquele programa de calouros e, por conseqncia, daquele movimento to bonito, que congregava toda a famlia caieirense num ambiente de paz, harmonia e cordialidade. Lutava-se para um objetivo nobre, que era de formar ali o movimento de emancipao de Caieiras, o que no ocorreria por aqueles meios.
Daquele tempo em diante, o movimento de emancipao j se amadurecia. Surgiam os interesses polticos e daquele antigo movimento, que contava com muita gente, separou-se um grupo ecltico, que ou a selecionar os elementos que deveriam fazer parte do processo de emancipao.
Um elemento desse grupo selecionado associou-se ao dono do Cine Santo Antnio com uma nica condio, ou seja, de proibir a realizao do programa de calouros e dos demais eventos. Certa noite encontrava-se a comisso reunida numa das dependncias da Panificadora So Joo, de propriedade de Joo de Abreu Jnior. Apareceu no local o proprietrio do cinema, Osvaldo de Lima. Para a surpresa de todos, ele declarou: “Infelizmente no posso mais permitir o funcionamento do programa de calouros em meu cinema, pois agora tenho um scio e este proibiu terminantemente o uso do cinema para qualquer outra finalidade”.
Dessa forma, foi entregue aquele salo aos seus proprietrios, com todos os aparatos com os quais funcionava o programa de calouros: um palco construdo pelo povo em madeira de lei, um aparelho amplificador de som, um microfone com pedestal e um alto-falante tipo corneta. Esses aparelhos acabaram por desaparecer, sem que ningum prestasse conta ou algum viesse a reclamar.
Mas aqueles antigos participantes, embora expurgados do grupo privilegiado e jogado ao ostracismo, continuaram trabalhando pela emancipao, visto ser este o sonho de todos, sem exceo. O grupo privilegiado tomou para si a honra de serem seus elementos us nicos emancipadores de Caieiras.
Oposio fictcia
O grupo de caieirenses escolhidos criou ento uma oposio fictcia, que jamais existiu na prtica. Se existisse, poderia ser somente por parte da Prefeitura de Franco da Rocha, ou ento, pela Companhia Melhoramentos, e nunca por parte do povo unido pela realizao do sonho de ter seu municpio independente.
A Companhia Melhoramentos, representada na pessoa de seu diretor istrativo, Dr. Mrio de Toledo Moraes, fez questo de esclarecer publicamente a sua posio quanto emancipao de Caieiras, que poderia estar prestes a se realizar. Para isso, pediu a Jos Pereira dos Santos, ento subprefeito de Caieiras, que convocasse o povo para uma reunio, na qual a empresa faria publicamente seu manifesto.
O subprefeito promoveu a reunio para todas as pessoas interessadas em ouvir o manifesto da Melhoramentos por meio de Mrio Toledo de Moraes. Compareceram aproximadamente 60 pessoas. Dr. Mrio explicou em detalhes que a Companhia pagava impostos em trs municpios, So Paulo, Franco da Rocha e Santana de Parnaba. No haveria, portanto, nenhum constrangimento ou alterao quanto ao pagamento de seus tributos diante de uma emancipao caieirense. A diferena seria que, em vez de pagar seus impostos Prefeitura de Franco da Rocha, aria a pag-los ao novo municpio. No encerramento do discurso, Dr. Mrio desejou a todos pleno xito na campanha e disse que estava aguardando para brevemente poder festejar a vitria com a populao.
J a Prefeitura de Franco da Rocha cumpriu a palavra de no interveno quanto aos movimentos populares caieirenses. O prefeito daquela cidade, Jos Alves Ferreira Filho, que chegava a essas alturas ao final de sua gesto, acompanhou paulatinamente todos os acontecimentos com absoluta serenidade, prestigiando com sua presena todas as solenidades. Cumpriu, assim, o que tinha prometido no incio de seu mandato, ou seja, dar ao povo de Caieiras o que lhe era de direito: a liberdade sem obstculos por parte da prefeitura sua emancipao.
Para no dizer que no houve nenhum protesto por parte de quem quer que seja, ocorreu apenas uma ao popular movida em nome de Nelson Escolfaro, que tentou impedir junto Assemblia Legislativa do Estado de So Paulo a realizao do plebiscito pela emancipao. Houve nesse caso a anuncia do prefeito de Franco da Rocha, numa atitude que se justifica plenamente pela circunstncia do cargo que exercia.
Enfim, tudo se ou. Hoje, Franco da Rocha se orgulha da supremacia de ser detentora da sede da comarca. Com o ttulo de “Cidade Ternura”, ela vive como a me extremosa com dois filhos queridos. De um lado, est Francisco Morato, que representou um “menino travesso” com seu famoso prefeito extrovertido, Cassiano Gonalves os. Embora fosse cassado duas vezes pela Cmara Municipal de Morato, marcou sua atuao como o “homem de ao”. De outro, est Caieiras, a “Cidade dos Pinheirais”, sem dvida alguma, a “menina moa” da Comarca de Franco da Rocha. Ela continuou cultuando suas tradies numa atmosfera tranqila.
O plebiscito da emancipao
A Comisso Pr-Emancipao de Caieiras enviou Assemblia Legislativa a solicitao oficial para que a populao local fosse submetida a um plebiscito que decidiria sobre a criao do Municpio de Caieiras.
Tomando conhecimento da representao que lhe fora dirigida, a Comisso de Diviso istrativa e Judiciria da Assemblia Legislativa deliberou aprov-la, ordenando que o plebiscito fosse levado a efeito. Coube, assim, ao Tribunal Eleitoral designar o dia para a realizao da consulta populao. Segue abaixo uma adaptao sucinta do parecer assinado por parlamentares como o deputado Francisco (“Chiquito”) Franco, que tanto intercedeu pela emancipao de Caieiras, e o ento futuro senador, governador do Estado e deputado federal Andr Franco Montoro.
Parecer n 2.056, de 1958, na Comisso de Diviso istrativa e Judiciria, sobre o processo n RG 0999, de 1958
Examinando todos os elementos do processo referente ao pedido de elevao do Distrito de Caieiras categoria de municpio, verifica-se que a representao deu entrada na Assemblia Legislativa dentro do prazo legal e que, alm disso, preenche os demais requisitos legais.
O presidente caso trata de uma jurisdio istrativa que apresenta um ndice de populao e uma rede superiores respectivamente a 8 mil habitantes e a Cr$ 1 milho. Assim sendo, j est dispensada de continuar sendo distrito ou subdistrito, j que sua populao de 8.520 habitantes e sua renda arrecadada em 1957 foi de Cr$ 1.506.410,50.
No deve ser levado em considerao o protesto enviado em ofcio pelo prefeito de Fraco da Rocha contra a elevao do distrito em exame categoria de municpio. O Distrito de Caieiras atende s normas da Lei Orgnica dos Municpios.
Somos de parece que a Assemblia Legislativa deve mandar proceder o plebiscito solicitado no presente processo. Fica para posterior aprovao no plenrio o seguinte:
Projeto de Resoluo de 1958
A Assemblia Legislativa do Estado de So Paulo resolve:
Art. 1 - Fica determinada(...) a realizao do plebiscito de consulta populao do territrio compreendido pelas atuais divisas do Distrito de Caieiras, Municpio de Franco da Rocha, Comarca da Capital,que se pretende seja elevada a municpio.
Art. 2 - Esta resoluo entrar em vigor na data de sua aprovao.
Sala da Comisso, outubro de 1958.
Francisco Franco
Lenidas Camarinha
Scalamandre Sobrinho
Condeixa Filho
Geraldo P. de Barros
Hilrio Torloni
Germinal Feij
Joo Mendona Falco
Andr Franco Montoro
Aprovado o parecer em reunio de 22 de outubro de 1958
40 votos contrrios
Realizado o plebiscito, houve realmente entre os eleitores de Caieiras 40 votos contrrios elevao do subdistrito a municpio de Caieiras. Mas o fato pode ser explicado por alguns fatores. Havia algumas pessoas que, embora inscritas no quadro de eleitores de Caieiras, viviam em Franco da Rocha, onde residiam e tinham suas atividades, fossem no Hospital Psiquitrico ou no comrcio. Logo, a interao ambiental poderia se tornar um fator preponderante na opinio das pessoas. Por isso, nem sequer acreditaram na possibilidade da conquista da emancipao. Outro fator que contribuiu foi existncia de pessoas que no residiam mais em Caieiras, comparecendo somente no dia da eleio. Estavam completamente fora da realidade e tambm no acreditaram na emancipao.
O plebiscito teve o seguinte resultado:
Total de votos: 968
A favor emancipao: 926
Contra a emancipao: 040
Nulo: 001
Branco: 001
Mas nada desses nmeros importa tanto, mas sim, o fato de Caieiras ter sido emancipada. Era a alegria e a felicidade de todos os caieirenses.
A luta pela emancipao poltico-istrativa de Caieiras foi talvez o movimento mais marcante da histria poltica da cidade. As pessoas que presenciaram aquela batalha poltica e burocrtica jamais se esquecero de grande conquista de 1958.
Reunies sucessivas, discordncias ideolgicas e principalmente o desejo de tornar a cidade livre marcavam aquele perodo nas discusses promovidas em restaurantes e ambientes polticos em geral. Foi uma batalha que exigiu grandes esforos por parte de um grupo de lderes.
Entre esses caieirenses ilustres, esteve Dr. Olindo Drtora. Antes de sua participao ativa em prol da emancipao do municpio, elegeu-se vereador j na primeira gesto legislativa de Caieiras. Foi naquela ocasio o parlamentar mais votado da cidade. Pouco depois de abandonar a poltica, Olindo faleceu, deixando um legado de perseverana aos futuros cidados da Caieiras emancipada.
Outra personalidade que se destacou no movimento pela independncia de Caieiras foi Dr. Jorge Pereira de Arajo. Antes da emancipao, ele j havia participado da campanha eleitoral de Gino Drtora Prefeitura de Franco da Rocha. Atuou mais tarde na Comisso Pr-Melhoramentos de Caieiras, transformada em Comisso Pr-Emancipao, da qual foi secretrio. Disputou a primeira eleio de vereadores da cidade e ficou como segundo suplente, vindo a exercer o cargo de 1960 a 1963. Candidatou-se a prefeito nas eleies de 1976 e 1982 e voltou Cmara dos Vereadores aps o pleito de 1992.
Histria Contempornea
Da primeira legislatura a 1994
1960 a 1963
Prefeito: Gino Drtora.
Vice-prefeito: Milton Ferreira Neves
Presidentes da Cmara: Jos Carlos da Silva Jnior (1960 a 1962); Antnio Molinari (1963)
Vereadores: Alcides Ferracini, Alfredo Casarotto, Amrico Massinelli, Antnio Molinari, Joo Henrique de Macedo, Jos Carlos da Silva Jnior, Luiz Lopes Lansac, Olindo Drtora e Teldoro Gonalves Machado.
Suplentes que assumiram a vereana: Assis Crema, Guilmar G. Nunes, Joo Menegatti, Pedro Massaia e Jorge Pereira de Arajo.
Essa istrao, sendo a primeira a reger os destinos de Caieiras, teve grandes dificuldades no desempenho de suas funes. Nada estava estruturado. Tudo estava por fazer, desde a organizao do quadro de funcionrios e a gesto do oramento de acordo com a fonte arrecadadora, at as poucas obras pblicas que foram possveis de executar. Faltavam recursos prefeitura recm-nascida.
Mesmo assim, as poucas obras que conseguiram ser concretizadas deram a Caieiras um novo aspecto, ou seja, de uma cidade propriamente dita, na qual podia-se ver hasteada na fachada da prefeitura sua prpria bandeira, ao lado do Pavilho Nacional. Dava-se, dessa forma, motivo de orgulho ao povo caieirense.
O primeiro prefeito chamou para seus auxiliares istrativos os senhores dio Barsotti e Donald Savazoni, alm de Benedito Rodrigues, o “Guta”, e Antnio Gaspar, este para atuar na parte tcnica. Aps essa gesto. Eles continuaram como assessores de prefeitos seguintes.
1964 a 1969
Prefeito: Jos Csar de Oliveira.
Vice-prefeito: Mlton Ferreira Neves
Presidentes da Cmara: Amrico Massinelli (1964); Jpiter Bueno da Silva (1965 a 1967); Joo Menegatti (1968 a 1969).
Vereadores: Antnio Molinari, Amrico Massinelli, Joo Henrique de Macedo Mendes, Joo Menegatti, Jpiter Bueno da Silva, Vanda Batista de Oliveira, Verque Jos Gonalves Leme, Vitrio Rossi e Waldemar Baboim.
Suplentes que assumiram a vereana: Assis Crema, Augusto Pereira, Ansio Bulgarelli e Zeferino Fabrega.
Essa legislatura seria de 1964 a 1967, mas foi prorrogada at janeiro de 1969. Como assessores, o prefeito teve os jovens dinmicos Donald Savazoni e dio Barsotti, bem como Benedito Rodrigues e Joo Fackri. Eles ocuparam cargos de destaque, como auxiliares diretos da istrao Municipal. Os trs vieram a falecer muito jovens, deixando, no entanto, um ado de glrias. Foram exemplos de dedicao e amor a Caieiras.
1969 a 1973
Prefeitos: Gino Drtora (01.02.69 a 16.10.69); Amrico Massinelli (17.10.69 a 28.11.70); Nelson Manzanares (28.11.70 a 31.01.73).
Vice-prefeitos: Antnio Furlaneto (01.02.69 a 19.11.70); Verque Gonalves Leme (28.11.70 a 31.01.73).
Presidentes da Cmara: Nelson Manzanares (1969); Amrico Massinelli (1969); Joo Henrique de Macedo Mendes (1969 a 1970); Drcio Pasin (1970 a 1971) e Amrico Massinelli (1971 a 1973).
Vereadores: Amrico Massinelli, Armando Pastro, Drcio Pasin, Joo Henrique de Macedo Mendes, Luiz Gonzaga Drtora e Luiz Verque Gonalves Leme.
Suplentes que assumiram a vereana: Antnio Molinari, Assis Crema, Benedito Lopes de Campos, Sebastio Pereira de Arajo, Valdemar Pedro Parizotto e Waldemar Baboim.
Gino Drtora atuou como prefeito entre fevereiro e outubro de 1969, quando foi afastado do cargo pela Cmara Municipal de Caieiras. Assumiu o cargo vago o ento presidente da Cmara, Amrico Massinelli, que completou o mandato tampo em novembro de 1970.
Em eleio suplementar, foi eleito para prefeito Dr. Nelson Manzanares, que teve como vice Verque Gonalves Leme. Nesse perodo, foi construdo o Centro Esportivo Municipal de Caieiras e se iniciou o plano de industrializao.
1973 a 1977
Prefeito: Jos Csar de Oliveira
Vice-prefeito: Lorides Del Porto.
Presidentes da Cmara: Drcio Pasin (1973 a 1975); Pedro Srgio Graf Nunes (1975); Mauri Gabrielli (1976).
Vereadores: Afdquia Chaib Ferreira Neves, Antnio Romero Polon, Benedito Lopes de Camargo, Drcio Pasin, Esther Pinto Polkorny, Joo Menegatti, Mrio Della Torre, Mauri Gabrielli, Pedro Srgio Graf Nunes, Savrio Agostinelli e Verque Gonalves Leme.
Esses anos foram de grande progresso para a cidade, pois j se encontrava pronta toda a infra-estrutura para a concretizao do Parque Manufatureiro de Caieiras, bem como os loteamentos especficos para esse fim: a Vila Industrial de Vera Tereza e o Parque Araucria, localizado s margens da ex-Estrada Velha de Campinas, no trecho entre Perus e Caieiras.
Houve tambm a reestruturao dos principais rgos estaduais que tratam dos melhoramentos pblicos, como Cesp, Sabesp e Telesp, o que veio dar condies para o pleno desenvolvimento da industrializao caieirense.
1977 a 1982
Prefeitos: Gino Drtora (1977 a 1982); Luiz Lopes Lansac (1982).
Vice-prefeito: Luiz Lopes Lansac.
Presidentes da Cmara: Nvio Luiz Aranha Drtora (1977 a 1978 e de 1981 a 1982); Aparecido Correa de Campos e Savrio Agostinelli (1978); Carlos Gomes (1979 a 1980).
Vereadores: Aparecido Correa de Campos, Assis Crema, Benedito Lopes de Campos, Carlos Gomes, Drcio Pasin, Hugo Pereira da Silva, Joo Henrique de Macedo Mendes, Luiz Spigarollo, Mrio Della Torre, Nelson Manzanares, Nvio Luiz Aranha Drtora, Ruth de Carvalho Drtora e Savrio Agostinelli.
Suplentes: Joo Messias de Alvarenga, Antnio Alves de Jesus, Pedro Martins Ramos, Atade de Camargo, Romeu Govato, Antnio Romero Polon, Afdquia Chaib Ferreira Neves, Mauri Gabrielli e Joo Menegatti.
Essa gesto foi pontilhada de muitos acontecimentos polticos, incluindo controvrsias entre a Cmara Municipal e a Prefeitura, especialmente no tocante s obras de vulto do Executivo, cujo mrito no cabe nesta obra discutir.
Entre tantas iniciativas, existe uma que merece destaque: o projeto de construo de Vila Esperana. Embora seriamente criticada pela oposio, ela trouxe populao de baixa renda a oportunidade nica de adquirir sua casa prpria, sem sacrifcio do oramento domstico. Suas prestaes foram calculadas sobre o percentual do salrio recebido pelo comprador. Basta dizer que uma modesta funcionria da prefeitura, com seu minguado salrio de merendeira, conseguiu adquirir sua casa prpria sem faltar o po de cada dia de seus filhos.
1983 a 1988
Prefeito: Nelson Fiore.
Vice-prefeito: Fausto da Silva Jnior.
Presidentes da Cmara: Assis Crema (1983 a 1984); Mlton Valbuza Silveira (1985 a 1986); Nvio Luiz Aranha Drtora (1987 a 1988).
Vereadores: Afdquia Chaib Ferreira Neves, Aparecido Correa de Campos, Antnio Romero Polon, Assis Crema, Daniel Donha Fernandes, Edson Martins, Joo Henrique de Macedo Mendes, Jos Lira Guedes, Mlton Valbuza Silveira, Nelson Urtado, Nvio Luiz Aranha Drtora, Pedro Srgio Graf Nunes e Vanda Matiazzo.
Suplentes: Antnio Molinari e Valdemar Pedro Parizotto.
Esse mandato foi de relativa tranqilidade. essa altura, no incio dos anos 80, Caieiras j se encontrava com as solues para todos os problemas de bases consolidadas, com uma infra-estrutura capaz de dar a seu parque manufatureiro todas as condies de funcionamento, como abastecimento de gua abundante, energia eltrica e iseno de certos tributos para novas empresas. Chegara-se consolidao estrutural e seu efetivo funcionamento.
No entanto, registraram-se problemas de ordem financeira, que recaram principalmente no incio da istrao do prefeito seguinte.
1989 a 1992
Prefeito: Dr. Mlton Ferreira Neves.
Vice-prefeito: Edson Navarro.
Presidentes da Cmara: Aparecido Correa de Campos (1989); Nelson Urtado (1990), Afdquia Chaib Ferreira (1991); Antnio Romero Polon (1992)
Vereadores: Aparecido Correa de Campos, talo Agostinelli Neto, Ilma dos Santos Batista, Nelson Urtado, Afdquia Chaib Ferreira Neves, Antnio Romero Polon, Benedito Pereira Pio, Jos Soares, Manoel Sales da Silva, Maria Jos de Mello Manzanares, Mlton Valbuza Silveira, Nvio Luiz Aranha Drtora, Osmarino de Oliveira e Silva, Srgio Eduardo Menegatti e Valdemar Pedro Parizotto.
A stima istrao encontrou na Prefeitura de Caieiras um verdadeiro caos, com cofres vazios, dvidas altssimas e atraso no pagamento dos funcionrios. Mesmo assim, o povo de Caieiras sempre tem confiana nos eleitos. Dado seu amadurecimento poltico, soube escolher para ocuparem os respectivos cargos pessoas honestas, sinceras, conhecedoras das necessidades do municpio, bem como dos principais problemas istrativos. Assumiu as finanas do Municpio o Vice-Prefeito Edson Navarro, Economista, e em menos de um ano as finanas estavam em ordem e a Prefeitura realizando obras.Todos estavam imbudos de um desejo de dar a Caieiras o franco progresso em todos os setores de atividade.
1993 a 1996 *
Prefeito: Nvio Luiz Aranha Drtora.
Vice-prefeito: Pedro Srgio Graf Nunes
Presidentes da Cmara: Jos Soares (1993); Nelson Urtado (1994); Jorge Pereira de Arajo (1995).
Vereadores: Afdquia Chaib Ferreira Neves, Antnio Romero Polon, Daniel Marcolino da Cruz, Jesuto Guedes dos Santos, Jorge Pereira de Arajo, Jos Soares, Jos Vicente Filho, Maria Jos de Mello Manzanares, Marli Roma Agostinelli, Nelson Urtado e Paulo do Carmo Monteiro.
* trmino previsto
Sem demrito a todos os prefeitos que aram pela istrao de Caieiras, o jovem prefeito Nvio Luiz Aranha Drtora merece ateno especial. Ele deixa seu nome gravado na galeria de prefeitos para os quais esta obra deposita um pleito de gratido e saudade.
De antemo, cabem as homenagens do povo de Caieiras aos feitos de Nvio, como jovem dinmico e trabalhador na soluo dos problemas do municpio. Ele no deu apenas continuidade s obras iniciadas por outros prefeitos, como tambm as aprimorou, tendo sempre sua ateno voltada para o bem-estar do povo.
A promoo de atividades culturais e esportivas j marcou honrosamente seu governo. Os Jogos Regionais, evento que reuniu em 1994, atletas e espectadores de mais de 30 cidades do interior paulista, entraram para a histria como um dos principais acontecimentos festivo da dcada na regio. Cada bairro ganha um ginsio de esportes, equipado para vrias modalidades.
Alm do incentivo cultura, ao esporte e ao lazer, seu governo tem como prioridade soluo da casa prpria. Moradias j foram entregues e outras tantas j esto a caminho da populao carente.
Na gesto do prefeito Nvio Drtora, muitas obras pblicas foram empreendidas, como a construo do novo Velrio Municipal e do Galpo do Produtor Rural. As ruas da cidade receberam cerca de 350 mil metros quadrados de asfalto. Foi viabilizada a canalizao do Crrego Criscima e do o s ruas Santa Rita, So Joo, So Pedro e Presidente Kennedy. No setor de transporte pblico, a estao rodoviria entrou em processo de total reestruturao.
Na rea educacional, sua istrao priorizou a construo do prdio da primeira faculdade da regio. Novos estabelecimentos das Escolas Municipais de Educao Maternal e Infantil (Ememis) foram colocados disposio da populao. Foi inaugurado mais um posto mdico no Bairro do Serpa, mais especificamente no Jardim dos Eucaliptos. O Pronto Socorro Central, que se tornou um mini-hospital, ou a operar 24 horas por dia e ganhou leitos, novos equipamentos e servio de parto.
Nos esportes, o apoio foi grande, com a inaugurao do Ginsio de Esportes Ivan Carlos e de uma piscina aquecida no Centro Esportivo Municipal (CEM), alm de outra piscina comum no Bairro do Serpa. Novos centros esportivos foram erguidos para as comunidades de Vila Rosina e do Jardim Nova Era. Caieiras foi a primeira cidade do Estado a ganhar uma pista de atletismo. Investimentos foram destinados ao Parque Industrial. O Bairro de Laranjeiras, pelas suas dimenses, ganhou um prdio para sediar sua Regional.
com justo orgulho que registramos seus feitos na histria da “Cidade dos Pinheirais” e de seu povo.
A vida presente
Caieiras pode se orgulhar hoje de ocupar o segundo lugar entre os municpios que compem a Grande So Paulo em servios sociais, como calamento, gua e esgoto.
Conta com seu parque manufatureiro, composto de mais de 60 indstrias de porte. Entre elas, est uma das pioneiras da fabricao de papel no Brasil, a Companhia Melhoramentos de So Paulo, cuja histria se encontra descrita em vrios dos captulos desta obra.
O comrcio de Caieiras, embora no seja o mais expressivo da regio, contava j em 1988 com 310 estabelecimentos.
Quanto ao desenvolvimento cultural, a cidade possui escolas estaduais, municipais e particulares. E uma faculdade que se avista no horizonte...
Apesar do muito que ainda tem por ser feito, o povo caieirense tem tudo para ser feliz, principalmente porque, desde os primrdios tempos, vive em paz, harmonia e cordialidade.
A cidade tem aspecto alegre, clima ameno. Alm do centro comercial e das fbricas, aldeias esto incrustadas no meio da vasta floresta de luxuriante vegetao, composta de pinus de vrias espcies: araucria, heliot, confera etc. Essas plantas servem de reflorestamento permanente da Companhia Melhoramentos e ocupam uma rea aproximada de 4 mil alqueires paulistas.
O lazer do povo de Caieiras consiste das tradicionais festas esportivas, como jogos de futebol, voleibol, basquetebol e natao. Conta tambm com bailes, desfiles e concurso de fanfarra. Alm dessas diverses, saem de Caieiras excurses programadas para os demais Estados do Pas.
Indstria e Comrcio
O parque industrial
A anlise do atual panorama industrial e comercial de Caieiras no permite a publicao de estudos detalhados, motivo pelo qual esta obra no tem condies de listar todos os estabelecimentos ligados a esses setores. Esse assunto mereceria at uma publicao parte, dada a sua abrangncia, importncia e mincia de tratamento de todos os fatores inter-relacionados.
De qualquer forma, a atividade industrial na cidade sempre foi promissora, haja vista o seu prprio nascimento, ocorrido a partir da instalao de uma indstria que se tornaria uma das pioneiras da fabricao de papel no Pas, a Companhia Melhoramentos de So Paulo. A cidade j chegou at a sediar feiras industriais nos anos 70, com a participao de grandes empresas do Brasil.
Dados divulgados pela istrao Municipal em fevereiro de 1988 apontavam a existncia de 64 empresas no ramo produtivo, oferecendo empregos para habitantes no s de Caieiras, mas de toda a regio. A disposio desse parque industrial no se encontrava mais concentrada num nico ponto do municpio. Ao contrrio, os estabelecimentos estavam distribudos desde a regio central at os bairros mais perifricos.
As indstrias instaladas na cidade, sendo pequenas, mdias ou grandes, so dos mais variados setores: plstico, mecnico, metalrgico, qumico, papeleiro, agrcola, txtil, alimentcio, construo civil etc. Entre elas, estavam nessa lista de 1988 a Almeida Equipamentos Rodovirios Ltda., a Arseme Indstria Metalrgica Ltda., Companhia Melhoramentos de So Paulo, Dresser do Brasil Ltda., MD Nicolaus – Indstria de Papis Ltda., Polyplastic S/A Indstria e Comrcio, Primcia S/A Indstria e Comrcio, Telexpel Papis para Teleinformtica Ltda. e outras.
Na dcada de 90, algumas indstrias da cidade j se lanam rumo modernizao que o prprio mercado e a concorrncia nacional e internacional impem. H estabelecimentos, como a Melbar Produtos de Lignina Ltda., que j vm adotando mecanismos de ajuste da empresa a normas como a ISSO 9.000, o fundamental para a melhor operacionalizao e sobrevivncia das indstrias do sculo 21.
As iniciativas comerciais
Apesar de ser conhecido do pblico o fato de Caieiras no possuir uma forte infra-estrutura comercial, nem sequer um mercado consumidor grande e diversificado, os nmeros a respeito sempre surpreenderam. A exemplo do setor industrial, o comrcio caieirense no est retratado por dados precisos e atuais. H de se basear em estatsticas antigas, que apesar da perda da utilidade prtica, no esto desprovidas de interesse histrico.
Relatrio fornecido pela Prefeitura de Caieiras em fevereiro de 1988 enumerava 310 estabelecimentos comerciais na cidade, uma mdia de quase uma loja para 100 habitantes. Os setores envolvidos eram os mais distintos possveis: alimentcio, artesanal, construo civil, mecnico, cultural e muitos outros. A maior parte deles era de pequeno porte.
Como no setor industrial, os estabelecimentos de comrcio j se encontravam nessa poca distribudos ao longo de todos os bairros. Cabe salientar que muitos deles j no existem, mas marcaram presena no desenvolvimento comercial do municpio, sendo substitudo por outros nos anos seguintes.
A Associao Comercial e Industrial de Caieiras (Acisc), fundada com o empenho do advogado Marclio Dias de Moraes, hoje afastado da entidade, pode prestar mais informaes sobre a indstria e o comrcio de Caieiras nos anos 90. A publicao de um catlogo co todos os estabelecimentos criados nesses ramos e que ainda funcionam na cidade seria de grande serventia.
Reportagens publicadas nos jornais regionais mostram a inteno da Prefeitura de Caieiras, na istrao de Nvio Luiz Aranha Drtora, de ceder o espao para a construo do primeiro centro de compras da cidade, um shopping center, que ficaria ao lado da velha Estao Ferroviria do municpio. Poderia ser uma forma de intensificar as relaes comerciais num mercado em condies de crescer. Os prximos anos sero decisivos nesse progresso.
O comerciante Firmiano Pacheco, cuja biografia est tratada no captulo Personalidades, representa o progresso do comrcio da cidade.
Transportes
Dos barcos ao primeiro automvel
O represamento do Rio Juqueri e os primrdios das ferrovias
Nos primrdios tempos da histria de Caieiras, ainda no final do sculo ado, o nico sistema de transporte prprio da regio era o fluvial. Uma pequena barragem foi construda no Rio Juqueri, ao lado da fbrica de papel da ento recm fundada Melhoramentos, visando a elevao do nvel das guas.
A obra pretendia possibilitar a movimentao de barcos de pequeno calado para o transporte pessoal e material da fbrica Estao de Caieiras. Esta j estava conectada ferrovia The So Paulo Railway Company Limited, chamado popularmente de “A Inglesa” (em referncia nacionalidade de seus idealizadores), desde 1883.
Mas antes de tratar propriamente da ferrovia, vale citar um fato ocorrido durante o perodo de construo da barragem do Rio Juqueri, to importante para a escoao da pequena produo da poca. O historiador Hernni Donato documentou em suas pesquisas sobre a centenria Companhia Melhoramentos um episdio ocorrido em 26 de maio de 1889, ano da Proclamao da Repblica do Brasil.
Um tcnico alemo que trabalhava na construo da barragem escreveu sua famlia uma carta relatando sua aventura. Segundo ele, o proprietrio das terras que ficavam alm do Rio Juqueri mandou “alguns negros armados (o Brasil tinha acabado com a escravatura apenas um ano antes) arrancar o dique”. Aps uma troca de tiros, os supostos invasores abandonaram a represa a voltaram em seguida, sendo novamente expulsos do local bala. A tenso fez com que fosse instalada uma comunidade trabalhadora para defender a barragem, o que originaria tambm o primeiro cemitrio das futuras terras caieirenses. Nele foram enterrados profissionais alemes vindos da cidade de Hamburgo, vtimas dos perigos selvagens da regio, como cobras e frutas venenosas.
A ferrovia que depois transformaria na Rede Ferroviria Federal S.A., agora controlada pelo Governo do Estado de So Paulo, mantinha na Estao de Caieiras a nica rea que no pertencia Companhia Melhoramentos em toda a redondeza. Partia dela um caminho mal conservado, que ava ainda pelas terras da Companhia, beirando algumas casas velhas, com destino a um terreno pertencente aos Carmo Leite. Dirigia-se em seguida ao Morro Grande, sempre atravessando as propriedades da empresa.
Com o ar do tempo, a Melhoramentos foi paulatinamente construindo outros meios de transporte. Em primeiro lugar, colocou em operao uma estrada de rodagem da Estao de Caieiras at a fbrica de papel. Depois, montou uma estrada de ferro interligando os bairros da Fbrica, Cermica, Monjolinho, Calcrea e Bom Sucesso, combinando, conseqentemente, com os horrios da “Inglesa”. Hoje, a ferrovia da Companhia est totalmente desativada e o transporte interno feito por meio de nibus e caminhes.
O surgimento dos trens de subrbio
Por volta de 1940, no havia trens de subrbio entre Caieiras e So Paulo. Existia apenas alguns trens da velha “The So Paulo Railway” que, em horrios muito esparsos, vindos de Barretos e Tup, interior do Estado, paravam na estao caieirense para serem abastecidos de gua e no necessariamente para apanhar ageiros.
Porm, naqueles horrios, alguns ageiros aproveitavam para tomar o trem a So Paulo, ocorrendo o mesmo na volta da Capital. Na poca, a cidade j possua moradores com residncias fixas, entre ao quais, o advogado Dr. Armando Pinto, que militava na Comarca de So Paulo, Rua So Bento, e o funcionrio da popular Rdio Record, Luiz Lopes Lansac. Eles necessitavam de uma conduo com intervalos de tempo regulares para atenderem o horrio comercial de So Paulo. Da a razo de um dia terem encabeado um abaixo-assinado enviado direo da estrada de ferro para que a mesma determinasse uma parada oficial de trem na Estao de Caieiras, j que o nmero de ageiros aumentava dia a dia.
O requerimento foi prontamente atendido pela diretoria, que estabeleceu que um trem da Companhia Paulista de Estrada de Ferro, que partia de Tup rumo a So Paulo e Santos, anexasse um vago a mais para atender os ageiros caieirenses que viajavam e voltavam de So Paulo diariamente. O vago anexado quela composio era do tipo misto, isto , metade de primeira classe e metade, de segunda.
A partir de ento, trabalhadores como Luiz Lopes Lansac poderiam chegar com maior tranqilidade em So Paulo. Lansac posteriormente seria funcionrio da TV Record, uma das primeiras emissoras de TV do Brasil. Hoje, ele se encontra aposentado de seu emprego naquela empresa, mas continua como um marco imperecvel atravs dos tempos, pois mora em Caieiras e participa, como pode, da vida poltica da cidade, como testemunha ocular dos fatos. Os trens da poca jamais se apagaro de sua memria.
Vages de luxo e conforto
A composio de ageiros dos trens da Companhia Paulista de Estrada de Ferro S.A era constituda de vages de ao sobre truques pesadssimos, que davam ao trem uma estabilidade toda prova, com uma sada macia e silenciosa, quase imperceptvel. Mesmo em alta velocidade, a trepidao era absorvida por molas especiais. E quanto ao rudo, ouvia-se apenas um pequeno chiado provocado pelo atrito das rodas sobre os trilhos.
Os bancos eram forrados com tecidos de palhinha de ndia, sendo seus encostos cobertos com capas de puro linho irlands. O carro restaurante continha iluminao especial e era provido de lustres de cristal da Bomia. O teto do vago tinha uma abboda com vidros coloridos em desenhos com junta metlica.
Os mveis eram de mogno envernizado, as mesas eram cobertas com toalhas de puro linho e adornadas com vasos de cristal que continham cravos vermelhos.
O carro “pullman”, que representava uma sala de visitas de alto luxo, alm dos requintes j descritos, era composto de mesas redondas para jogos e leitura, com poltronas giratrias forradas de couro legtimo.
A tripulao era composta de maquinista, foguista, cozinheiros, copeiros, garons, camareiros e guarda-trem. Este ltimo se encarregava de fiscalizar o comportamento dos ageiros e auxili-los em todo e qualquer caso de emergncia.
Enfim, quatro rodas
O primeiro automvel particular de Vila Criscima foi de propriedade do morador Amato Bugnotti. Era preto e tinha a chapa P-4328 fixada sob o farol dianteiro esquerdo.
Segurana Pblica
O subdistrito ganha uma delegacia
Durante a gesto de Aldo Savazoni na Prefeitura de Franco da Rocha (nos anos 40), pessoa que istrava, por conseqncia, toda a comarca daquela cidade, incluindo Caieiras, estava como titular da delegacia de polcia local o Dr. Antenor de Castro Llis.
Neste perodo, foi inaugurado uma subdelegacia de polcia de Caieiras, que funcionou num prdio cedido pela Companhia Melhoramentos a partir do dia 9 de julho de 1947.
O primeiro subdelegado de polcia de Caieiras foi Antnio Milano Neto, que teve como suplentes Elpdio Pereira da Silva e Porfrio Antnio da Silva.
Educao
Um sculo de aula
A primeira escola
Logo que foi formada a populao de Criscima, no incio dos anos 30, seus moradores manifestaram o desejo de construo de uma escola para suas crianas. Aquela justssima aspirao sofreu oposio oculta por algum tempo. Mas os obstculos foram superados.
Inicialmente, houve tentativa frustrada de se estabelecer uma escola no Morro Grande, o que no vingou por falta de freqncia do corpo discente, ainda muito pequeno, e por dificuldades da prpria professora. A escola seria ento transferida para Criscima.
Avisados de que as carteiras a serem utilizadas pelos estudantes precisavam ser conduzidas para o novo local, o advogado Dr. Armando Pinto emprestou o caminho do morador Antnio Baboim para transport-las ao pequeno prdio que se encontra at hoje ao lado da Estao Ferroviria de Caieiras. O local foi entregue ao ensino das crianas caieirenses pela sua proprietria, D. Terezinha Camargo Pinto, esposa de Dr. Armando.
Finalmente, a 18 de fevereiro de 1942, foi inaugurada a Escola Mista de Caieiras, que teve como primeira professora D. Ondina Bravo, a quem se deveu um ensino eficiente, preparando para um futuro melhor. Muitos alunos daquela ilustre professora vivem hoje, sendo elementos de projeo no meio social de Caieiras.
No ato inaugural do primeiro colgio de Caieiras, houve beno da sala de aula pelo reverendo padre Aquiles Silvestre, proco da Companhia Melhoramentos de So Paulo, com a presena dos professores Adamastor Batista, Francisco Gonalves Vieira e outros.
Citaes do historiador Hernni Donato em “100 Anos da Melhoramentos” revelam que j no sculo ado , quando chegaram os primeiros imigrantes italianos para trabalhar na fbrica de cal que originaria a Melhoramentos, escolas j foram fundadas para cerca de 70 crianas. Completa-se, portanto, um sculo na tentativa de levar o ensino s crianas de Caieiras.
Nos primeiros anos da dcada de 40, havia 355 crianas estudando em 7 salas de aula no centro de Caieiras, num tempo em que meninos e meninas ainda ocupavam classes separadas. Ao todo, eram 597 estudantes, espalhados em 15 classes, incluindo as do Monjolinho e da Calcrea. Esses dados mostram uma grande evoluo do setor educacional na cidade pouco tempo aps o surgimento da primeira escola.
Panorama atual
adas dcadas aps o surgimento de suas primeiras escolas, Caieiras registra hoje 17 estabelecimentos pblicos de ensino de 1 e 2 graus, 11 pr-escolas municipais e 2 colgios particulares em geral. Trata-se de um progresso que se faz significativo quando comparamos esses nmeros com a realidade educacional daqueles difceis anos 40. Na poca, poucas eram as famlias dos bairros perifricos que tinham condies de enviar seus filhos escola, uma vez que as crianas j eram obrigadas a cooperarem no trabalho dos pais pelo aumento da renda familiar.
A Delegacia de Ensino de Caieiras, construda nos anos 70 na Avenida Prof. Carvalho Pinto, expede as principais decises do setor educacional das cidades da regio. Apesar da precariedade do ensino pblico atual da qual a cidade tambm vtima, os caieirenses ainda podem se orgulhar de ter um nmero de escolas e uma qualidade de servios minimamente compatveis com as expectativas de seus alunos, com raras excees. Trata-se de uma realidade no vista na grande maioria das cidades brasileiras.
Catolicismo
A igreja de Santo Antnio
Da pedra fundamental chegada das imagens
No incio da dcada de 30, D. Ambrosina do Carmo Buonaguide, proprietria de terras que formariam o Bairro de Criscima, manifestou desejo de levantar uma capela em louvor a Santo Antnio. Para tanto, reservou um terreno e doou-o mais tarde Mitra Diocesana de Bragana Paulista, cujo bispo titular era D. Jos Maurcio da Rocha. Tratava-se de uma bela rea de 8.670 metros quadrados.
A iniciativa de D. Ambrosina foi plenamente amparada pelo advogado Dr. Armando Pinto, o qual sugeriu que, ao invs de uma capela, fosse construda uma igreja maior, prevendo j o futuro da povoao.
Em abril de 1934, realizou-se a primeira reunio das diversas pessoas que se obrigaram a levantar o templo em honra a Santo Antnio. O livro de presena do encontro foi assinado por ilustres personalidades: Ambrosina do Carmo Bounaguide, Dr. Armando Pinto, Terezinha Camargo Pinto, Jos Carlos da Silva, Nicolau Kiss, Geraldo Valim, Idalina Arruda Camargo, Manoel Gaspar, Pedro Viana, Luiz Gaspar, Paulina Viana Gaspar, Manoel Ruivo, Jos Silverinha, Manoel Gomes, Antnio Generoso da Silva, Gonalo Siqueira da Rocha, Francisco Pereira Leite, Euclides Antnio Domingues, Jaime Diogo da Silva, Elza S. Moraes, Jos Pasini, Ricieri Paschoaloto, Joo Augusto de Souza, Pedro Muro Vasquez, Lcia Muro, Maurcio Massinelli, Faustina Monteiro da Cruz, Miguel Lopes, Domingos Toigo, rico Wusbacher, Luiz Lopes Lansac, Jos Molo, Benedito Buonaguide, Tereza Maria das Dores, Afonsina Pereira, Maria Jos da Silva, Carlos de Carvalho, Maria da Silva, Atlio Massinelli e Antnio Baboim.
No tardando que outros viessem amparar a louvvel iniciativa, cada um se prontificou a contribuir com a importncia de 1 mil ris mensalmente.
Aos 17 de junho de 1934, foi lanada a pedra fundamental para o levantamento do templo, com a presena do reverendo padre Luiz Assemany, vigrio de Juqueri. Na ocasio, foi constituda a primeira comisso para dirigir aquele movimento, a qual teve como presidente Dr. Armando Pinto e como vocais os senhores Manoel Gaspar, Pedro Muro Vasquez, Atlio Massinelli, Francisco Teixeira de Arajo, Jos Silverinha, Adil Pais Leme, Zamith, Luiz Gaspar, Geraldo Valim, Jos Molo e Benedito Bounaguide.
Precisamente s 16 horas do dia 3 de maio de 1936, realizou-se a solenidade do incio da construo do Templo de Santo Antnio de Criscima, cujo primeiro tijolo foi assentado por Jos Csar de Azevedo Soares, ento subprefeito de Franco da Rocha, lavrando-se a respectiva ata. Sobre o ato, falou Dr. Armando Pinto.
No mesmo ms de maio, fez-se outra reunio da comisso, na qual Dr. Armando declarou ter confiado aos pedreiros e serventes integrantes do quadro de empregados da Companhia Melhoramentos as obras de construo da igreja, em ateno boa vontade apresentada pelos mesmos.
Foi declarado que os senhores ngelo Lumazini, Antnio Cestarolli, Pedro Leite, Jos Lumazini, Joo Cecati, Benedito da Silva, Antnio dos Santos e Joo Bertolo, que se achavam presentes, comprometiam-se a trabalhar na construo em suas horas vagas. Ficou combinado tambm que os pedreiros trabalhariam a 1.700 ris por hora e os serventes, a 1.000 ris. Como mestre de obras, foi designado o senhor ngelo Lumazini.
A parte dos fundos da igreja foi inaugurada solenemente em 26 de junho de 1936. As imagens de Santo Antnio, o padroeiro, do Sagrado Corao de Jesus e do Sagrado Corao de Maria foram introduzidas no interior do templo. Elas foram transportadas de So Paulo em procisso acompanhada pelo reverendo frei Luigi e pelos paroquianos do Pari, que deram um exemplo inequvoco de solidariedade crist.
Foram padrinhos da imagem de Santo Antnio o senhor Firmiano Pinto e Silva e sua me, D. Emlia Pinto e Silva, que foram seus doadores. Do sagrado Corao de Jesus, o senhor Atlio Massinelli e D. Idalina Arruda Camargo foram os padrinhos. J para a imagem do Corao de Maria, foram escolhidos Dr. Armando Pinto e D. Ambrosina do Carmo Buonaguide.
A comisso pde, pelos relevantes servios prestados, fazer a entrega do templo ao povo de Criscima em apenas dois meses. Vale ressaltar o concurso inestimvel do povo de Caieiras para isso, porque Criscima possua naqueles tempos poucas casas e reduzidssima populao.
O montante das obras, segundo consta numa demonstrao de receita e despesa, acusava um lucro da ordem de 5.362,900 ris e gastos 11.025,900 ris, o que representava, portanto, um dficit de 5.663,000 ris. Examinando essas contas, foi possvel encontrar em anexo o parecer seguinte:
Os abaixo-assinados tendo aceitado o convite que lhes fez o ilustrssimo advogado Dr. Armando Pinto, presidente da Comisso de Obras da Igreja de Santo Antnio de Criscima, para darem parecer sobre este balancete, apresentado pelo mesmo senhor conforme documentos de 1 a 19 e de nmeros 1 a 36, referentes s receitas e despesas, respectivamente, com a construo deste templo, examinaram e acharam tudo conforme. Temos assim o prazer de apresentar os nossos votos de congratulao pela maneira correta com que tem sabido conduzir-se, abraando to espinhosa misso.
Caieiras, 28 de agosto de 1936.
Ubaldo Meneguini
Luiz Lopes Lansac
Domingos Toigo
A Sociedade Amigos de Caieiras, fundada em 1936 e cuja histria est relatada em captulos parte, reservou a si a incumbncia de continuar as obras de construo da igreja, sempre com a participao do jornal Vida Nova, que embora sendo de Franco da Rocha, desde logo se tornou o legtimo reivindicador dos interesses do bairro.
Nas datas nacionais, a entidade tomava a iniciativa de fazer realizar as solenidades, promovendo tambm as festas do “Natal das Crianas”. O primeiro Natal atraiu 500 crianas. A abertura dos alicerces da Igreja de Santo Antnio de Criscima ficou tambm a cargo dos scios da Sociedade Amigos de Caieiras, numa demonstrao de solidariedade crist.
Anos de paralisao
No incio da dcada de 40, houve uma paralisao total das obras da Igreja de Santo Antnio, dadas s dificuldades financeiras da poca e tendo como fator os efeitos da Segunda Guerra Mundial, como inflao e desemprego.
Nesta poca, a igreja se encontrava respaldada e coberta, mas no tinha ainda nem portas e janelas, sendo que, no vo das mesmas, foram colocadas algumas tbuas para evitar a entrada de animais de porte. Essa paralisao durou aproximadamente 12 anos e, durante esse tempo, Caieiras recebia uma vez por ms a visita do proco de Franco da Rocha, padre Jos Botinelli.
Durante esse perodo, a pobreza da igreja era total, pois no possua um paramento sequer para a celebrao da missa. Dada a pobreza tambm da Parquia de Franco da Rocha, o padre Botinelli aparecia com a batina rota, embora bem adas pelas senhoras zeladoras do culto. No havia sino, nem altar e nem campainha. Padre Botinelli celebrava a missa sobre um caixote vazio de cebola e acompanhado por um dos fiis, mesmo porque tambm no havia coroinha.
Episdios misteriosos
Aconteceu nessa poca um fato pitoresco. Correu um boato que a Igreja de Santo Antnio de Criscima se encontrava mal assombrada e que as pessoas que por l avam em altas horas da noite ouviam barulhos e choros de criana. No comeo, houve muitas piadas e brincadeiras a respeito do assunto, mas com o ar do tempo, as notcias foram aumentando.
Os curiosos comearam a freqentar o lugar e a permanecer l at tarde da noite a fim de ver e ouvir o fenmeno to propalado. E o pior que realmente ouviam o referido barulho e os sussurros que pareciam gemidos de pessoas. O fato foi se agravando a ponto de ser evitada por muita gente a agem por aquele lugar.
O povo resolveu ento se reunir e nomear uma comisso para desvendar o mistrio. Um grupo de pessoas armadas j descobriu na primeira noite de planto o enigma.
Era nada mais, nada menos, que um casal de corujas gigantes das chamadas Suindaras, que construram um ninho entre o telhado e o forro da sacristia da igreja. Nas noites de lua cheia, as corujas faziam seus folguedos amorosos, apavorando a todos os que por l avam s altas horas da noite.
Um outro fato pitoresco, sem muita importncia, porm, digno de nota, ocorreu na mesma poca.
Segundo um costume do interior, de onde vieram muitas das primeiras famlias a residirem em Criscima, festejavam-se, respectivamente, nas datas de 13, 24 e 29 de junho, os dias do santo padroeiro Santo Antnio, de So Joo Batista e de So Pedro, o prncipe da Igreja Catlica Apostlica Romana. Nessas datas, eram hasteadas bandeiras que traziam os retratos de cada santo. Se no houvesse no local um cruzeiro, este seria colocado como um marco de f e tradio do catolicismo.
Todo ano era eleita uma comisso de festeiros, composta de meia dzia de pessoas. Pela tradio, era escolhido tambm o cidado responsvel pela colocao do mastro com sua bandeira, a qual era trocada por outra no ano seguinte. O cruzeiro tambm poderia ser trocado caso sua madeira se encontrasse apodrecida ou comida pelos cupins.
Aconteceu que, num determinado ano, o cruzeiro foi trocado por um de madeira completamente verde. Por isso, o povo comeou a notar que a madeira da cruz no secava. Em pouco tempo, comearam a surgir brotos. Com o ar dos anos, transformou-se numa frondosa rvore, que ou a dar sombra ao ptio e abrigar as aves. Estava dada a prova de fertilidade das terras de Vila Criscima, cujas casas com enormes quintais possuem grande quantidade de rvores frutferas, como abacate, caqui e at parreiras de uva.
Reincio das obras e inaugurao
Por volta de 1950, Dr. Armando Pinto, embora fosse um homem que no itia cansao, comeava a se sentir exausto de tantas atividades. Reconhecendo que j era hora de dividir suas responsabilidades, resolveu nomear uma comisso para prosseguir as obras da Igreja de Santo Antnio. Escolheu um grupo de pessoas de sua confiana para ocupar aquele cargo, ficando a diretoria da comisso assim constituda: Marclio Dias de Moraes, presidente, Santo Pascoal Menegatti, vice-presidente, Luiz Lopes Lansac, secretrio, Jos Massinelli, tesoureiro, Manoel Sanches, zelador do culto, e Antnio Furlanetto, segundo secretrio.
Logo aps a posse daquela diretoria, foi elaborado o projeto definitivo da igreja pelo projetista de arquitetura Marclio Dias de Moraes, que contou com a colaborao do arquiteto Aquiles Gabriel Mirabelli, especialista em clculo de concreto armado. Este calculou a ferragem da torre, vistoriou toda a obra e deu toda a assistncia tcnica necessria sua segurana.
Mas as dificuldades encontradas pela comisso para dar prosseguimento obra no foram poucas. No princpio, no havia luz eltrica, nem gua. As quermesses para angariar fundos eram feitas sob luz de vela e lampio de gs.
A gua era obtida dos vizinhos mais prximos, que a tiravam de seus poos com sarilhos. Mesmo assim, a comisso, movida por um sentimento de f e um esprito de luta, lanou mos obra, enfrentando todas as dificuldades.
Na ocasio, o povo de Caieiras deu uma prova de seu verdadeiro esprito de fraternidade, pois uniu-se em torno da comisso, dando apoio ir e colaborando de todas as formas possveis para que a obra no sofresse interrupo.
O senhor Luiz Lopes Lansac, que trabalhava na Rdio Record, obteve daquela emissora, a ttulo de emprstimo, um pequeno gerador de fora movido gasolina, o que veio dar condies de se realizarem as quermesses com iluminao eltrica.
Para sanar as dificuldades que ainda existiam, a comisso iniciou a abertura de um poo em terreno da igreja, e bem prximo dela, a fim de obter gua para a continuidade das obras. No ano de 1954, foi eleito prefeito de Franco da Rocha o senhor Jos Alves Ferreira Filho, que no apenas concordou com a abertura daquele poo, como tambm visitou a obra periodicamente, pondo-se disposio para eventuais necessidades, apesar dos parcos recursos que possua a sua prefeitura.
A partir da, tudo mudou, pois a comisso continuou trabalhando normalmente e realizando suas quermesses, alm das festas tradicionais, cujos fundos deram condies para contratar profissionais que terminassem a obra.
Os contratados para o trmino da torre foram o senhor Guilherme Wilhelm e seu sobrinho Hans Friedhelm Sliper, chamado de Fritz. Sebastio de Paula foi contratado para executar o acabamento interno e, num trabalho de verdadeiro artista, moldou as colunas em estilo romano e com capitis dricos, repetindo esse estilo no altar. A escada foi feita em granito.
Finalmente, em 1960, o povo de Caieiras teve a satisfao de assistir inaugurao da Igreja de Santo Antnio de Criscima, com a visita de D. Jos Maurcio da Rocha, ento bispo diocesano de Bragana Paulista. Na manh do dia da inaugurao, ele oficiou missa solene e, tarde, o santo Sacramento do Crisma.
Mais tarde, as terras que haviam sido doadas por D. Ambrosina do Carmo Buonaguide serviriam no s para a igreja, mas tambm para a construo de um jardim e de uma concha acstica prpria para a realizao de espetculos. O monsenhor Jos Csar de Oliveira, hoje com mais de quatro dcadas de sacerdcio, se tornaria proco da Igreja de Santo Antnio e coordenaria muitos dos principais momentos eclesiais da cidade.
O santo padroeiro
Santo Antnio de Lisboa, conhecido tambm por Santo Antnio de Pdua, por ter vivido muito naquela cidade portuguesa, o padroeiro de Caieiras. Era filho de Martins de Bulhes e Tereza Taveira, sendo seu nome secular, Fernando de Bulhes. Nasceu em Lisboa no ano de 1195 e faleceu em Pdua em 1232, onde deixou fama de orador eloqentssimo. Religioso franciscano, foi levar aos muros da frica as sacrossantas luzes do Evangelho.
Costumam invoc-lo especialmente para encontrar objetos perdidos. Em Portugal, o santo mais popular, ligando-se ao seu nome lendas graciosas. As crnicas lhe atribuem inmeros milagres. Geralmente representado por uma imagem na qual tem na mo um livro sobre o qual est colocado o Menino Jesus.
Outros templos
A devoo religiosa sempre foi um dos traos populares marcantes dos catlicos caieirenses. Antes da construo da Igreja de Santo Antnio, os fiis j freqentavam as igrejas construdas pela Companhia Melhoramentos em seu territrio: a Nossa Senhora do Rosrio, erguida em 1917 e que ostenta o rtulo de mais antigo templo da cidade, e a So Jos, de 1933, cuja simplicidade enobrecida por seu capricho arquitetnico.
Associaes de formao religiosa e cursos de prendas domsticas estavam abertos ao pblico na primeira metade do sculo, sob a direo do capelo padre Aquiles Silvestre, jovem criativo e muito trabalhador.
Aos poucos, foram surgindo igrejas nos outros bairros, como a Capela de Nossa Senhora Aparecida, no Serpa, em 1953, com a liderana de um grupo no qual se incluam os senhores Antnio Portela, Jos de Almeida e Ferruci Guzon.
Cultura
Anos festivos
Clubes, festas e entidades culturais agitavam o dia-a-dia dos trabalhadores da regio
O esporte e as comemoraes de 1 de maio
Na dcada de 40, Caieiras teve uma vida social intensa. A televiso havia apenas na imaginao do povo e muitos nem sequer acreditavam na possibilidade de um dia possu-la, visto que, naquela poca, o rdio ainda era um objeto de luxo, difcil de ser adquirido devido ao seu alto custo. Por isso, o povo vivia mais agrupado. As diverses mais procuradas eram o cinema, o baile e os eios.
Os esportes prediletos eram o futebol, o voleibol e a natao. A cidade possua naquela poca quatro clubes de carter esportivo e recreativo, todos de renome: Clube Recreativo Melhoramentos, fundado em 1916, Unio Recreativa Melhoramentos (antigo Esporte Clube Caieiras, de 1927), talo Futebol Clube, de 1924 (transformado em Brasil Futebol Clube), e, finalmente, o Expressinho da Sociedade Amigos de Caieiras, este mais recente. Os times desses clubes disputavam campeonatos internos e externos com os demais clubes da segunda diviso do futebol profissional, como Nacional Futebol Clube, Lapianinho, Elevadores Atlas, Guarda Civil de So Paulo etc. Mais tarde, na dcada de 50, at os grandes times da primeira diviso apareciam em Caieiras para jogar, como Corinthians, Palmeiras, So Paulo e Portuguesa. As mensalidades dos clubes caieirenses eram consideradas mdicas, quase simblicas.
Em fotos datadas provavelmente dos anos 40, mas em estado precrio de conservao, podem ser vistos perfilados os jogadores do primeiro e do segundo quadros do Clube Unio Recreativa Melhoramentos de So Paulo.
No primeiro quadro, eram eles: Mrio Del Porto, Lumazini, Messias, Egdio, Jorge, Samim, Otvio, Cherim, Tite, Armando, Camargo I, Tunga, Paulino, Adelino e Raul. J no segundo quadro, jogavam alguns esportistas do primeiro grupo: Egdio, Renato, Cutia, Luiz Zovaro, Florncio, Antnio Basejo, Dino, Vitrio, Armando Basejo, Tite, Tunga, Camargo II, Lula e Joozinho. O tcnico de ambos os times era Baslio Spigarollo e um dos juzes freqentadores das partidas era Artur Del Porto.
A praa de esportes do Unio Recreativa Melhoramentos de So Paulo era constantemente alugada por clubes e grandes firmas da Capital, que fretavam trens da antiga The So Paulo Railway Company Limited, cuja composio transportava aproximadamente 4 mil pessoas.
A festa comeava pela manh com toda sorte de brincadeiras para crianas. Em seguida, vinham as gincanas para moas e rapazes e, tarde, jogos de futebol entre equipes locais e visitantes. Assim, as praas de esporte de Caieiras se tornavam disputadas entre clubes e empresas de So Paulo.
A exceo era a data de 1 de maio, quando se comemora o “Dia do Trabalhador”. Nessas ocasies, a festa se realizava sob o auspcio da Companhia Melhoramentos, com um programa composto de missa campal e solene pela manh celebrada pelo ento padre Aquiles Silvestre, capelo da Companhia. A seguir, era a vez das gincanas, com brincadeiras para crianas e adultos. No perodo da tarde, competies de futebol com clubes da regio e outros convidados.
Durante todo o dia, havia farta distribuio de chope, sanduche e outras guloseimas. Essas festas eram sempre prestigiadas com a presena do diretor tcnico da Melhoramentos, Johannes Ferdinand Ehlert, de sua esposa, D. Alice, e de sua filha, Renata.
O pice nos anos 90
Saltando vrias dcadas na histria esportiva da cidade, chegamos at julho de 1994, ano em que ocorreram os 38s. Jogos Regionais, que reuniram em Caieiras mais de 4 mil atletas de todo o Estado de So Paulo. Delegaes de mais de 35 cidades foram alojadas em escolas e outros departamentos do municpio e da regio. Foram 10 dias de muita competio, festa, torcida e trabalho, capazes de marcar para sempre a histria do esporte em Caieiras.
Para a realizao do evento, a istrao municipal desenvolveu uma infra-estrutura singular no Pas, se for levado em conta o tamanho da cidade sede. Ginsios de esporte, quadra etc foram reformados e outros construdos. Todos os detalhes foram bem planejados. Na festa de abertura, grandes personalidades da poltica nacional estiveram presentes, sendo aplaudidos por milhares de espectadores.
A chegada do teatro
Entre as entidades culturais existentes nos anos 40, Caieiras possua grupos dramticos, compostos de jovens que se dedicavam ao teatro amador. Esses grupos se encontravam sob orientao de pessoas capacitadas nas artes tanto cnica como coreogrfica, entre os quais, pode-se destacar a pessoa do jovem Nelson Turini, que veio a Caieiras com sua esposa ainda jovem, a fim de trabalhar como escriturrio da Companhia Melhoramentos.
Nos primeiros contatos que teve com a mocidade caieirense, Turini notou que havia um campo frtil para o desenvolvimento de seu trabalho como teatrlogo, pois havia recentemente se formado em Artes Cnicas e Coreogrficas na capital paulista. Portanto, tinha verdadeira fome de aplicar seus conhecimentos na prtica da arte dramtica.
Para isso, pde contar no apenas com o elemento humano, ou seja, com uma mocidade dinmica, mas tambm com o apoio da Companhia Melhoramentos no fornecimento de todo o material e infra-estrutura necessrios, como salo com palco para ensaios, material para confeco de cenrios, enfim, todos os mveis imprescindveis na composio das cenas.
Dessa forma, aqueles grupos tiveram condies de levar ao palco peas de renome e de grande responsabilidade por parte dos figurantes, cooperando assim para a elevao cultural daquele povo.
O “Cine Cayeirense”
Os caieirenses j puderam desfrutar de cinemas em seu territrio. Na dcada de 40, trs salas de cinema, com aparelhos considerados modernos para a poca e a preos mdicos, eram opo de lazer para a populao.
A stima arte chegou a Caieiras ainda em 1917, apenas 22 anos aps sua inveno. Mas somente nos anos 40 o cinema ou a operar num prdio prprio e adequado: o antigo salo de festas da cidade. Uma placa apontava no alto “Cine Cayeirense”, com o “y” que a Lngua Portuguesa impunha naqueles tempos.
O senhor Domingos Toigo trabalhou na organizao das primeiras exibies daquele cinema. Como os filmes ainda eram mudos, Domingos tocava violino para animar a noite dos expectadores, enquanto Clmene mostrava seus dotes artsticos ao piano. Se os filmes eram bons, no se pode avaliar com o gosto moderno. Mas, com certeza, o concerto devia ser digno de valer um ingresso parte.
No salo de festas, realizavam-se tambm reunies comemorativas, conferncias e recepes. Entre seus conferencistas, estiveram: padre Banwar, diretor da Federao das Congregaes Marianas de So Paulo, Dr. Jos Azevedo Santos, diretor da Ao Catlica da Capital, comendadores Melilo e Tolosa e o prprio D. Jos Gaspar Afonseca e Silva, arcebispo metropolitano de So Paulo, todos convidados por padre Aquiles Silvestre.
O Cine Cayeirense foi desativado no incio da dcada de 60 e, poucos anos depois, comeou a destruio do prdio.
Os famosos bailes da agem do ano e de carnaval tambm ocorriam naquele espao. Em matria de carnaval, Caieiras ajudou a incrementar as festas da alta sociedade das grandes cidades. A fbrica de papel da Melhoramentos chegou a produzir em 1919 uma espcie de papel parafinado e outro tido como base para estampas. Com a instalao de bobinas na Cermica, confete e serpentina aram a ser enviados em caixas de madeira para animar o carnaval de todo o Pas.
Outro cinema – o Cine Santo Antnio – foi instalado no prdio da atual Discoteca Rainbow, que tambm chegou a ser usado para importantes eventos da histria da cidade, documentados no captulo sobre a emancipao poltica do Municpio de Caieiras. Pouco antes de sua desativao, os caieirenses assistiam nele a filmes tanto internacionais, tipo, “Dio, como ti amo” e as comdias de Jerry Lewis, quanto nacionais, como “Roberto Carlos em ritmo de aventura”.
Msica na mata virgem
O difcil trajeto das primeiras bandas
Grande parte da populao desconhece que Caieiras nasceu e continua sendo uma cidade musical. Seu surgimento deu-se no meio de uma floresta de mata virgem e cerrados, onde se ouviam ainda o som estridente do canto da araponga, o gorjeio dos lendrios tangars, que tambm danavam, bem como o lgubre e apavorante canto do urutau, que na calada da noite, soltava seus gritos em forma de gargalhadas. Este barulho era chamado de “o canto das almas penadas” pelos caboclos. tarde, se ouviam tambm os ltimos gorjeios do sabi como despedida do dia que se findava.
Todos esses sons desapareceram com o tempo, mas por outro lado, foram substitudos por outros, ou seja, pelos sons dos instrumentos musicais da primeira banda que se fundaria naquele local. A Companhia Melhoramentos de So Paulo, para atender o desejo de seu grupo de trabalhadores, a maioria de imigrantes italianos e filhos destes, tratou de formar uma banda de msica.
A histria comea com as famlias pioneiras que foram alguns dos primeiros habitantes do local: Zanon, Marim, Valbusa, Satrapa etc. O complexo industrial da Melhoramentos foi sendo aumentado, bem como o ncleo populacional, na mesma proporo. Assim, por volta de 1920, o sistema de comunicao era muito precrio, no havia diverso de espcie alguma, nem rdio. Televiso no ava sequer no pensamento.
Para quebrar ento aquela monotonia surgiu idia de se formar uma banda de msica, o que foi aceito de pronto por todos, inclusive pela diretoria da Companhia Melhoramentos, que ou a tomar as devidas providncias nesse sentido.
Mas comearam a surgir os primeiros problemas. Um deles era que ningum tinha conhecimento musical. No entanto, esse problema foi contornado rapidamente. A Companhia contratou um maestro chamado Lencio, um tenente da Fora Pblica, que ou a lecionar msica a todos os interessados em fazer parte da banda. E assim, com apenas trs meses de ensaio, a banda j conseguiu executar uma pea, isto , um pequeno dobrado.
Os instrumentos e uniformes foram sendo adquiridos pelos prprios msicos. E como no havia recinto apropriado para a realizao dos ensaios, a banda ensaiava dentro da prpria fbrica, mesmo com as mquinas funcionando. A banda, formada em 1922, ou a denominar-se Corporao Musical Fbrica de Papel.
Vendo a boa vontade dos msicos e o progresso da banda, a diretoria da Companhia resolveu ceder ao grupo uma casa residencial, localizada Rua do Barbeiro, no Bairro da Fbrica. Neste lugar, a banda ou a ter sua sede prpria, onde foi fundada a primeira sociedade para a manuteno da banda, que abrilhantava ali os bailes que se realizavam aos sbados e domingos.
A primeira banda caieirense foi formada pelos msicos: Joo Valbusa, Alberto Caminada, Carlos Barnab, Amrico Zanon, Andr Zuglian, Pomplio Gava, Guerino Luizato, Bento Guidolim, Antnio Martini, Bentivlio Guidolim, ngelo Zanon, Constantino Toigo, Ernani Cavalete, Luiz Gabrielli, Pedro Ulman e Leo Meneguini. A direo ficava por conta do fundador, o saudoso maestro tenente Lencio, que logo faleceu.
Aps a morte de Lencio, veio para Caieiras a fim de fazer a sua substituio um novo maestro, chamado Artur Patti, por sinal, um excelente maestro. Um fato paralelo ocorreu a seguir. Nesta poca, foi fundado um clube de futebol cujo campo era localizado no alto da estrada da Ponte Seca. Apesar do esforo dos jogadores e da prpria diretoria do clube, as dificuldades impediram a aquisio de uniformes para os seus membros. E assim, quando a entidade j se encontrava prestes a ser desfeita, eis que surge a idia de se fundirem as duas sociedades: a que mantinha a banda e a que mantinha o futebol. Afinal, a primeira se encontrava organizada e com tima situao financeira.
A diretoria da Companhia resolveu doar ao clube uma bela rea de terras, onde os prprios msicos e associados construram um grande salo social e um campo de futebol, sendo todo o material da obra doado pela Melhoramentos. A mo-de-obra surgiu dos prprios associados que, em horas de folga, feriados e domingos, trabalhavam na construo de seu clube. A nova entidade recebeu o nome de Clube Recreativo Melhoramentos.
Aps a ampliao de terras pela Melhoramentos, foram construdas estradas vicinais dentro da propriedade, ligando bairros como Cermica, Monjolinho, Calcrea, e Bom Sucesso. A Companhia fez uma remodelao completa e ampliou o sistema de fabricao. Em seguida, instalou uma linha frrea ligando todos os bairros j referidos. No era mais necessrio transportar a matria-prima para a produo do papel por meio de barcos pelo Rio Juqueri, no trecho compreendido entre a Estao de Caieiras e a fbrica de papel.
Neste contexto, a msica volta a entrar em cena. A diretoria da Melhoramentos acostumava organizar duas vezes por ano um eio sui generis para os operrios, quando era preparado um imenso comboio de 15 vages abertos e puxados por duas locomotivas. Em cada vago era colocado um barril de chope e, bem no centro do comboio, ficava um vago especial para a banda de msica.
E assim, esse carrossel de alegria, entre comes e bebes e o som alegre da banda, partia da fbrica de papel e percorria os bairros da Cermica, Monjolinho, Calcrea, at Bom Sucesso, num percurso de aproximadamente 30 quilmetros ida e volta. Nesse eio, o trenzinho ia devagar e com paradas freqentes para que os ageiros pudessem irar a paisagem e saborear seus lanches com toda segurana e tranqilidade.
Devido sada do maestro Artur Patti, assumiu a regncia da banda o senhor Ablio Vieira. Nessa poca, chegou a Caieiras o exmio saxofonista da Marinha de Guerra do Brasil, Francisco Assis Fernandes, que ingressou na banda como contramestre.
Com a vinda de Francisco Assis Fernandes, o Clube Recreativo Melhoramentos evoluiu muito, j que se tratava de um homem dinmico e que gostava muito de msica e teatro. Por essa razo, no demorou a formar um grupo teatral infantil e outro de adulto, dando vida nova ao clube, que acabou se tornando o mais freqentado da regio. Em seguida, ele formaria tambm um batalho de escoteiros, juntamente com o senhor Miguel Lopes. O batalho era muito bem organizado e irado por ser o nico de escoteiros da regio.
Com a sada de Ablio Vieira como maestro da corporao, devido grave enfermidade a que foi acometido, Assis Fernandes assumiu a regncia, ficando como maestro da banda durante algum tempo.
Ocorre que a diretoria do Clube Recreativo Melhoramentos, que tambm dirigia os destinos da banda, resolveu contratar um maestro para reg-la. Foi ento chamado o grande maestro Jos Bovolenta, fazendo com que Fernandes voltasse a ser contramestre da banda.
Alm do Clube Recreativo Melhoramentos, havia nessa poca o Unio Recreativa Melhoramentos, que tambm fundou sua banda de msica. O maestro Jos Bovolenta ou a ensaiar as duas bandas, sendo uma as quartas e sextas-feiras, e a outra, s teras e quintas.
Vale reportar o ms de outubro de 1933, quando se realizou mais uma festa de Nossa Senhora do Rosrio em Caieiras, considerada uma das maiores da regio. Durante o ano todo, a juventude se preparava para o evento, principalmente as moas, que procuravam vestirem-se de acordo com a ltima moda, o que transformava a festa num verdadeiro desfile de roupas. Gente at de outras cidades participava da grande festa, cujas barracas de guloseimas eram armadas desde a garagem da Companhia, tomando todo o ptio da Igreja do Rosrio e margeando lado a lado a Avenida dos Coqueiros, at o antigo Cemitrio de Caieiras.
A montagem das barracas era permitida mediante o pagamento de uma pequena taxa para ajudar a igreja em suas obras sociais. Todos os clubes armavam suas barracas, onde o povo se divertia encontrando todos os tipos de comida, alm de grande variedade de diverses. O que mais chamava a ateno era o fato da festa ser abrilhantada pelas duas corporaes musicais.
Em 1934, o maestro Jos Bovolenta foi vtima de uma enfermidade, sendo obrigado a se internar num sanatrio, onde veio a falecer. Aps o ocorrido, a banda da Unio Recreativa foi desfeita. Na ocasio, Francisco Assis Fernandes assumiu a regncia da banda do Clube Recreativo Melhoramentos e a maioria dos msicos que pertenciam banda desfeita ou para a banda do Clube Recreativo, ficando esta considerada e reconhecida como a melhor de toda a regio.
O maestro Assis era escriturrio da Companhia Melhoramentos e, nas horas de folga, ou a lecionar msica no salo do Clube Recreativo. Pela grande irao e apreo que a diretoria da Companhia, mais precisamente seu diretor tcnico, Ehlert, tinha pela msica, houve por bem dispensar os msicos de seu trabalho para os ensaios remunerados, com a condio de que no faltassem neles.
Ainda em 1934, o senhor Srgio Valbusa iniciou seus estudos musicais com o maestro Francisco Assis Fernandes. Sua dedicao e vocao eram tais que, aos dez anos de idade, j escolheu o pistom como seu instrumento predileto. Encontrou tanta facilidade em sua execuo que, aos 11 anos, j ingressou na banda do Clube Recreativo Melhoramentos como terceiro pistom. Aos 12 anos, ou a primeiro pistom solista, tornando-se praticamente o destaque da corporao.
Nesse mesmo perodo, formou-se um grupo de trs pessoas: Srgio Valbusa, Francisco Assis Fernandes e Clarice Lucietto. Durante vrios anos, eles ensaiaram as crianas para a formao de um grupo teatral, que apresentava tambm danas e coreografias. Seus elementos participavam de um programa de calouros que funcionava no prprio Clube Recreativo Melhoramentos, onde os alunos tinham os primeiros contatos com a platia. Do esforo deles, formou-se um cadinho de onde saram os primeiros interessados em fazer parte do teatro amador de Caieiras.
Por incrvel que parea, nessa mesma poca, veio para a cidade um casal jovem e simptico, Nelson Luiz Turini e sua esposa, j citados anteriormente sobre sua contribuio no desenvolvimento da arte dramtica em Caieiras.
Infelizmente, o que bom dura pouco. Logo em seguida, foi eleita uma diretoria para reger os destinos do Clube Recreativo Melhoramentos composta de elementos que, de princpio, pensaram somente no futebol, marginalizando a banda de msica, o grande orgulho de Caieiras. Marginalizou tambm o teatro amador, como tambm todas as outras atividades artsticas do clube.
Com esse fato, os msicos foram se tornando desgostosos e retirando-se do clube. Em pouco tempo, a corporao foi desfeita. Com a queda da banda, foram caindo tambm as outras atividades do clube. Assim, ficou Caieiras por vrios anos sem uma banda de msica.
O maestro Francisco Assis Fernandes se aposentou como funcionrio da Companhia Melhoramentos, mudando-se para a Vila Criscima, a nica vila fora das propriedades da Melhoramentos. O maestro Assis procurou o advogado Dr. Armando Pinto, tambm grande apaixonado pela msica, residente em Criscima e presidente da Sociedade Amigos de Caieiras. Ambos pensaram em formar a banda dentro da referida sociedade e, para isso, entraram imediatamente em contato com a diretoria do Clube Unio Recreativa Melhoramentos e adquiriram o acervo instrumental da banda desfeita por um preo simblico. Dessa forma, foi formada uma nova banda, que se denominaria Corporao Musical Sociedade Amigos de Caieiras.
Mal sabiam da tragdia que o destino havia evitado. Logo aps esses acontecimentos, houve um incndio de grandes propores que destruiu por completo todas as instalaes do salo de festas da Melhoramentos, em cujos pores eram guardados todos os pertences da corporao musical. Da a sorte de se levar todo o acervo da extinta banda, com seu instrumental e partituras, para a Sociedade Amigos de Caieiras.
Aps a extino daquela banda da qual sempre fez parte, Srgio Valbusa continuou na orquestra que se apresentava nos bailes de Caieiras, comandada pelo maestro Danilo Valbusa.
Em 1940, o acordeo tornou-se o instrumento da moda. Nessa ocasio, Srgio Valbusa adquiriu um exemplar desse instrumento e ou a estud-lo, mesmo sem mestre. Em pouco tempo, conseguiu domin-lo, ando a dar aulas de msica para acordeo em sua casa, no Bairro da Fbrica. Muitos foram os alunos que procuraram o maestro Srgio para o aprendizado daquele instrumento, a maioria meninas.
Rapidamente, o maestro Srgio Valbusa formava uma orquestra de acordeo com 60 componentes, com os quais ou a executar desde a msica popular at a clssica. Nessa etapa, a Companhia Melhoramentos construiu um novo salo no mesmo local onde havia o antigo, destrudo pelo incndio. Como no havia mais banda de msica, o salo foi inaugurado ao som da orquestra de acordeo, sob a regncia do maestro Valbusa.
A seguir, diante da grande procura dos alunos para o estudo do acordeo, o maestro Srgio resolveu fazer um curso de aperfeioamento. Ingressou ento na Academia de Acordeom ngelo Reale, de So Paulo. Aps ter concludo o curso, prestou exame na Unio dos Acordeonistas do Brasil, onde foi diplomado.
A Corporao Musical Melhoramentos
O maestro Srgio Valbusa, como compositor, arranjador e descendente de msicos, h muito tempo alimentava o sonho de ter sua prpria banda. Enquanto o sonho no se realizava, usava as horas vagas para manter em sua casa, no Bairro da Fbrica, uma escola de msica, onde dava aulas tericas e prticas para instrumentos de fole, sopro, cordas, palhetas etc. O nmero de alunos era considervel e alguns deles se tornariam um dia profissionais da rea.
Corria o ano de 1958 e Caieiras recebia a visita de missionrios catlicos, que agitavam com seu dinamismo a vida dos fiis. E assim, o maestro prometeu a si mesmo que apresentaria queles religiosos algo que tambm agradasse Caieiras, ou seja, uma banda de msica, tendo em vista que essa terra demonstrara ser bero de excelentes msicos, o que j lhe tinha rendido quatro bandas de certa envergadura.
Para pr em prtica suas idias, Srgio conversou com alguns msicos da poca, bem como com os remanescentes das bandas anteriores, incentivando-os ao retorno da msica. Teve resultados positivos, mas para a concretizao desse objetivo, havia vrios problemas a serem resolvidos.
O primeiro foi conseguir instrumentos para a banda, o que foi prontamente contornado, pois alguns msicos j possuam instrumentos prprios. Para os demais, o maestro Srgio ou a recuperar instrumentos antigos deixados pelas bandas extintas. As partituras foram escritas e copiadas. Iniciaram-se os ensaios na casa do maestro e a banda comeou a tomar corpo.
Foi assim que, no encerramento das misses, para a surpresa de todos os missionrios e do povo, a banda apareceu com um lindo uniforme, marchando gabosamente at o local da festa, onde executou os mais belos nmeros de seu repertrio.
O mais importante foi que aquele acontecimento no ficou apenas na euforia das primeiras apresentaes, pois os ensaios continuaram regularmente, at como lazer para os msicos. A arte musical ava de pai para filho e, dessa forma, novos alunos para a escola do maestro surgiam, assim como mais msicos para a banda.
Certa tarde, o maestro ensaiava seus alunos em sua prpria casa e l apareceu o senhor Gunther Raymann, um dos diretores da Companhia Melhoramentos. Gunther era um grande apaixonado pela msica, como tambm muito amigo do maestro Srgio. Estava irado pelo nobre trabalho que estava sendo realizado, principalmente por ser feito por puro altrusmo, sem visar grandes lucros, mas para atender os anseios daquela mocidade sedenta de saber.
O diretor Gunther, diante de tudo o que viu, tomou-se de entusiasmo e prontificou-se de imediato a auxiliar a banda em tudo o que fosse necessrio. O primeiro o a dar foi instalar a banda em sede prpria, no Bairro da Fbrica. Ele completou a parte instrumental e determinou que a Melhoramentos institusse uma verba mensal para a manuteno da corporao. Autorizou tambm que se oficializasse a data da fundao daquela banda, o que recaiu em 1 de maio de 1959, "Dia do Trabalhador", classe qual pertencia maioria dos msicos. A comemorao coincidiu tambm com o aniversrio do maestro.
Posteriormente, a Companhia Melhoramentos cedeu novas instalaes banda e, desta vez, em Criscima, mais especificamente Rua da Estao, n 81-A. Alm disso, a ajuda mensal no foi abandonada.
Caieiras, quando j municpio, se orgulhava da banda que tinha, a qual foi apelidada carinhosamente por algum como a "prola dos pinheirais", j que sua msica era executada em vrias cidades, sem contar os convites internos aos quais a banda atendia.
A Prefeitura Municipal de Caieiras via com bons olhos o desenrolar dos acontecimentos e decidiu apoiar as iniciativas do maestro Srgio Valbusa. A istrao da cidade solicitou que a banda fosse juridicamente organizada para que pudesse ser includa no oramento municipal, recebendo uma subveno.
Foram ento elaborados os estatutos em 8 de abril, sendo registrados no Cartrio da Comarca de Franco da Rocha sob n 61, em 12 de julho de 1974. Pelo Decreto Municipal n 1.006, de 22 de agosto de 1974, a banda ou a denominar-se oficialmente Corporao Musical Melhoramentos de Caieiras, sendo organismo de utilidade pblica.
Nesses longos anos de existncia, muitas apresentaes se sucederam, dentro e fora de Caieiras. Seu repertrio tem se estendido desde a msica sertaneja at a clssica, contanto com muitas obras de autoria do prprio maestro, hoje constantemente executadas por outras bandas.
De acordo com os seus estatutos, a corporao hoje comandada por uma diretoria eleita entre os prprios msicos que a compem. Para o mandato que se iniciou em 1 de maio de 1994 e que deve terminar em 1996, ela est assim constituda: Jos Branco Zuglian, presidente, Luiz Carlos Crema, secretrio, Srgio Valbusa, maestro e diretor de patrimnio, e Flvio Lucietto, como relaes pblicas.
Outra importante participao do maestro Srgio Valbusa na histria da msica da regio se deu no comando do Coral de Caieiras.
A melhor fanfarra do Brasil
Com o objetivo de desenvolver mais uma atividade que viesse contribuir para a formao educacional das crianas caieirenses, foi criada em agosto de 1970 a Fanfarra Mista Simples Walther Weiszflog. Hoje ela denominada Fanfarra Mista Juvenil Simples da Escola Estadual de Primeiro e Segundo Graus "Walther Weiszflog". A iniciativa partiu do professor Zlton Bicudo, que lecionava na escola, e logo contou com o entusiasmo e a vontade de um grupo de alunos e alunas da mesma escola.
O fato de ser pioneira fez com que a fanfarra tivesse que enfrentar inmeras dificuldades at sua definitiva estruturao. A corporao era constituda por adolescentes estudantes, que tiveram que lutar muito para conseguirem o crdito e a confiana de todos que a viam nascer. Nas primeiras apresentaes, tanto externas quanto internas, o uniforme utilizado era confeccionado e custeado a cargo dos prprios pais dos alunos que incentivavam seus filhos e filhas para uma participao efetiva e dinmica na fanfarra.
Os alunos no se impressionavam com as dificuldades que apareciam. Muito pelo contrrio, a vontade de vencer e a garra cresciam medida que as dificuldades aumentavam, o que contribuiu de forma direta para abrir caminho rumo s primeiras conquistas.
Aps muita marcha e contramarcha, a fanfarra estruturou-se em agosto de 1971, organizando seu primeiro estatuto e elegendo sua primeira diretoria. Como presidente, ficou o professor Zlton Bicudo, que acumulou o posto regente.
Durante os trs primeiros anos, a diretoria cuidou da organizao da fanfarra, visando s inmeras apresentaes das quais participava. Seus componentes adquiriram maturidade e personalidade, fato este que comeou a chamar a ateno de todos.
Em outubro de 1973, a Prefeitura do Municpio de Caieiras cedia dois nibus para conduzir a fanfarra ao Municpio de Guarulhos, onde participaria, pela primeira vez, de um concurso oficial, que contaria com 25 fanfarras participantes do Estado de So Paulo.
A fanfarra caieirense atuou com muita humildade e trajando um uniforme simples. Contudo, seus componentes encararam com grande seriedade a responsabilidade que lhes pesava sobre os ombros: representar oficialmente Caieiras pela primeira vez na histria. Os jovens alunos da "Walther Weiszflog" voltaram de Guarulhos com um resultado surpreendente. Premiando os esforos e a dedicao de todos, veio a conquista de um honroso terceiro lugar.
A partir da, as portas se abriram e as autoridades municipais comearam a olhar com mais carinho a fanfarra. O apoio ou a ser mais intenso, as verbas surgiram e foi confeccionado o primeiro uniforme de gala da corporao.
A fanfarra cresceu e ou a divulgar e dignificar o nome de Caieiras pelos lugares onde ava. Chegava a ultraar as fronteiras do Estado.
A cidade logo comeou a lucrar com o desempenho da fanfarra, que contribuiu para o desenvolvimento musical de Caieiras como um todo. A Corporao Musical Melhoramentos ou a receber inmeros adolescentes, que demonstravam grande interesse no aprendizado da msica. Foi criada a Banda Infantil, carinhosamente chamada de "Bandinha", composta em 80% por crianas que haviam se iniciado na fanfarra.
Estimulou-se, por conseqncia, a formao de novas fanfarras no municpio, entre as quais, a da escola estadual "Otto Weiszflog". Surgiu tambm a primeira Fanfarra Feminina Simples da EEPSG "Walther Weiszflog". Toda essa revoluo musical voltada s crianas e aos adolescentes e jovens se deveu aos alicerces lanados pela Fanfarra Mista Simples Juvenil.
O conjunto de ttulos acumulados pela principal fanfarra caieirense rendeu dezenas de trofus, guardados na sede da instituio musical, em sala da escola que sempre comportou seus ensaios semanais. Desde 1973, a fanfarra j participou de 126 concursos, vencendo a maioria deles, tanto de projeo estadual, como nacional, como os da Rdio e TV Record, nos anos 70.
A seguir, a listagem dos ttulos conquistados pela Fanfarra Marcial Mista Simples da EEPSG "Walther Weiszflog" nos concursos dos quais participou desde 1989, ano do primeiro ttulo do campeonato estadual, at 1994:
(Texto baseado em documento da
Fanfarra M.M.S. Walther Weiszflog)
Ttulos da Fanfarra Marcial Mista Simples da EEPSG "Walther Weiszflog"
Ano Cidade sede ou entidade organizadora Colocao
1989 Jacare, SP campe
1989 Aruj, SP campe
1989 Catanduva, SP campe
1989 Itaquaquecetuba, SP campe
1989 Praia Grande, SP (1 ttulo do estadual) campe
1990 Jacare, SP campe
1990 Piedade, SP campe
1990 Aruj, SP campe
1990 Mongagu, SP (bicamp. estadual) campe
1990 Itaquaquecetuba, SP campe
1990 So Paulo, SP campe
1990 So Paulo, SP (1 ttulo nacional) campe
1991 Jacare, SP campe
1991 Piedade, SP vice-campe
1991 Aruj, SP campe
1991 guas de Lindia, SP (tricamp. estadual) campe
1991 So Paulo, SP (bicamp. nacional) campe
1992 Aorga, PR campe
1992 Aruj, SP campe
1992 Bebedouro, SP (tetracamp. estadual) campe
1992 So Paulo, SP (tricamp. nacional) campe
1993 Aruj, SP campe
1993 Atibaia, SP campe
1993 Santa Izabel, SP campe
1993 Bragana Pta., SP (pentacamp. estadual) campe
1993 So Paulo, SP (tetracamp. nacional) campe
1994 Monte Mor, SP campe
1994 Itaquaquecetuba, SP campe
1994 Aruj, SP campe
1994 Atibaia, SP campe
1994 Santa Izabel, SP campe
1994 Mau, SP (hexacamp. estadual) campe
1994 Socorro, SP (pentacamp. nacional) campe
Musical, por excelncia
Caieiras prova dessa forma que , sem dvida, uma cidade musical por excelncia. Essa realidade verificada graas aos esforos de todos os maestros que por aqui aram, desde o saudoso tenente Lencio, ando por Ablio Vieira, Artur Patti, Jos Bovolenta, Francisco Assis Fernandes e chegando ao talento contemporneo de Srgio Valbusa e Zlton Bicudo.
Ao longo dos anos, esses msicos foram ao encontro dos anseios da mocidade de Caieiras no cultivo da msica, deixando um legado precioso e honrando seu ado. Caieiras tem hoje a honra de ser representada por uma fanfarra tantas vezes campe, inclusive estadual e nacional de sua categoria, com mais de 800 pginas musicais compostas, inclusive de arranjos no mundo da msica.
H notcias de que, ainda nos anos 20, havia em Caieiras "fervorosos iradores" do jazz. Formou-se at uma banda, a Jazz Band Cayeirense, com alguns dos instrumentos tpicos da arte musical popular criada em Nova Orleans, nos Estados Unidos.
uma cidade que sempre teve a honra de possuir um acervo de elementos humanos composto de msicos preparadssimos para assumir qualquer responsabilidade no mbito musical. Com um contingente da ordem de 300 elementos ligados msica, permite-se a organizao at de uma orquestra sinfnica do maior gabarito.
Um centro de cultura
Entre as realizaes culturais recentes da cidade, destacou-se a construo do Centro Educacional e Cultural "Izaura Neves", inaugurado no final da gesto de Dr. Milton Ferreira Neves, em 1992. Era um velho sonho do povo de Caieiras a sua criao.
Palco para teatros, shows e palestras, amplo espao para bailes, salas de msica, vdeo, exposies etc... A sua utilizao nas istraes Dr. Milton e Nvio Drtora contribuiu para suprir as necessidades da populao quanto execuo de eventos culturais, que estavam escassos nos anos80. O Centro Cultural, com suas adequadas instalaes, se tornou um ponto de encontro da cultura com o povo.
Imprensa
Os jornais regionais
O ano de 1936 foi o que marcou para o bairro de Criscima a poca das maiores realizaes em prol de seu progresso. Surgiu em julho o jornal Vida Nova, que desde logo se tornou o defensor dos interesses do bairro, embora fosse sediado em Franco da Rocha.
Fundado por Dr. Armando Pinto, ampliou aos poucos sua divulgao e se tornou o peridico oficial no apenas de Caieiras, mas de todo o Municpio de Franco da Rocha, a quem Caieiras pertencia como subdistrito. O Vida Nova, muito colaborou na campanha de construo da Igreja de Santo Antnio de Criscima. Apesar dos boatos improcedentes sobre seu fechamento, o trabalho do jornal ainda continua ativo.
O Vida Nova sempre citado como o primeiro jornal a circular em Caieiras, embora existam notcias de que havia dois jornais na cidade j em 1925: O Pharol, fundado naquele ano por Gaffiero Genestretti, e Caib, mensageiro do Clube Atltico talo-Brasileiro, ento gerido por Antnio Pereira da Cruz.
O primeiro jornal com sede em Caieiras foi o Folha Regional, fundado em 1 de maio de 1976, por iniciativa do Sr. Peres, em formato standard.
Outros jornais aram a circular em Caieiras nos ltimos anos, alguns sediados na cidade, outros em municpios vizinhos. Entre eles, estiveram: Ida e Volta, Regional News, A Semana e outros.
Bairros
Formao de Criscima
Os primeiros proprietrios, os compradores da Vila Osrio e as precariedades do loteamento
Em 1930, era a Companhia Melhoramentos de So Paulo, em sua atividade sempre crescente, pois o que no lhe pertencia era somente a estao ferroviria da antiga “Inglesa”, a The So Paulo Railway Company Limited. Desta estao, partia um caminho muito mal conservado, que ava ainda por terras daquela Companhia, onde se viam algumas casas velhas. Seu destino era um pedao de terras que pertencia famlia Carmo Leite. Dirigindo-se ao Morro Grande, a ferrovia sempre atravessava propriedades da empresa fabricante de papel.
As dcadas que antecederam o surgimento do Bairro de Criscima incluram muitas vendas e compras. Cabe fazer um breve relato sobre o assunto.
No histrico daquele pedao de terras, no lugar denominado Criscima, com aproximadamente 20 alqueires, encontrava-se uma escritura particular da oitava dcada do sculo ado. Por meio dela, em 17 de novembro de 1879, o casal Benedito Barbosa e Benedita Cndido de Assis vendeu metade da propriedade a Jos Maria do Carmo e a Manoel Pereira da Silva, pelo preo de 26.500 ris. A sisa paga no talo foi de 1.590 ris. Essa sisa era uma designao antiga para impostos de transmisso de bens. Essas terras j tinham estado em posse do capito Domingos Manoel Barbosa, personalidade ligada histria de Franco da Rocha por ser um dos maiores proprietrios de terra de todos os tempos na regio. Entre as terras que lhe pertenciam, estavam as do Bairro do Mato Dentro.
Mais tarde, Manoel Pereira da Silva vendeu a parte que lhe pertencia a Joo Batista Carezato. Este, juntamente com Jos Maria do Carmo, resolve em 5 de setembro de 1917 extinguir aquele condomnio, cuja rea total era de 28 alqueires e 1.198 metros quadrados, conforme planta levantada em 1911 pelo engenheiro Luiz Delpy.
J o Stio So Francisco, uma vila ao lado de Criscima, foi vendido em 1910 por Antnio Henrique Marcondes e sua mulher para Joo Batista Carezato e sua esposa, que, por sua vez, o rearam ao padre Salvador Sorrentino. No mesmo ano, o sacerdote vendeu todo o lote de terras a Francisco Pinto Ferreira, que ou para Carlos Smith em abril de 1926. Smith venderia sua propriedade em 31 de outubro de 1938 para Pedro Van Tool e Carolina Dormeyer. O Stio So Francisco aria depois disso para a Sociedade Civil de Terrenos Criscima.
Voltando aos anos 20, com o falecimento de Jos Maria do Carmo, os 10 alqueires que ainda lhe pertenciam aram par seus filhos, Ambrosina do Carmo Buonaguide e Domingos Estevo do Carmo. Pelo desejo deste, os terrenos permaneceram em comum at 1930, quando ambos resolveram entrar num acordo, cada um ficando com cinco alqueires. Mas antes da diviso, Ambrosina j tinha vendido um alqueire a Carmem Peres de Oliveira, outro a Terezinha Camargo Pinto e um lote a Joo Simo, em 1927, tendo este construdo uma casa nas divisas da Companhia Melhoramentos.
Realizada a diviso, a planta levantada, foram locadas as duas avenidas, Criscima e Magnlia, que foram abertas por Dr. Armando Pinto. Ele contratou para esses servios o topgrafo Valdomiro Valim, fazendeiro em So Joo da Boa Vista. Todo o projeto combinava como o desejo de Ambrosina do Carmo Buonaguide de formar uma povoao, iniciando-a com a abertura da Avenida Criscima.
Em 1931, Dr. Armando Pinto, ao mandar abrir a Avenida Magnlia, determinou que fossem plantadas rvores em toda sua extenso, at o largo da Igreja de Santo Antnio.
Em seguida, recomeou Ambrosina do Carmo a venda de seus terrenos. D. Terezinha Camargo fez o mesmo sobre uma parte das terras que lhe couberam em toda a extenso da Avenida Magnlia.
Um dos primeiros adquirentes das terras de D. Ambrosina foi Jorge Simo, que construiu um prdio para armazm de secos e molhados, alm de uma residncia entrada do lado esquerdo da Avenida Criscima. Seguiam-se depois as construes dos prdios de Pedro Muro e de outras pessoas: Terezinha Camargo Pinto, Neflia Pereira dos Santos, Luiz Lopes Lansac, Frederico Traets, Jos Pereira dos Santos, Lenidas de Almeida e Manoel dos Santos Osrio.
Ao todo, D. Ambrosina do Carmo Buonaguide vendeu 28.540 metros quadrados para esses novos proprietrios. Os terrenos tinham frente para a Avenida Magnlia e fundos para a Avenida Criscima. Formou-se no local a Vila Osrio, vendida mais tarde a Dr. Armando Pinto e rico Linbrencht.
Uma agem interessante se deu quando se realizava a substituio do velho caminho, pela Avenida Criscima, qual o proprietrio do Stio So Francisco, Van Tool, se ops, chamando a polcia de Juqueri, a nica da poca na regio, a impedir as obras. Ele achava que o antigo caminho em direo ao seu stio devia ser conservado. Apesar da queixa levada a efeito na Delegacia de Polcia de Vila Juqueri, Tool no alcanou seu objetivo.
Pode-se afirmar que o surgimento de Criscima, portanto, se deu no ano de 1931, destinada a ser um povoado, no s pela situao topogrfica privilegiada, como tambm pelo modo com que foi conduzida pelos seus antigos proprietrios. Eles souberam vencer muitas dificuldades. Mesmo quando recebiam ofertas vantajosas para a venda daquelas terras, conseguiam conserv-la para que se preservasse o seu destino, hoje concretizado numa realidade.
Foi, portanto, D. Ambrosina do Carmo Buonaguide a pessoa que mais concorreu para que o Bairro de Criscima fosse formado, pois, ao lotear a sua parte sob orientao de Dr. Armando Pinto, fez questo de doar um terreno seu Mitra Diocesana de Bragana Paulista. Na faixa de terras doada, edificaria-se o Templo de Santo Antnio de Criscima, que mais tarde foi erigido. D. Ambrosina no se preocupou em concentrar terras especulativamente, dando o exemplo a outros proprietrios.
Em fins de 1931, algumas casas j estavam construdas, como as de Pedro Muro Vasquez, Terezinha Camargo Pinto, Luiz Lopes Lansac e Jos Pereira dos Santos.
Sem a ampliao do Bairro de Criscima, Caieiras no teria conseguido sua situao de cidade e esse progresso se deveu aos que, desde logo, venderam suas terras vizinhas a Criscima, formando a Vila Nova, que hoje constitui o Jardim So Francisco.
O loteamento de Vila Criscima foi o mais precrio que se possa imaginar, pois no houve nenhuma infra-estrutura dessas que hoje so exigidas para a aprovao de um loteamento. No tinha guias, sarjetas, gua, luz, esgoto a captao de guas pluviais. Naquele loteamento, havia apenas demarcao e capinao das ruas, alm do chamado piqueloteamento do terreno e mais nada.
No entanto, as pessoas compravam seus lotes, construam suas modestas casas, abriam um poo a fim de obter gua potvel, uma fossa negra para os detritos e faziam uma privada nos fundos do lote para evitar o mau cheiro. Assim, viveu aquele povo durante 30 anos, espera dos melhoramentos pblicos, o que finalmente veio aos poucos, para a felicidade de todos.
Da por diante, Criscima no mais parou. E em 1950, a Sociedade Amigos de Caieiras, que detinha os terrenos de Criscima, extinguiu-se, ficando os seus scios, Dr. Armando Pinto, Jos Csar de Azevedo Soares, Joo Batista Soldovieri, Armando Sestini e Manoel Gaspar, com o que lhes pertencia. No tardou para que as vendas fossem reiniciadas, entrando para o bairro as terras do antigo Stio So Francisco. Criscima ficou ento com 24 alqueires, incluindo todas as ruas.
Os quinhes de Laranjeiras
Antes do ano de 1928, as terras que hoje formam o Bairro de Laranjeiras constituam um stio que levava o mesmo nome. Sua superfcie era de 3.633.388 metros quadrados ou 150,14 alqueires de terra de primeira e segunda classe. O Stio das Laranjeiras tinha parte de suas terras j dentro do Municpio de So Paulo. O territrio que se encontrava em Caieiras tinha suas divisas iniciais no crrego da ex-Estrada Velha de Campinas, atual Rodovia Presidente Tancredo de Almeida Neves, quilmetro 27,9, na Fonte Alcina, muito conhecida pelos motoristas que utilizam aquela estrada. Seguia da em direo ao oeste, fazendo divisa com a Companhia Melhoramentos e com o Stio do Tijuco Preto. Ao norte, o stio encontrava as terras de Lcio de Freitas e do Hospital do Juqueri. A leste, dividia-se com o Stio do Castanho.
Eis que, no ano de 1928, Jorge Jos Simo, Domingos Garcia Serpa e outros proprietrios de terra resolveram dividir judicialmente o Stio das Laranjeiras. Para isso, nomearam Dr. Orlando Tiani, que acompanhou todo o processo de segmentao, terminado somente em 1942.
Terminada a primeira diviso, chegava a hora de dividir os quinhes. O quinho de nmero 9 coube a Antnio da Silva. Aps sua morte, os herdeiros venderam suas terras para os irmos Monteiro.
J o quinho 8 – A coube a Jorge Jos Simo, ficando este com divisas para a ento Estrada Velha de Campinas e a Avenida Padre Jos Csar de Oliveira (antiga Estrada do Morro Grande). Nesse local, Jorge Jos construiu um prdio e instalou nele o primeiro armazm do bairro, com a ajuda de seus filhos Afonso e Jos Jorge Simo. Era ainda 1933. Esta propriedade foi posteriormente vendida a Mariano Penha, que alugou o armazm para Jos Monteiro.
Os quinhes de nmero 1 e 5 ficaram para Antnio da Silva. Parte dos mesmos foi vendida em lotes. Um desses lotes originou a Vila So Gonalo, a primeira que surgiu no bairro. O quinho 7 pertenceu a Domingos Garcia Serpa e o 7 – B foi para Incio de Paula, quem dividiu-o em partes. Uma delas foi vendida para Antnio de Souza Dantas, que instalou naquele local a Indstria e Comrcio de Artefatos de Cimento e Laminao de Ferro de Caieiras, um empreendimento propulsor do progresso do bairro.
Os quinhes 12 e 14 – A ficaram para os sucessores de Joo Bueno de Moraes, enquanto o de nmero 13 foi destinado a Julio de Godi. Este recebeu tambm o 24, juntamente com Joo Bueno de Moraes. Dr. Baslio Milano Neto ficou com os quinhes 19 e 20, vendidos depois a Fiorello Pecicaco, que iniciou a explorao de uma mina de caulim. Essas terras foram mais tarde arrendadas por terceiros, que iniciaram a fabricao de tijolos em cinco olarias. Pecicaco comprou mais tarde outra propriedade, o quinho 22, de Jos Fanton.
O quinho 18 foi possudo por Ulisses Matarazzo, que vendeu para Alceu Rebelo, responsvel pela explorao de uma outra mina de caulim na regio.
Hoje, o Bairro de Laranjeiras est em franco progresso. Sua avenida principal e boa parte de suas ruas se encontram pavimentadas. H iluminao e completo servio de abastecimento de gua. Escolas de 1 e 2 graus, posto mdico e outros servios pblicos essenciais j esto instalados, permitindo que seus moradores no permaneam em dependncia com o centro da cidade.
Cabe resumir a histria de vilas antigas ligadas ao Bairro de Laranjeiras. Em 1964, Afonso Simo loteou as terras que havia adquirido dos herdeiros de D. Maria Joaquina das Dores e de outros proprietrios. A planta foi aprovada pela Prefeitura Municipal com 83 lotes, que constituam o Jardim So Simo.
Nesse loteamento, o proprietrio reservou um terreno para a construo de um grupo escolar, concretizado em 1968, na istrao do prefeito Jos Csar de Oliveira.
J as vilas So Miguel e Aju surgiram em decorrncia dos loteamentos realizados pelo senhor Miguel Hurtado em terrenos vindos de herana de sua esposa, D. Benedita de Moraes. Foi construdo nesse lugar um armazm pelo comerciante Paulo Ferreira.
Os loteamentos de Vila Maria e Vila Industrial foram realizados por Joo Xavier de Moraes. Entre os moradores mais antigos, estavam Constantino Soares de Campos. Aps seu falecimento, suas terras aram a seus dois filhos, Amncio Soares de Campos e Lindolfo Soares de Campos, que contavam com uma olaria e um fbrica de aguardente no local.
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Observao: A histria dos bairros ligados Companhia Melhoramentos de So Paulo e formados em seu prprio territrio pode ser lida em outros captulos desta obra. J o Bairro do Serpa tem algumas de suas informaes histricas tratadas na biografia de um de seus ex-moradores, Isaas Luiz Matiazzo.
Personalidades
O Guerreiro da F
Padre Aquiles Silvestre
Sacerdote funda primeiras entidades religiosas da regio e participa da 2a Guerra Mundial como capelo militar
Muitos dos principais momentos da prtica religiosa da regio, especialmente na primeira metade do sculo 20, se deveram liderana do padre Aquiles Silvestre.
Quando ainda jovem, iniciou seus estudos no Seminrio de Bom Jesus de Pirapora, numa cidade que recebe at hoje milhares de romeiros todos os anos. Ordenou-se sacerdote aps cursar o Seminrio Maior de So Paulo e chegou um Caieiras na dcada de 30, como capelo da Companhia Melhoramentos.
Contudo, sua misso religiosa no se limitou Melhoramentos. Ele estendeu suas atividades a todos os recantos: Vila Criscima, Monjolinho, Calcrea, Bom Sucesso, Laranjeiras, Morro Grande, Rio Abaixo e Santa Ins.
Em 1938, fundou a Associao de So Lus Gonzaga e, dois anos mais tarde, a Congregao Mariana Nossa Senhora do Rosrio. Essa entidade contava na poca com cerca de 150 jovens, possua um time de futebol – o Juvenil So Luiz Gonzaga – e outro de voleibol, que jogava noite num campo iluminado, freqentado por mdicos do Hospital Psiquitrico de Franco da Rocha, alm de jogadores dos times do Lapeaninho e do Esporte Clube Comercial da Lapa.
A Congregao Mariana tambm mantinha um corpo cnico formado por rapazes e moas dirigidos por Nelson Luiz Turini. Com cursos de teatro, coreografias e caracterizaes diversas, o grupo levou ao palco vrias peas, entre as quais, “A Destruio Mont Pele”, aplaudida freneticamente pela platia e reprisada a pedido da diretoria da Melhoramentos.
A Congregao tinha uma bela sede, com todo o conforto possvel e provida de jogos de xadrez, dama, pingue-pongue, tnis de mesa a uma biblioteca com grande acervo de obras literrias.
Em 1940, surgiu tambm a Pio Unio das Filhas de Maria, outro grupo lanado pelo padre. Em meio a todas essas iniciativas, ele encontrou tempo para instruir uma equipe de catequistas encarregados na preparao das crianas para a Primeira Comunho.
O curso hoje chamado supletivo, voltado ao ensino de adultos, j existia na dcada de 40 na cidade, fundado pelo padre Aquiles e lecionado pelos professores Jos Carlos da Silva Jnior, Constantino Trilha, Domingos Toigo, Ozrio Ferreira Camargo e outros.
A juventude feminina da poca no ficou de fora dos feitos do padre. Uma escola profissional para moas, com aulas de Educao Moral e Cvica, Literatura, Msica, Corte e Costura, Higiene, Culinria e Trabalhos Artesanais, foi outro projeto colocado em prtica pelo seu dinamismo.
A maior preocupao de padre Aquiles era elevar o nvel cultural e religioso da populao. Por isso, alm da ateno dada s suas escolas e aos enfermos que recebiam suas palavras de conforto, ele trouxe a Caieiras vrios conferencistas catlicos. Entre estes, destacaram-se os padres Banwar, diretor da Federao das Congregaes Marianas do Estado, Irineu Cursino de Moura, lder de todos os movimentos Marianos do Brasil, Jos Azeredo Santos, diretor da Ao Catlica de So Paulo, os comendadores Toloza e Melilo e o prprio D. Jos Gaspar de Afonseca e Silva, arcebispo metropolitano da Capital.
No ano de 1942, quando o Brasil entrou na Segunda Guerra Mundial, padre Aquiles foi convocado para servir como capelo militar da Fora Expedicionria Brasileira (FEB). Desembarcou com as tropas nacionais na Baa de Npoles, na Itlia, ingressando ao lado das fileiras de combate, quando sofreu todos os horrores da guerra. Acompanhou o desenrolar dos acontecimentos em companhia de outros capeles militares. Deu assistncia religiosa e levou o Sacramento da Extrema Uno aos brasileiros que tombavam no campo de batalha e que repousaram durante anos nas terras italianas do Cemitrio de Pistia, at que seus corpos fossem transportados de volta ao Brasil.
Padre Aquiles voltou em 1945, data do final do confronto mundial, permanecendo ainda um tempo em Caieiras. Como obteve o posto de capito, ou a prestar assistncia religiosa como capito militar no quartel do Segundo Exrcito, localizado Rua Conselheiro Crispiniano, em So Paulo. L foi graduado major e, com a mudana do quartel para o Parque Ibirapuera, foi nomeado proco da Freguesia do . Faleceu em meados da dcada de 60.
Em sua longa agem por Caieiras, padre Aquiles Silvestre deixou uma marca indelvel no corao de todos os que o conheceram. H quem ainda hoje se lembre de seus cativantes sermes proferidos com ternura em cerimnias natalinas ou religiosas em geral. Uma rua que faz esquina com a Avenida dos Estudantes, no centro de Caieiras, leva seu nome para a eternidade, na tentativa de se valorizarem as tradies da cidade.
O italiano seresteiro
Piacente Chivitarezzi
Primeiro cabeleireiro de Criscima se torna um grande agitador das festas populares
Nascido em torno de 1912, na cidade de Ortona Mare, Provncia de Kiete, na Itlia, Piacente Cevitarezzi veio ao Brasil por volta de 1940. Como bom italiano, era amigo da macarronada a do vinho. Com estatura mediana, meio obeso, rosto sereno, tinha uma alma expansiva e alegre, era espirituoso e brincalho. Assim se caracterizava o primeiro barbeiro de Vila Criscima, em Caieiras.
Piacente estava sempre disposto a qualquer empreendimento social ou filantrpico. Nas horas de lazer, reunia seus amigos de profisso – a maioria era formada de msicos como ele – para cantarolar trechos de operetas e canes de sua terra natal. Era comum encontr-lo em companhia de seresteiros como Bruno Pizocaro, Jacinto e Teodoro Berruezzo e outros. Nas noites de luar, costumavam fazer serenatas, cantando com acompanhamentos de violes e pandeiros.
Esse mesmo grupo fundou a primeira escola de samba de Vila Criscima, numa poca em que folias de carnaval eram muito diferentes das festas atuais. Piacente foi tambm o primeiro Rei Momo local.
Com o ar do tempo, o primeiro grupo de seresteiros foi substitudo por outro de maior nmero, do qual faziam parte Armiro Leite, Renato e Raul Massinelli, Benedito Rodrigues e tantos outros, como ex-militar Francisco de Assis Fernandes. Nessa corporao, encontravam-se exmios saxofonistas, violinistas e clarinetistas. Eles solavam de seus repertrios as mais lindas composies de Zequinha de Abreu e outros compositores famosos.
Embora sem o conforto de hoje, o povo de Caieiras vivia numa atmosfera de paz e harmonia.
O Anjo da Medicina
Vctor Teixeira
Primeiro farmacutico da cidade cuida da sade de uma populao inteira
O primeiro farmacutico de Caieiras foi Vctor Teixeira, morador da Rua dos Coqueiros, propriedade da Companhia Melhoramentos, que foi depois batizada com seu prprio nome. Residia numa casa que tinha na parte da frente uma farmcia muito bem montada. Nos fundos, ficava a residncia do farmacutico.
Desde a dcada de 30, Vctor exerceu a profisso como um verdadeiro sacerdcio. Como nico farmacutico da regio, tinha sob sua responsabilidade o trato da sade de toda uma populao, mesmo porque, alm do tratamento de todos os empregados da Melhoramentos, atendia s necessidades dos bairros mais longnquos, desde a Calcrea e o Bom Sucesso, at a Santa Ins, divisa com o Municpio de Mairipor, antigo Juqueri.
Nessa poca, alm dos produtos de linha fabricados nos laboratrios, havia alguns manipulados na prpria farmcia de seu Vctor. Quando essa manipulao tornava-se difcil devido gama dos componentes, os mesmos eram encomendados na Botica Viado d’Ouro, Rua So Bento, na Capital.
Vctor Teixeira atendia a todos, indistintamente, no apenas os pacientes que chegavam at a farmcia, como tambm aqueles que, impossibilitados de caminhar, recebiam sua visita em casa, sendo tratados por aquele profissional zeloso e competente.
Por isso, muitas pessoas foram salvas de molstias perigosssimas, tais como ttano, tifo etc. quando esses males eram diagnosticados pelo farmacutico caieirense, os pacientes atingidos eram imediatamente encaminhados para hospitais de maiores recursos, como o Hospital e Isolamento Emlio Ribas, Hospital das Clnicas, Santa Casa e outros.
Vctor Teixeira, em sua agem entre ns, tal como um anjo, deixou uma imensa saudade.
A dama idealista
Ambrosina do Carmo Buonaguide
Proprietria de terras semeia o nascimento de Criscima e doa terras para a construo de um templo catlico
Em 30 de setembro de 1882, nascia Ambrosina do Carmo Buonaguide, filha de Tereza de Jesus e de Jos Maria do Carmo, um dos primeiros proprietrios de terra na regio onde posteriormente seria edificada Caieiras. Casou-se mais tarde com Antnio Buonaguide, de quem herdou o sobrenome.
Ambrosina, na sua simplicidade de mulher humilde, despretensiosa e, ao mesmo tempo, idealista, foi sem dvida, a figura principal na formao do bairro de Criscima, o primeiro da cidade fora dos domnios da Companhia Melhoramentos e que hoje compe a sua regio central.
A posse das terras herdadas de seu pai foi sempre valorizada por ela, apesar das vantajosas ofertas que recebiam para vend-las. Mas Ambrosina sabia que se vendesse a um latifundirio ganancioso e egosta, Caieiras jamais teria condies de um dia chegar a ser uma cidade independente, pois continuaria sempre como subdistrito do Municpio e Comarca de Franco da Rocha.
Com a morte de seu pai, Ambrosina e seu irmo Domingos Estevo do Carmo ficaram com 10 alqueires de Criscima. Em 1930, ambos resolveram entrar em acordo, cada um ficando com cinco alqueires. Mas antes da diviso, Ambrosina do Carmo j havia vendido alqueires para Carmem Peres de Oliveira e Terezinha Camargo Pinto, alm de um lote a Jorge Simo, que construiu uma casa nas divisas da Melhoramentos.
Desde logo, Ambrosina demonstrou o desejo de formar uma povoao, comeando-a com a abertura da Avenida Criscima, ao mesmo tempo em que se instalava outra avenida – a Magnlia. Essa vontade de Ambrosina sofreu oposies, como a do sitiante Pedro Van Tool, contada no histrico de Criscima.
Em 1931, aps a abertura da Avenida Magnlia, Ambrosina reintroduziu a venda de seus terrenos para muitas das personalidades da poca, tambm enumeradas no captulo sobre Criscima. Foi, portanto, Ambrosina do Carmo Buonaguide a pessoa que mais concorreu para que o bairro de Criscima fosse formado em fins de 1931.
Ela tinha dois sonhos: ver Criscima transformada em cidade e construir um templo religioso no local.
Diante do desejo manifestado de levantar uma capela em louvor a Santo Antnio, ento o futuro padroeiro da cidade, reservou um terreno para esse fim. Ambrosina foi plenamente amparada por Dr. Armando Pinto, o qual declarou que, ao invs de uma capela, propugnasse pela construo de uma igreja maior, j prevendo o aumento da populao. As terras doadas aram a totalizar 8.670 metros quadrados, o suficiente para a construo no s do templo, mas tambm da casa paroquial, de uma concha acstica e de um jardim. O terreno foi doado mais tarde Mitra Diocesana de Bragana Paulista, cujo bispo titular era D. Jos Maurcio da Rocha.
Para a realizao desses sonhos, Ambrosina lutou contra tudo e contra todos, sem trguas, no apenas pela preservao das terras que cumpririam sua predestinao de serem uma cidade, como tambm por meio da doao da bela rea Diocese de Bragana.
Antes de falecer, em 9 de janeiro de 1962, Ambrosina foi levada casa de sua filha Maria Salete, na cidade de Itatiba, interior de So Paulo. Seus restos mortais foram transladados para o Cemitrio da Saudade, em Caieiras, graas ao empenho de dona Afonsina Schirmanoff. Esta senhora, embora sem parentesco com Ambrosina, nem consangneo, nem afins, sempre a apoiara em todas as suas atividades.
Alm de Maria Salete, falecida em abril de 1980, Ambrosina do Carmo Buonaguide deixou os filhos Pedro e Benedito, que morreram em agosto de 1982 e maro de 1983, respectivamente. Antnio j havia falecido muito antes, em outubro de 1949.
O Heri dos Trilhos
Antnio Generoso da Silva
Cabineiro ferrovirio evita choque entre trens e salva 3 mil pessoas de uma tragdia
Antnio Cotia era o apelido de um homem simples, honesto e trabalhador. Seu nome completo era Antnio Generoso da Silva e ocupava o posto de cabineiro da Estrada de Ferro The So Paulo Railway Company Limited, comumente chamada de “Companhia Inglesa”.
Logo que se abriu o loteamento de Vila Criscima, em Caieiras, Antnio comprou um terreno e construiu uma casa onde ou a morar com sua famlia, acabando de criar seus filhos Joo, Hortncia, Pedro e Erclia.
Mesmo dada simplicidade de seu servio, Generoso o desempenhava com carinho e senso de responsabilidade, sendo, ao mesmo tempo, um grande observador, atributos que hoje caracterizam poucas pessoas. No exerccio de sua profisso de cabineiro, um fato merece ser relembrado.
No ano de 1940, havia um trem expresso que partia da Estao de Barretos, interior do Estado, transportando ageiros para So Paulo e Santos. Esse trem era especial, j que levava ageiros para Santos com destino ao Exterior. Seguia, ento, um horrio institudo de acordo com a partida dos navios. Da a importncia desse expresso.
Sua agem pela Estao de Caieiras dava-se, todos os dias, invariavelmente, s 6h40. O cabineiro Generoso, em todas as manhs, no exato momento em que recebia o sinal pelo telgrafo sobre a agem daquele trem pela Estao de Franco da Rocha, interceptava tambm outro sinal, que avisava a chegada de um trem cargueiro em Perus.
Quando o expresso apontava na curva prxima estao caieirense e ava pelo sinal de distncia, surgia, do outro lado, o trem cargueiro. O cruzamento entre eles ocorria exatamente na altura da plataforma de Caieiras.
Porm, um dia, o trem de Barretos ficou retido na “Cidade dos Pinheirais” por obra de Generoso. O cabineiro recebeu o sinal das agens do expresso e do cargueiro pelas estaes costumeiras, tudo muito bem. O expresso apontou na curva da estrada e o cabineiro deu agem com o sinal de distncia, aguardando o aparecimento do cargueiro na curva oposta. Acontece que, enquanto o expresso ava pela estao em alta velocidade, o cargueiro continuava sem aparecer. Antnio entrou em desespero.
O nico remdio que restava era baixar o sinal de distncia, pois o trem j havia ado a estao. Seu espanto aumentou quando observou que o sinal j se encontrava abaixado e, conseqentemente, com indicao de luz vermelha. Sendo assim, a responsabilidade de sua profisso em relao s normas da estrada no o fez ter dvidas em parar o trem.
Aps trs apitos de praxe, desligou a presso da mquina e comeou a acionar os freios. Ainda assim, o trem caminhou uns 500 metros, at que tivesse condies de parar e dar r at a cabina da estao.
Ao encostar a mquina prximo cabina, algum comeou a brincar com Generoso. “Que h com voc, velho cismado? Por acaso dormiu descoberto? Ora, eu preciso ir embora, tenho horrio a cumprir. Afinal, que brincadeira essa?”
“Por nada deste mundo eu soltarei esse trem sem saber o que aconteceu com o cargueiro que cruza com ele aqui”, respondia Generoso a todos os protestos. O maquinista insistiu dizendo que o expresso e o cargueiro tinham linhas diferentes e que, portanto, no haveria perigo algum de se chocarem.
ado uns 15 minutos, aps terem discutido muito, eis que surge distncia, vindo pela linha, um guarda correndo e tremulando uma bandeira vermelha. “Voc est vendo, alguma coisa est acontecendo, vamos esperar”, disse Generoso ao maquinista. Quando o guarda chegou esbaforido, cansado e chorando, provocou uma consternao geral.
Mal podendo se expressar pediu a Generoso que telegrafasse para a central ferroviria o mais breve possvel o aviso de que o cargueiro havia descarrilhado e se encontrava estraalhado perto da regio conhecida como Ponte Seca. No havia, felizmente, quaisquer vtimas, mas os destroos atravancaram as duas linhas, com os vages amontoados e ocupando todo o espao, de um lado a outro da estrada.
Generoso acionou rapidamente o telgrafo, avisando Central daquela estrada que havia um bloqueio entre as estaes de Perus e Caieiras, o que no permitia a mnima condio de agem.
Dessa forma, o expresso foi recolhido ao desvio, onde ou um dia e uma noite, at que a linha fosse totalmente desobstruda para o trfego normal. Para a alegria geral e pela Providncia Divina, o trem de ageiros de Barretos se encontrava ainda so e salvo na Estao de Caieiras. Se tivesse prosseguido, no haveria provavelmente ningum entre eles para contar a histria do iminente acidente.
A diretoria da estrada, ao mesmo tempo em que mandava para Caieiras guindaste e pessoal especializado para tratar dos consertos, tambm entrou em contato com a Companhia Melhoramentos de So Paulo. Ela pedia para que os operrios da empresa fossem dispensados do servio naquele dia, a fim de poderem ir at o local do acidente para aproveitarem a carga espalhada pela linha.
No momento em que o guindaste levantava os vages, colocando-os sobre os trilhos, uma multido de operrios ensacava e levava mercadorias perecveis, como arroz, feijo, batata e farinha de trigo.
Toda a carga gozava de cobertura securitria, o que evitou prejuzo aos transportadores. Com o aproveitamento daquelas mercadorias, os operrios pouparam meses de salrio.
Antnio Generoso, responsvel pelo salvamento de um contingente aproximado de 3 mil pessoas, foi premiado pela istrao da “So Paulo Railway” com medalha de honra ao mrito.
O grande lder poltico
Gino Drtora
Eleito prefeito para trs mandatos, ele se tornou a figura pblica mais carismtica da cidade at o final dos anos 80
Gino Drtora nasceu em Caieiras no dia 17 de dezembro de 1925, filho de Joo Drtora e Arminda Cavalheri. Casou-se em 1950 com Ruth de Carvalho. O casal teve sete filhos: Maria Ins, Snia Regina, Glria Maria, Mrcia, Gino, Joo, e Stella Regina. Estes originaram 13 netos para o casal Gino e Ruth.
Em 1954, Gino Drtora concluiu o Curso Tcnico de Agrimensura. Comeou a vida poltica nesse perodo, sendo candidato a prefeito de Franco da Rocha. Em 1956, foi nomeado subprefeito de Caieiras, quando seu territrio ainda era distrito. Nesse perodo, organizou-se a Comisso Pr-Emancipao de Caieiras.
Em 1958, freqentou o Curso Bsico de Urbanismo e, no ano seguinte, conquistou seu mandato prprio, que se iniciou em 1960, sendo eleito com mais de 70% dos votos.
Como primeiro prefeito, teve a tarefa de organizar a Prefeitura de Caieiras e realizar obras como o Centro Esportivo Municipal, postos de sade e escolas.
Em 1963, tornou-se professor no Colgio Tcnico de Jundia, ocupando em seguida o cargo de coordenador do curso de Topografia. Fez curso de Geologia para engenheiros rodovirios pelo IPR. Apresentou tese, a qual foi aprovada no 7. Congresso Brasileiro de Cartografia, na Cidade Universitria, em So Paulo. Recebeu tambm o ttulo de um dos prefeitos mais atuantes do Estado de So Paulo.
Em 1968, foi eleito prefeito pela segunda vez, governando Caieiras durante cerca de oito meses, pois a Cmara Municipal, sendo oposio, o afastou do cargo de prefeito, j que lecionava noite no Colgio Tcnico de Jundia.
Em 1970, tornou-se engenheiro agrimensor, formando-se pela Escola Superior de Agrimensura, em Araraquara, interior do Estado. Em 1971, recebeu o certificado de concluso do Curso de Treinamento em Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado. Nesse mesmo ano, recebeu um diploma de Honra ao Mrito Filatlico e Numismtico, no Instituto Kennedy de Educao, pelo Conselho Estadual de Cultura, Esporte e Turismo do Estado de So Paulo.
Foi eleito pela terceira vez prefeito de Caieiras em 1976. Fez questo de atender pessoalmente a todas as pessoas que o procuravam para a soluo dos seus problemas. Essa istrao foi marcada pela realizao de vrias obras, tendo concorrido contra trs candidatos. Foi candidato a deputado estadual por trs vezes.
Em 1977, concluiu o curso de istrao Municipal, por meio de convnio entre o Tribunal de Contas da Unio e a Associao Brasileira dos Municpios. Dois anos mais tarde, ganhou o ttulo de Comendador da Sociedade Brasileira de Herldica e Medalhstica de So Paulo.
Em 1988, foi candidato a prefeito pela quarta vez, quando j se achava enfermo, tendo sido operado do corao. Mas tinha muita fora de vencer, pois dedicou quase toda sua vida por Caieiras, pelo seu povo e pela sua famlia. Perdeu pela diferena de 900 votos.
Faleceu em 30 de novembro de 1988, aps a realizao de todo esse grande trabalho para a populao de Caieiras, deixando um exemplo de vida e de trabalho para os futuros governadores de nosso municpio.
O inventor do crepom
Ubaldo Meneguini
Operador de mquinas descobre a frmula de um papel que revolucionaria o mercado
Ubaldo Meneguini foi uma das pessoas que conheceram de perto as primeiras instalaes da Companhia Melhoramentos, especialmente as mquinas de nmeros 1 e 2, que foram sempre conservadas e tratadas como verdadeiras relquias, j que representavam o marco inicial na fabricao do papel no Estado de So Paulo.
Comeou sua carreira profissional na Melhoramentos quando ainda muito jovem. Inicialmente, trabalhou em vrios setores da empresa, at mesmo em servios braais, como ajudante de armazm, caixeiro etc. Foi transferido mais tarde para a seo de fabricao e, durante esse perodo, sua inteligncia e esprito de observao propiciaram uma descoberta enquanto trabalhava como operador da mquina 2. Com a adaptao de alguns dispositivos tcnicos, a mquina poderia fabricar um tipo de papel de alta categoria.
Ubaldo ou a pensar seriamente no assunto e quando seu plano j se encontrava amadurecido, apresentou-o Companhia. Aps realizados os testes, a Melhoramentos concluiu pela exeqibilidade do projeto e ou logo para a produo. Assim, nascia o papel crepom, hoje largamente usado em enfeites, decoraes e outras finalidades.
A istrao da empresa reconheceu plenamente Ubaldo Meneguini, pois, alm de ser um funcionrio zeloso e prestativo no cumprimento de seu dever, possua um esprito dinmico e criativo. Por isso, recebeu dela uma premiao especial e uma medalha de honra ao mrito.
O motorista da Revoluo
Armiro de Oliveira Leite
Garoto de 14 anos se junta s tropas paulistas de 1932 contra o governo de Getlio Vargas
A histria do interiorano Armiro de Oliveira Leite relata a saga de um menino que, com apenas 14 anos, participou da Revoluo Constitucionalista de 1932, que marcou o confronto do Estado de So Paulo com o governo de Getlio Vargas, ento ocupante do poder h dois anos em carter supostamente provisrio.
Ainda em tenra idade, Armiro j era um excelente motorista. Com grande destreza, dirigia o caminhozinho Ford Bigode, da fazenda em que trabalhava com seu pai, na regio de Valinhos, sua terra natal. O garoto dirigia com tanta tranqilidade aquele caminho que parecia estar sentado no banco de sua casa. Conhecia as estradas mais prximas como a palma de sua prpria mo. Subia as serras e descia os morros, engatando as difceis marchas de cmbio seco com muita facilidade, o que exigia grande habilidade do motorista.
Estvamos em plena guerra. Os paulistas lutavam contra todos os demais Estados da Unio e perdiam a batalha. A Estrada de Ferro Sorocabana transportava em seus trens centenas de mutilados e cadveres. As tropas do Governo Federal ameaavam por todos os lados, fechando o cerco. As notcias que se ouviam pelo rdio diziam: “As tropas do Governo j ganharam Cascavel, j ganharam Cascadura, j ganharam Caconde e vo a Campinas”.
E assim, para a surpresa da famlia de Armiro, apareceu em sua casa um grupo de combate composto de um sargento e cinco soldados. O sargento dirigiu-se ao dono da casa perguntando se ali morava o motorista da fazenda. Como a resposta foi afirmativa, o sargento quis v-lo imediatamente. Foi ento apresentado Armiro ao sargento, que disse lamentar que ele fosse to jovem, mas que precisava incorpor-lo s tropas como combatente. Apesar da estranheza, l se foi o garoto, com apenas 14 anos de idade, para atuar como motorista do exrcito de voluntrios paulistas. O caminhozinho da fazenda tambm foi requisitado pela tropa.
Quanto ao trabalho, Armiro no teve nenhuma dificuldade. J estava acostumado a trafegar atravs daquelas estradas empoeiradas do Interior. Mas, por outro lado, era muito diferente, j que estava operando para uma tropa militar e, por isso, no era apenas um motorista. Era tambm um soldado e ele se compenetrou nessa nova realidade.
Um dia, Armiro trafegava tranqilamente com um carregamento de munies de um acampamento para outro em companhia de mais dois soldados. Para sua surpresa, pde observar pelo vidro retrovisor do caminho que estavam sendo perseguidos por um avio inimigo, justamente dos vermelhinhos, bombardeiros que faziam parte das tropas do Governo Federal.
O motorista s teve tempo de parar o caminho e gritar para os soldados para que fugissem do local. Armiro tinha ouvido os soldados comentarem que se esconderiam embaixo do caminho, o que seria certamente fatal. Armiro no hesitou. Saiu correndo, at encontrar um buraco no qual pulou e de onde ficou ouvindo os estrondos das bombas incendirias atiradas pelo avio no bombardeio.
ado o momento de tenso, Armiro saiu do buraco e caminhou por uma fumaceira infernal procura dos companheiros, que nunca mais seriam encontrados. A nica viso que pde ter foi a dos escombros do caminho que jazia em chamas, com as rodas para o ar. Nada mais.
Triste e desolado, ele voltou fazenda a fim de encontrar o fazendeiro de quem pretendia se despedir. Chegando l, recebeu o conselho de que no sasse sozinho pelas estradas, pois elas estavam fortemente policiadas. Se sasse sem companhia, certamente seria capturado como desertor.
O fazendeiro mandou arrear o seu fogoso cavalo alazo e mandou Armiro trocar as roupas de soldado por trajes de bia fria. Com um velho chapu de palha, l se foram o fazendeiro, a cavalo, e Armiro, na garupa. No chegaram caminhar um quilmetro e j foram barrados pela Polcia Militar da poca. Aps a revista de praxe, um policial perguntou ao fazendeiro quem era aquele jovem personagem que trazia na garupa do cavalo. Justificando que era seu empregado de confiana, o fazendeiro conseguiu liberar Armiro para voar rumo sua casa como um pssaro livre.
Anos aps essas aventuras de menino heri, Armiro veio a Caieiras, onde se radicou com sua famlia. Casou-se e criou seus filhos. Dedicou-se intensamente msica e s atividades sociais.
J aposentado do funcionalismo pblico, pde se lembrar dos velhos tempos, das noites de serestas, quando era acompanhado do velho maestro Francisco Assis Fernandes e de seresteiros como Renato e Raul Massinelli, Benedito Rodrigues, o “Guta”, e outros. Nas belas noites de luar, o grupo caminhava pelas ruas de Vila Criscima, parando aqui e acol para executar as mais belas pginas de seu repertrio.
Nos encontros, o maestro Assis Fernandes se lembrava de seus velhos tempos de saxofonista na Marinha de Guerra do Brasil. Nas grandes paradas dos marinheiros, com seu uniforme branco imaculado, Fernandes executava com seu reluzente saxofone as mais lindas marchas militares brasileiras (sua biografia est escrita no captulo a seguir).
J Armiro aproveitava para lembrar tambm de seus velhos tempos de funcionrio do Hospital Psiquitrico de Franco da Rocha. Por ordem de Laudo Natel, governador de So Paulo pela primeira vez no perodo de 1966 a 1967, Armiro fundou naquele estabelecimento a Corporao Musical dos Pacientes do Hospital de Franco da Rocha.
O marinheiro saxofonista
Francisco Assis Fernandes
Militar que defendeu o Brasil na 1a Guerra Mundial funda grupo escoteiro e compe hino cidade
“Idealista e realizador, filho do norte do Brasil”. Estas foram as palavras que um artigo publicado no jornal Vida Nova, o primeiro a circular em Caieiras, usou para homenagear, em 1942, Francisco Assis Fernandes, uma das personalidades mais importantes da histria da formao da cidade.
Ele teve grande papel nas Foras Armadas do Brasil. Serviu oito anos na Marinha de Guerra, “junto das guarnies do ‘Minas Gerais’, ‘So Paulo’, ‘Deodoro e Floriano’ e do ‘Cruzador Barroso’, fazendo parte da reserva naval”, conforme descreve o Vida Nova.
Na Primeira Guerra Mundial (1914 – 1918), Assis Fernandes j compunha a Armada Nacional e, na condio de marinheiro, ajuda a patrulhar a costa brasileira.
Seu esforo na formao da sociedade caieirense tambm foi destacvel.
A primeira festa de Natal da cidade contou com sua organizao. O xito foi to expressivo que a Companhia Melhoramentos, que apoiava esse tipo de atividade, o incumbiu de organizar as festas natalinas dos anos seguintes. Era uma tradio caieirense que se iniciava, graas ao zelo de Francisco Assis Fernandes.
Uma de suas maiores faanhas foi a fundao do Escotismo em Caieiras, no ano de 1923, quando arregimentou dezenas de meninos, com a colaborao de seu amigo Miguel Lopes. O batalho de escoteiros de Francisco transmitiu conhecimentos para jovens que eram filhos de operrios, professores universitrios e outros profissionais. Surgiram depois as primeiras excurses s praias de Santos.
Depois de tanto servir Caieiras, o ex-militar manifestou desejo de voltar a servir a Ptria, reingressando no trabalho militar.
No natal de 1958, Assis Fernandes comps uma partitura musical para comemorar a vitria da emancipao poltico-istrativa de Caieiras, ocorrida em 14 de dezembro daquele ano.
Foi maestro das primeiras bandas fundadas em Caieiras, nas quais sua atuao est destacada no captulo sobre a msica na cidade.
O tijoleiro do Serpa
Isaas Luiz Matiazzo
Jovem do Interior vende tijolos para uma cidade em formao e contribui na fundao de um grande bairro
Isaas Luiz Matiazzo nasceu no dia 11 de maro de 1911, em Valinhos, interior do Estado de So Paulo, terra do figo e da boa uva. L viveu 33 anos, casando-se com D. Cezira Trivelato Matiazzo. Dessa unio, nasceram oito filhos.
Sua chegada a Caieiras se deu no comeo de 1944, quando pretendia visitar seu irmo Edmur Matiazzo. Isaas ficou encantado com o lugar, mais precisamente com o Bairro do Serpa, a ponte de resolver se transferir com sua famlia ainda em maio daquele ano.
Naquela poca, a populao do Serpa era constituda por mais ou menos umas trs famlias. No havia nenhum melhoramento pblico, a terra era virgem e coberta de luxuriante vegetao.
Isaas, jovem dinmico e trabalhador, confiante no futuro de Caieiras, reuniu seus parcos recursos que trouxe da terra natal e adquiriu um terreno ao lado da propriedade de seu irmo Edmur. Juntos, construram uma pequena olaria. Com o novo negcio, aram a fabricar tijolos de muito boa qualidade e a vend-los populao que se formava tanto no Serpa como em Criscima e adjacncias. A regio crescia, casas surgiam e tijolos eram um tipo de produto muito bem-vindo.
Com o esforo dos dois irmos e a ajuda de seus filhos, que cresciam, foi possvel comprar em pouco tempo um caminho. Por meio dele, prestaram relevantes servios populao de Caieiras. Alm de levar e trazer seus produtos, o caminho atendia s necessidades da populao mais carente, que no tinha o ao transporte de mdicos, parteiras e gestantes, dada a falta de veculos automotores.
O empreendedor Isaas participou ativamente de todos os movimentos filantrpicos, na construo de templos, de escolas e de sociedades recreativas. Lutou tambm pela emancipao poltica e istrativa de Caieiras, um movimento singular em sua histria. Com muita honra, seu nome foi dado uma escola de primeiro grau do Bairro de Vera Tereza, graas ao Decreto Lei n 4.263, de 20 de setembro de 1984, da Assemblia Legislativa do Estado de So Paulo, de autoria do deputado estadual Randal Juliano Garcia.
Desde 1944, Isaas ou a fazer parte do cl das folias tradicionais de Caieiras, colaborando em tudo para o progresso da cidade. Seus efeitos merecem registro na memria da “Cidade dos Pinheirais” e de seu povo.
O pesquisador dos vegetais
Mrio Meneguini
Cientista caieirense ganha destaque no Instituto Biolgico de So Paulo e alcana projeo internacional
No dia 19 de dezembro de 1968, o Instituto Biolgico de So Paulo perdeu prematuramente um de seus mais brilhantes pesquisadores, o Dr. Mrio Meneguini, ento chefe da Seo de Bioqumica Vegetal.
Nascido em Caieiras a 19 de agosto de 1914 ou sua infncia na cidade natal, onde aprendeu as primeiras letras freqentando diversas escolas rurais e grupos da regio. Mais tarde cursou o Colgio “Oswaldo Cruz”, na capital paulista, no perodo noturno. Durante o dia, trabalhava como auxiliar de laboratrio na fbrica de papel da Companhia Melhoramentos, em Caieiras.
Excelente estudante ingressou em 1935 na Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”. Formou-se trs anos depois, quando recebeu o prmio “Epitcio Pessoa”, que era concedido ao aluno que mais se destacava durante o curso.
Enquanto estudante universitrio foi diretor do Departamento Cientfico do Centro Acadmico “Luiz de Queiroz” e teve seu encargo a folha agrcola semanal do Jornal de Piracicaba.
Em 1939, depois de um breve estgio na Seco de Gentica do Instituto Agronmico de Campinas, foi convidado para substituir o assistente da cadeira de Qumica Agrcola da Escola Superior de Agricultura (E.S.A) “Luiz de Queiroz”, ali permanecendo por dois anos com a responsabilidade das aulas prticas e, no raro, das tericas.
Foi contratado como assistente da Seco de Qumica do Instituto Agronmico do Norte, em Belm, Par, no ano de 1942. Encarregado de organizar e chefiar uma expedio regio do Jaci-Paran, fez um levantamento preliminar dos solos da regio e, pela primeira vez, foram retiradas tecnicamente deles amostras que foram levadas para anlise no instituto de Belm.
Dois anos depois, foi convidado para trabalhar na Seco de Fisiologia Vegetal do Instituto Biolgico de So Paulo. A chamada “tristeza das laranjeiras” era ento, o problema mais srio da citricultura e, talvez, de toda a fitopatologia. Tinha destrudo os laranjais de Java e da Argentina, dizimava os nossos e ameaavam os da Califrnia, nos Estados Unidos. Discutia-se, entre muitas hipteses, a possibilidade de se tratar de uma incompatibilidade fisiolgica entre o porta-enxerto de laranja azeda e o enxerto de laranja doce. Entretanto, os indcios de que a “tristeza” era uma doena infecciosa se acumulavam. Trabalhando arduamente e pesquisando essas duas possibilidades, Mrio terminou por demonstrar, pela primeira vez, que a doena era uma virose transmitida pelo pulgo da laranjeira (Toxoptera citricidus).
Dois anos depois, tendo recebido do Governo do Estado de So Paulo uma bolsa de estudos, viajou para a Califrnia, permanecendo em Berkley at 1950. Durante sua estadia nos Estados Unidos, especializou-se em bioqumica e virologia vegetal, em colaborao com o professor Dr. C.C. Delwiche, como assistente de pesquisa do Departamento de Patologia Vegetal da universidade.
De volta ao Brasil, Meneguini prosseguiu seus estudos e pesquisas em bioqumica e virologia e, em 1954, com a ajuda do cientista Dr. Darcy M. Silva, purificou o vrus do mosaico do quenopdio. A importncia desse trabalho consistiu, especialmente, no fato de ter sido este o primeiro vrus purificado no Brasil.
No mesmo ano, foi contemplado com outra bolsa, desta vez, da Fundao Guggenheim. Voltou a Berkley, agora como pesquisador associado do Departamento de Patologia Vegetal da Kearney Foundation, onde realizou importantes estudos.
Ainda em 1954, tornou-se encarregado de chefia da Seco de Bioqumica Vegetal do Instituto Biolgico de So Paulo, cargo este que ocupou at seu falecimento. Com a ajuda de seus assistentes, continuou suas pesquisas sobre problemas da multiplicao dos vrus nas plantas e, de modo especial, das substncias e processos que poderiam inibi-la, tendo-se em vista uma possvel quimioterapia para doenas causadas por esses vrus.
Mrio Meneguini foi um dos primeiros pesquisadores no Brasil a se interessar e trabalhar com cidos nuclicos de vrus e das plantas. Nesse assunto, formulou inmeras hipteses bsicas e, dentre elas, uma especial, que tratava do mecanismo de inibio do vrus do mosaico do fumo pela ao do cido ribonuclico de fermento. Nesse trabalho, ele conjugou esforos para sua resoluo a partir de 1963.
Trabalhando arduamente sobre esse assunto, chegou a concluses que faziam do trabalho uma pea importantssima dentro dos conhecimentos bsicos da terapia dos vrus. Entretanto, por ser uma pesquisa to importante, deteve-se prolongada e minuciosamente em cada o do problema. Contra sua vontade, acabou vendo publicado por outros autores um trabalho anlogo. Os dados de que dispunha eram suficientes para a elaborao de toda uma tese, mas teve que apresent-los apenas como uma nota, que nem sequer pde ver publicada.
Em 1965, o cientista caieirense comeou seus estudos em mais dois assuntos, bastante atuais e importantes para a definio de inmeros problemas tericos e prticos dentro da bioqumica e da fitopatologia. Um deles, com a colaborao de tcnicos de uma seco de fisiologia vegetal, referia-se a investigaes sobre a germinao de sementes e fotomorfognese, a respeito do que publicou diversos trabalhos cientficos. O outro tema visava o estudo do mecanismo de resistncia das plantas s doenas causadas por fungos e vrus, bem como das substncias naturais envolvidas nesse mecanismo, capazes de conferir maior ou menor resistncia s plantas.
Paralelamente, principiou pesquisas sobre a ao dos inseticidas, utilizando-se de material radioativo. Para o desenvolvimento desses trabalhos, montou um laboratrio altamente especializado em pesquisas com radioistopos.
Dr. Meneguini era membro de diversas sociedades cientficas brasileiras e internacionais, tais como: Sigma-X, American Phytopathological Society, International Organization of Citrus Virologist, Sociedade Brasileira de Botnica, Sociedade Brasileira de Biologia e Medicina Nuclear e Sociedade Brasileira para o Progresso da Cincia, a SBPC.
Ao lado das atividades cientficas em geral, atuou especialmente em reas do Instituto Biolgico de So Paulo. Naquela entidade, foi coordenador dos planos de construo e montagem dos novos laboratrios de qumica e biologia e membro do Conselho Tcnico-istrativo e do Conselho Editorial dos Arquivos. Alm disso, pertenceu a muitas comisses para tratar de assuntos tcnicos e cientficos. Por diversas vezes, executou tambm o cargo de chefe-substituto da Seco de Bioqumica e Farmacodinmica do Instituto Biolgico, j como chefe da Seco de Bioqumica Vegetal.
O cientista Dr. Meneguini relembrado por todos que o conheceram com um especial carinho, pelo seu carter humano, honesto e justo e pela sua mente extremamente perspicaz e brilhante. Cientista e filsofo, amante das artes, estava sempre disposto a orientar quando solicitado, mesmo em assunto fora de sua especialidade.
Sua biografia aponta para um homem, sobretudo inteligente, simples e modesto.
Texto baseado em publicao dos Arquivos do
Instituto Biolgico de So Paulo, 1969
(Traos Biogrficos de Mrio Meneguini).
O prefeito da cordialidade
Jos Alves Ferreira Filho
Chefe do Executivo de Franco da Rocha aceita pacificamente a emancipao de Caieiras no final de seu mandato
O poltico Jos Alves Ferreira Filho, tambm chamado de "Zezinho", foi prefeito de Franco da Rocha nos perodos de 1956 a 1959 e de 1964 a 1965, uma das pocas mais difceis da histria daquela cidade.
Como jovem dinmico e batalhador pelo progresso de Franco da Rocha, conseguiu realizar muitas obras de vulto. Algumas delas se encontram hoje obsoletas, mas certamente acabaram por servir durante muitos anos a municipalidade.
Zezinho acompanhou paulatinamente todo o progresso de emancipao poltica e istrativa de Caieiras, embora, como prefeito de Franco da Rocha, no pudesse dar seu apoio tal iniciativa. Mesmo assim, acompanhou com absoluta serenidade o desenrolar dos acontecimentos.
E, por fim, festejou com o povo a emancipao de Caieiras. Por isso, sua ateno merece ser registrada com orgulho na histria da "Cidade dos Pinheirais" e de seu povo.
Um pioneiro do comrcio
Firmiano Pacheco
Dono de uma loja de materiais de construo marca presena junto populao carente
A loja de materiais de construo Pacheco & Companhia Ltda., no Bairro do Serpa, inicialmente de propriedade de Firmiano Pacheco e atualmente de seus filhos, simboliza a histria do comrcio de Caieiras.
Tudo comeou no incio da dcada de 40. Pacheco, ento um jovem dinmico e trabalhador, montou uma modesta casa de materiais de construo. As dificuldades financeiras da poca eram sentidas por todos. A populao era de baixa renda, constituda, na maioria, de operrios da Companhia Melhoramentos de So Paulo e de funcionrios do Hospital Psiquitrico de Franco da Rocha.
Comprar um terreno em Vila Criscima e construir uma casa prpria eram dois sonhos quase impossveis para aquela gente. Os operrios da Melhoramentos dispunham de trs horrios de trabalho: das 6h s 14h, das 14h s 22h e das 22h s 6h. Desses perodos alternados, o primeiro era usado para o atendimento dos servios da empresa. O segundo servia para o descanso normal e indispensvel criatura humana, enquanto o terceiro era utilizado para serem ganhos uns proventos alm do po de cada dia. Era nesse turno que se lutava pela aquisio de um terreno onde fosse construda uma casa prpria.
Os que tinham profisso definida trabalhavam durante essas horas em casa. Os marceneiros que consertavam mveis e os funileiros que faziam baldes, regadores e taxos se encaixavam nessa categoria. Folhas de flandres, zinco e cobre eram usadas como matria-prima. Pedreiros construam casas prprias ou de amigos e parentes. Assim se iniciava o povoado de Vila Criscima, hoje centro de Caieiras, nos difceis tempos das dcadas de 40 e 50.
nesse contexto que o jovem Firmiano Pacheco, em companhia de sua prendada esposa, Silvria Palma Pacheco, atendia quela populao sempre com seu sorriso caracterstico.
Apesar do sucesso profissional, Firmiano ou muitas vezes por situaes complicadas. Por um lado, as compras sem pagamento imediato - os chamados "fiados" - eram uma constante junto freguesia. E o mais grave eram os curtos prazos dados pelos fornecedores. Somente com seu tino istrativo e o apoio de sua dedicada esposa, Pacheco sempre se saiu bem de todas as dificuldades.
Seus filhos, lvio, Francisco e Alfredo, receberam de seus pais a orientao adequada. Juntos, construram um pequeno imprio comercial do qual a cidade pode se orgulhar. Sem pretenso propagandstica, graas a esse estabelecimento, no necessrio transpor fronteiras para se adquirirem mercadorias do ramo da construo civil.
O comrcio caieirense tem sua histria intimamente ligada vida da famlia Pacheco.
O do bem-estar
Johannes Ferdinand Ehlert
Tcnico industrial alemo impulsiona crescimento da Melhoramentos e luta pela melhoria de vida de seus trabalhadores
Em setembro de 1920, ano em que Alfried Weiszflog adquiriu a Companhia Melhoramentos, a empresa que plantou o progresso em Caieiras contratou o alemo Johannes Ferdinand Ehlert para trabalhar na qualidade de tcnico especializado na indstria de papel e em sua matria-prima.
Desde ento, fez-se nas terras da fbrica uma nova fase de progresso, em virtude tambm do esprito dinmico e empreendedor de Ehlert. A transformao daquela colmia de trabalho constituiu uma investida inteligente, rdua e tenaz do novato diretor, que enfrentou e solucionou os mltiplos problemas com sbias providncias e entusiasmo invulgar. Quanto aos obstculos contra os quais se deparava, eliminava alguns e contornava outros de modo racional e produtivo, o que se demonstrou pelos excelentes resultados de suas iniciativas.
Os benefcios concedidos aos trabalhadores da empresa, bem como toda a sua infra-estrutura, eram frutos do sentimento de justia, da inteligncia, do esprito eqitativo e do trabalho perseverante de Ehlert.
Como homem enrgico e possuidor de uma viso istrativa fora do comum, esse extraordinrio tinha uma preocupao constante com o estado de vida que levavam os empregados. Naquela poca, no havia interveno do Estado nas questes trabalhistas, mesmo porque o prprio Ministrio do Trabalho seria organizado em 1938, quando foram distribudas as primeiras carteiras profissionais, por decreto do ento presidente Getlio Vargas.
Embora tendo a Companhia um grande armazm de secos e molhados para atendimento da populao, o Ehlert considerou que os trinta dias existentes entre um pagamento e outro eram um espao de tempo muito longo. Por isso, estabeleceu um sistema de adiantamento de salrio com base em fichas que os empregados retiravam a cada 15 dias, com seu desconto no final de cada ms. Assim, os funcionrios aram a receber quinzenalmente, a fim de que no sofressem qualquer tipo de necessidade.
Assessorando o Ehlert, estava uma grande equipe de profissionais que tambm marcaram nome na histria de Caieiras. Incluam-se nela o diretor social da empresa, Antnio Siqueira Branco, os diretores istrativos Joo Satrapa, Domingos Toigo, lvaro, Constantino Trilha e Pedro Muro Vasquez, os chefes do setor de arquivo, Carlos Burrener, das oficinas de manuteno, Faultim, e dos departamentos de eletricidade, Carlos Kaizer, e de obras, Ernesto Kol. Participaram tambm do grupo de trabalho outros chefes daquele irvel rol de funcionrios. Eram eles: Jos Carlos da Silva, chefe do Departamento de Expedio, Ubaldo Meneguini, gerente de produo, Ablio Vieira, chefe da Seo de Carpintaria e Marcenaria, e por ltimo, o responsvel pelas oficinas de carpintaria e marcenaria de Caieiras, Antnio Zovaro.
No tocante vida pessoal, Ehlert se casou com D. Alice Sack, natural de Ribeiro Preto, interior do Estado de So Paulo, no ano de 1924. A populao de Caieiras devota grande estima e reconhecimento D. Alice graas s suas constantes atividades em prol do bem-estar das famlias da localidade. E o enlevo desse casal de bem-feitores foi, sem dvida, sua filha Renata.
Em 1938, por seus servios sempre voltados exclusivamente ao Brasil, Ehlert recebeu o ttulo de "Cidado Brasileiro" e "Membro Honorrio da Associao Paulista de Imprensa Peridica", alm de "Presidente Honorrio" das Sociedades de Caieiras, do Clube Recreativo Melhoramentos e da Unio Recreativa Melhoramentos.
Paraninfou em 1914 a turma de reservistas do Tiro de Guerra 35, para o qual foi prdigo em gentilezas e auxlio valioso, tendo apoiado eficazmente a instalao do ncleo da entidade em Caieiras. Tal obra facilitou a inscrio dos rapazes daquele Distrito de Paz no Tiro de Guerra 35, bem como os de Franco da Rocha e do bairro paulistano de Perus para cumprirem seu dever com o Brasil.
Outra turma paraninfada por Ehlert foi a dos formandos do Instituto de Cincias e Artes, com sede em Franco da Rocha, em 1944. Posteriormente, a instituio transferiu suas instalaes para Caieiras, ando a funcionar Rua Dr. Armando Pinto.
A casa do "Senhor Ehlert" era uma manso em estilo europeu, tendo na frente um terrao nobre, composto de colunas em estilo romano e encimadas por capitis esculpidos nos moldes corntios. No telhado, havia torres com janela para areao e iluminao dos quartos de hspedes.
frente dessa casa, descortinava-se um horizonte maravilhoso, pois avistava-se uma paisagem de rica vegetao, formada pelas plantaes de pnus araucria, heliot, conferas e outros. Nas frescas manhs ensolaradas, podia-se notar o barulho das mquinas de papel em pleno movimento e o repicar das bigornas das ferrarias, sons estes que muitas vezes se misturavam com o do piano de Renata, filha do dono da manso, que fazia as escalas e os exerccios de mecanismo a fim de manter a forma para executar concertos entre famlias.
Ehlert despertava muito cedo e costumava fazer uma caminhada pelas cercanias da fbrica. Por volta das 7 horas, ava pelas obras da empresa, onde cumprimentava sorridente os operrios e, muitas vezes, parava e conversava com alguns deles. Perguntava se estava satisfeito com o trabalho que fazia e se tudo corria bem com a famlia. Se acaso existisse algum problema, ele mandava prontamente resolver, j que gostava de ver seus operrios felizes.
Em seus eios matinais, percorria todas as sees de fabricao e manuteno e, ao ar pela ferraria, parava para ouvir o repique da bigorna e a destreza do ferreiro em moldar o metal no fabrico da ferramenta. Parava tambm para ver e irar a habilidade do operador na troca de bobinas. Nesse momento, o operador sofre muitas vezes um choque causado pela eletricidade esttica que se forma pela rotao dos grandes cilindros da mquina, um fenmeno que no oferecia perigo ao operador por se tratar de baixa voltagem. Mesmo assim, o operador levava um grande susto, provocando risos de seus colegas e at de Ehlert, que achava graa.
Quando uma obra era terminada, ele autorizava que o grupo de trabalhadores responsveis por aquele servio fosse dispensado pelo resto do dia. Antes, porm, mandava que todos permanecessem no local para a inaugurao da obra. E para isso, mandava trazer do armazm caixas de cerveja a serem servidas aos operrios, tudo numa atmosfera de tranqilidade e alegria.
Nas festas das quais participavam os trabalhadores da Melhoramentos, Ehlert sempre estava presente e acompanhado de sua esposa D. Alice, e de sua filha Renata. Ele Faleceu em Campos do Jordo no incio dos anos 60.
Os operrios do mel
Antnio e Luiz Zovaro
Pai e filho marceneiros dedicam suas vidas arte de criar abelhas
Italiano de nascimento, Antnio Zovaro chegou ao Brasil no incio do sculo, residindo inicialmente em So Paulo, mais precisamente no Bairro de Vila Mariana.
Em 1920, transferiu-se para Caieiras, contratado pela Companhia Melhoramentos de So Paulo. ou a morar na Rua dos Coqueiros, onde criou seus filhos: Luiz, Nena, Iolanda, Alice, Mafalda, Paulina, Eduardo e Palmira.
Antnio Zovaro era um exmio artfice em carpintaria e marcenaria, assumindo logo aps sua chegada a Caieiras, a diretoria das oficinas de carpintaria da Melhoramentos.
Seu filho, Luiz Zovaro, desde muito jovem j se dedicava mesma profisso do pai e tornou-se um timo marceneiro. Quando ainda era mocinho, j produzia moldes em madeira para serem fundidos em ferro.
Dessa forma, formavam-se as peas para as mquinas projetadas pelo departamento de engenharia da empresa. Essa prtica contribuiu para uma grande economia para a Melhoramentos, j que na Segunda Guerra Mundial, houve dificuldade de importao de celulose para o fabrico do papel. Para solucionar o problema, foi arquitetada em Caieiras uma mquina para fabricar celulose, com peas totalmente fabricadas nas oficinas da empresa e com o capricho de Luiz Zovaro.
Independentemente do trabalho efetuado na Companhia, havia uma outra atividade desenvolvida por Antnio (depois seguida por seu filho) que lhes deu grande notoriedade: o trabalho com abelhas.
Com a mudana para Caieiras, Antnio Zovaro trouxe tambm um apirio que mantinha nas baixadas da Rua Lins de Vasconcelos, em Vila Mariana, So Paulo. Comeou ento a desenvolver todo o seu trabalho apcola em Caieiras. Pai e filho trabalharam com abelhas at o casamento de Luiz. A partir de ento, cada um ou a ter apirios distintos.
Nas exposies promovidas pela Secretaria de Agricultura do Estado de So Paulo, ora Antnio, ora Luiz ganhava os primeiros prmios em abelhas, mel, cera e materiais apcolas. Aps muitos anos de trabalho, Antnio Zovaro aposentou-se, deixando uma folha de servios digna de apreo. Quando faleceu, o mais importante bem que deixou para seus filhos herdeiros foi, sem dvida, a educao, razo pela qual todos so estimados na sociedade caieirense.
Luiz Zovaro o continuador da obra de seu pai, dedicando seu tempo apicultura. Ele possui um sofisticado aparelho de inseminao artificial de abelhas rainhas, talvez o nico no Brasil. reconhecido a nvel nacional como um dos profundos conhecedores no trato com as abelhas. Detentor de vrias homenagens, diplomas e medalhas de honra ao mrito no Brasil, j teve seu nome citado em revistas internacionais. Luiz Zovaro um dos poucos brasileiros que podem se orgulhar de terem seus nomes publicados na revista americana Time.
A atuao de Antnio e Luiz Zovaro na apicultura levou o nome de Caieiras alm das fronteiras.
O rei da pesca
Manuel Valentim
Pescador ganha centenas de prmios s margens dos rios e funda clube na cidade
Caieiras j produziu campees nos setores mais variados das atividades mundanas. Foi o caso do famoso pescador "Man" Valentim, referncia obrigatria de toda pescaria praticada na regio. Com seu jeito bonacho e peculiar, Man sabia como poucos da arte de fazer amigos.
Homem pacato, honesto e trabalhador, ele viveu em Caieiras por muitos anos, juntamente com sua famlia. Viajava diariamente para So Paulo em trens apinhados de gente, aguardando a chegada do domingo. Neste dia, logo pela manh, j preparava sua tralha de pesca, fazia uma refeio leve e partia para sua pescaria, s vezes no Rio Juqueri, outras vezes na Represa de Mairipor e at na Barragem de Nazar Paulista, no interior do Estado. Esse era seu hbito semanal.
Quando havia campeonato, fosse onde fosse, Manoel preparava antecipadamente seu material, tomava o trem e para l se mandava com todo o entusiasmo de um pescador apaixonado.
O envolvimento de Man com o prazer de pescar possibilitou a descoberta de uma nova isca. Ao pescar na Represa Billings, no Municpio de Ribeiro Pires, l pelas tantas, as iscas se acabaram. Portanto, acabada estava tambm sua pescaria.
Embora muito aborrecido Manuel arrumou suas tralhas e partiu de volta. Mas quando caminhava vagarosamente pelas praias da represa absorto em seus pensamentos, eis que, num dado momento, Manoel fixa seu olhar na areia daquela praia, onde v um peixe morto e j em estado de deteriorao. Notou que do corpo daquele peixe saam uns bichinhos rolando pela areia escaldante. Da veio ento a idia de se usarem os bichinhos como isca.
E assim o fez. Pegou um pedao de plstico que fazia parte de sua bagagem e, com auxlio de um pedao de pau, ou os bichinhos para cima do plstico. Levou-os, em seguida, para a gua, onde os lavou cuidadosamente a fim de tirar o mau cheiro.
Em seguida, colocou os bichinhos em um recipiente contendo fub e farinha de rosca, ingredientes que levava para jogar na gua como chamariz. Aps essa operao, os bichinhos aram a ter um aspecto at bonito.
Pois bem, a isca estava pronta. Faltava apenas ver se funcionava. E para a surpresa de Manoel, foi s arremessar a vara que o peixe pegou imediatamente. E assim, naquele resto de tarde, Manoel pegou mais peixe do que havia pegado o dia todo.
Na volta do eio, veio matutando como poderia criar larvas como aquelas para us-las em campeonatos dos quais participava, pois tinha que descobrir algo que deteriorasse, mas que no chegasse a ser to nojento e asqueroso para seu manuseio.
A primeira coisa que lhe veio mente foi a rao de galinha, que contm farinha de carne, fub e quirera. Logo, ps as mos obra, construindo uma caixinha onde colocou a rao de galinha bem mida.
Horas depois de sua fermentao e com o cheiro que exalava, vrias moscas comearam a pousar, deixando seus ovos. Cinco dias aps, os bichinhos j se encontravam no tamanho ideal para servir de isca.
No primeiro teste feito em campeonato de pescaria, a chamada "isca larva de mosca" teve um resultado surpreendente. Com sua pele dura, ela no saa facilmente do anzol, o que permitia pescar at meia dzia de peixes com uma s isca.
A partir da, Man Valentim se tornava o "Rei da Pesca", chegando a levantar at dois trofus em um s campeonato, com vitrias nas categorias peso e quantidade.
J em pleno sucesso, Man fundou o Clupesca de .Caieiras, uma espcie de clube onde os scios aprendiam o cultivo da larva usada como isca. O Clupesca organizou muitas competies, assim como tambm participou de eventos promovidos por outros clubes, ocorridos desde a Represa Billings, no alto da Serra, at Pirassununga, interior de So Paulo.
Para se ter uma idia de sua tcnica em pescar, basta dizer que num campeonato realizado no Country Club de Jundia, localizado na represa do Clube Uirapuru, Man conseguiu pescar 1.400 peixes em apenas trs horas de competio. Um grupo de cerca de 100 pessoas se formou em sua volta para assistir sua pesca. At guardas e fiscais se revezavam para poderem ver a pescaria de Man. Para comprovar que no se trata de mentira de pescador, at o Jornal de Jundia e a Gazeta Esportiva fizeram a cobertura jornalstica daquela proeza do campeo.
Alis, Caieiras comeou a aparecer no cenrio da pesca amadora em alguns dos principais veculos de comunicao do Estado por meio de Man. Sua habilidade beira de um rio ou a ser notcia nos jornais Folha de So Paulo, Notcias Populares e Gazeta Esportiva, alm da revista Acampamento, especializada em pescaria.
Man se destacou em todos os lugares onde competiu, no apenas por sua tcnica de pescador exmio, como tambm por sua simpatia. Possua uma maneira extraordinria de fazer amigos. Por isso, tornou-se querido de todos.
Para nossa tristeza, partiu muito cedo, em 11 de fevereiro de 1985, deixando sua esposa e suas filhas, as acompanhantes de suas competies. Seguindo as pegadas do pai, elas tornaram-se tambm excelentes pescadoras, ganhando vrios trofus em campeonatos femininos.
Valentim deixou um acervo de mais de 80 trofus e dezenas de medalhas de honra ao mrito.
O advogado da cultura
Dr. Armando Pinto
Bacharel em Direito faz de sua residncia um centro poltico e artstico em prol do desenvolvimento scio-cultural
Na dcada de 30, surgiu em Caieiras um personagem singular em sua histria, considerado um dos principais precursores do progresso e do desenvolvimento cultural da regio: Dr. Armando Pinto.
Seu maior orgulho era ter sido formado com a turma de 1920 da famosa Faculdade de Direito 11 de Agosto, das arcadas do Largo So Francisco, em So Paulo. Na ocasio, teve como paraninfo oficial nada menos que o escritor parnasiano Rui Barbosa (1849 - 1923), um dos mais brilhantes polticos e intelectuais de seu tempo, destacado internacionalmente por ocasio da II Conferncia da Paz, em Haia, no ano de 1907. Embora impossibilitado de estar pessoalmente na cerimnia por se encontrar enfermo, ele enviou seu discurso intitulado "Orao aos Moos", o qual foi lido por um dos membros da congregao da faculdade.
Sendo um homem de esprito dinmico e irrequieto, apaixonado pela arte e cultura em geral, a maior preocupao de Dr. Armando era com a formao da mocidade, o que o fez fundar o Culto Instruo, entidade eminentemente cultural e voltada para jovens, cuja sede ficava Rua Sete de Setembro, em Franco da Rocha.
Advogado militante do Frum de So Paulo, Dr. Armando possua um escritrio Rua So Bento, ocupando a sala 1 do prdio de nmero 100. Adquiriu uma chcara nas terras onde um dia seria o Municpio de Caieiras e nela construiu uma casa para onde veio morar com sua esposa, D. Terezinha Camargo Pinto.
Seu lar era uma linda e espaosa residncia, que continha no andar superior uma sala ampla e dormitrios reservados para suas constantes visitas. A casa vivia sempre em festa, numa atmosfera de paz e alegria. Havia tambm cozinha, copa e despensa com armrios, onde D. Terezinha guardava com carinho seus potes de doces de frutas em compotas, tudo feito por ela e suas empregadas. Esses costumes de D. Terezinha derivavam de sua descendncia alem. Seus ancestrais pertenciam a famlias tradicionais da aldeia de Dsseldorffe, Alemanha.
O abastecimento de gua da casa tambm era peculiar e europeizado, sendo feito por meio de um moinho de vento tpico da Holanda, j que a luz eltrica ainda era um sonho para o povo de Criscima. Nos pores da residncia, encontravam-se novas salas, entre as quais, a biblioteca de Dr. Armando, na qual o advogado estudava durante horas da noite os seus processos. Era nessa biblioteca que ocorriam tambm reunies com amigos para discutir planos em benefcio da futura cidade de Caieiras.
A biblioteca era vasta e constituda de colees literrias de inestimvel gabarito. No ambiente de cordialidade daqueles encontros noturnos com amigos, foi fundada a Sociedade Amigos de Caieiras, qual Dr. Armando canalizou muito de suas foras.
O jornal Vida Nova tambm foi criado numa dessas reunies, escrito pelo proprietrio da casa e por seus tantos colaboradores: Aldo Savazoni, Dalmo Belforte de Matos, Otvio de Almeida Nunes, Luiz Lopes Lansac e outros. Aquele veculo registrou desde aquele perodo a vida da comunidade francorrochense, ando depois para as mos de outras grandes personalidades: Oscar de Almeida Nunes, Flvio Antunes e Francisco Guillen.
O o da ento Rua Magnlia at a casa de Dr. Armando se dava atravs de uma alameda ladeada por palmeiras plantadas eqidistantemente. Da rua at a casa, o terreno era formado por um jardim com flores variadas, como a rosa "prncipe negro", tratada com muita afeio por D. Terezinha. Sendo devota fervorosamente de Santa Rita de Cssia, ela fazia questo de enfeitar o andor da santa com rosas dessa espcie e as vendia s famlias interessadas aps o trmino da procisso. A arrecadao obtida era destinada s obras sociais e assistenciais para crianas pobres.
D. Terezinha foi uma dama de destaque no cotidiano da Criscima da poca. Alm dos afazeres da casa e dos cuidados do jardim, dedicava-se sempre comunidade local. Era seu costume realizar todos os anos festas natalinas em sua casa, com farta distribuio de agasalhos e brinquedos para as crianas pobres da regio. Seu marido, bem relacionado com a sociedade paulistana, trazia presentes das firmas em que trabalhava, principalmente material escolar.
Na famosa casa de Dr. Armando Pinto, vivia tambm seu filho Cludio, empregados e pensionistas. Ervim Weber, por exemplo, veio muito jovem da cidade de Assis, interior de So Paulo, para ser pensionista da casa. Ele trabalhava na Ford Motor Company, sediada Rua Slon, em So Paulo, exercendo a profisso de tcnico em retfica de motores a exploso. Casou-se mais tarde com Maria de Carvalho que viveu naquela casa em regime de tutela desde sua infncia, sempre tratada como verdadeira filha e cercada de muito carinho.
A professora Aninha Valim tambm foi pensionista da casa. Vale citar que ela era filha de Valdomiro Valim, fazendeiro de So Joo da Boa Vista, tambm no Interior, e autor do projeto de loteamento de Vila Criscima. Alguns pensionistas saam da “manso” de Dr. Armando Pinto somente quando se casavam, como o caso da senhorita Bela Crema.
Mas as salas daquela casa recebiam visitas de amigos da Capital. Entre as freqentadoras mais assduas, estavam a professora Raquel Peluzzo, diretora do Instituto Musical Padre Jos Maurcio, e sua irm soprano, Joconda Peluzzo. A sobrinha de Raquel, Bela de Castro, tambm soprano, e o tenor Gachido tambm compunham o rol dos artistas que brilhavam no casaro entre os coqueiros. Para se ter uma idia do nvel dessas estrelas, basta citar que em 1950, eles fizeram parte da pera “La Boeme”, no Teatro Municipal de So Paulo, espetculo que recebeu calorosos aplausos da refinada sociedade paulistana que o contemplou.
Anos depois, a casa de Dr. Armando Pinto seria transformada em hospital, at a inaugurao de um novo, bem ao lado do primeiro, que j teve em sua direo um dos ex-prefeitos de Caieiras, Dr. Milton Ferreira Neves, sendo hoje controlado pela empresa Emed. A rua aberta ao lado do antigo casaro levaria o nome do mais ilustre advogado da cidade.
Muitos so os moradores de Criscima e de outros bairros que ainda se lembram do caminho de terra e dos coqueiros ao redor da freqentadssima casa. Algumas dessas rvores ainda esto no local para a lembrana dos mais nostlgicos.
A atuao de Dr. Armando no movimento em prol da emancipao poltico-istrativa de Caieiras e em outros importantes momentos de sua histria est sendo relatada em outros captulos dessa obra.
Dr. Armando era, no fundo, um homem simples. Despertava cedo a fim de tomar seu trem a So Paulo para atendimento de sua clientela. Mas sua simplicidade nunca ofuscou sua importncia, tal como uma estrela cujos raios luminosos viriam clarear o mundo futuro. S nos resta, com justia e grande saudade, o registro de seu ado.
Geografia
Divisas municipais
O Municpio de Caieiras apresenta ao seu redor os seguintes limites, conforme os documentos geogrficos:
a) Com o Municpio de Cajamar (oeste)
Comea no Rio Juqueri, na foz do Crrego Itaim. Segue em linha reta, de rumo norte, at cortar o divisor entre as guas do Crrego Itaim, afluente do Ribeiro Juqueri-Mirim ou Tabues, e as guas do Crrego Olhos D’gua; a partir desse ponto, a linha continua, por nova reta, foz do Crrego do Flix, no Ribeiro dos Tabues.
b) Com o Municpio de Franco da Rocha (norte)
Inicia na foz do Crrego do Flix, no Ribeiro Tabues, seguindo pelo contraforte fronteiro, at o divisor entre as guas do Crrego do Flix, esquerda, e do Crrego Olhos D’gua, direita; as terras caieirenses so vistas seguindo por este divisor at alcanar a cabeceira mais ocidental do Crrego do Tanque Velho; desce por este at sua foz no Crrego dos Abreus, onde cortado por uma reta do rumo oeste, que vem da foz do Crrego da Colnia, no Rio Juqueri; continua por esta reta at a j citada foz; sobe, em seguida, pelo Crrego da Colnia, at sua cabeceira e, depois, pelo divisor entre o Crrego Criscima, direita, e o Rio Juqueri, esquerda, at o outro divisor – entre Criscima e Santa Ins; prossegue por ele at a cabeceira do Crrego do Engenho, pelo qual desce at a sua foz, no Ribeiro Santa Ins.
c) Com o Municpio de Mairipor (leste)
Comea no Ribeiro Santa Ins, na foz do Crrego do Engenho, subindo at a foz do Crrego Claro; da continua pelo contraforte fronteiro entre o Ribeiro Santa Ins, direita, e o Crrego Claro, esquerda, at cruzar a Serra da Cantareira.
d) Com o Municpio de So Paulo (sul)
Inicia-se na Serra da Cantareira, no ponto de cruzamento com o contraforte entre o Ribeiro Santa Ins e o Crrego Claro; segue pela Serra da Cantareira at a Serra do Aju, pela qual continua at a cabeceira meridional do Ribeiro dos Pinheirinhos; desde ento, vai at sua foz, no Rio Juqueri, atingindo a foz do Crrego do Itaim, onde teve incio essa divisa.
Localizao fisiogrfica
O Municpio de Caieiras situa-se a uma altitude de 721,268 metros do nvel do mar, em latitude sul de 2320’ e longitude W-Gr de 4644’. Ocupa uma rea total de 104 quilmetros quadrados da sub-Regio Norte da Grande So Paulo.
Apresenta clima mdio temperado e inverno seco. O solo caieirense do tipo argiloso-silicoso, irregular, onde se elevam as serras da Cantareira e Aju em inmeros morros. Entre eles, destacam-se os morros do Cabelo Branco e do Tico-Tico.
Populao
Segundo o ltimo censo demogrfico promovido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE), em 1991, a populao de Caieiras somava naquele ano 39.021 habitantes. Sua densidade demogrfica foi apurada em 368,12 habitantes por quilmetro quadrado.
Em 1973, a Prefeitura de Caieiras divulgou pesquisa detalhada sobre a composio da populao, que na poca totalizava menos da metade do atual nmero de habitantes. interessante notar as vrias nacionalidades s quais pertenciam muitos de seus moradores. A predominncia de portugueses, italianos, espanhis e alemes era marcante.
Quanto ao relatrio por naturalidade, verificamos grande quantidade de imigrantes mineiros. Mesmo sendo baseada em estatsticas produzidas h mais de duas dcadas, vale o interesse histrico sobre o tema, j que o fluxo de pessoas de outros Estados brasileiros para So Paulo era muito maior que o registrado atualmente.
• Relatrio populacional por nacionalidade
(somente estrangeiros – 1973)
Alemes...................................................................... 30
Argentinos ................................................................ 09
Austracos ................................................................ ... 08
Espanhis ................................................................... 32
Italianos ...................................................................... 45
Japoneses .................................................................... 06
Libaneses .................................................................... 01
Norte-americanos ....................................................... 02
Portugueses ................................................................. 46
Romenos ..................................................................... 07
Russos ......................................................................... 01
Srios ......................................................................... .. 03
Uruguaios .................................................................... 01
Outros .......................................................................... 33
• Relatrio por naturalidade
(apenas os no caieirenses – 1973)
Estado de origem Homens Mulheres
Amazonas 00 01
Par 05 00
Amap 01 00
Maranho 16 02
Piau 52 10
Cear 51 15
Rio Grande do Norte 30 12
Paraba 47 13
Pernambuco 191 69
Alagoas 47 00
Fernando de Noronha 01 00
Sergipe 25 07
Bahia 208 118
Minas Gerais 1.395 865
Esprito Santo 18 02
Rio de Janeiro (1*) 28 11
Guanabara (1*) 00 00
So Paulo 6.038 5.691
Paran 109 63
Santa Catarina 60 04
Rio Grande do Sul 13 07
Mato Grosso (2*) 16 14
Gois 08 05
Distrito Federal 01 01
(1*) O atual Estado do Rio de Janeiro era dividido entre Rio de Janeiro propriamente dito e Guanabara;
(2*) Mato Grosso englobava os atuais Estados de Mato Grosso propriamente dito e Mato Grosso do Sul.
Smbolos do Municpio
Braso
• Lei n 326, de 9 de agosto de 1965
Esta lei dispe sobre nova redao da Lei n 158, de 13 de julho de 1962, que instituiu o braso do municpio.
Artigo I – O braso que simboliza o Municpio de Caieiras o seguinte:
Descrio herldica (por Olindo Drtora)
a) O escudo de formato triangular em sua parte superior e arredondado na inferior. de origem portuguesa, esquartelado, encimado por uma coroa mural, ladeado por dois pinheiros (criptomria) e assentado sobre um listel;
b) No primeiro quartel, em campo vermelho, encontra-se em cada vrtice uma estrela e, no centro, um crculo em azul, no qual se v o mapa do municpio em vermelho;
c) No segundo quartel, em campo azul, uma engrenagem e um livro aberto, em prata, no centro dos quais h um pinheiro (pnus) em preto, apoiado numa figura geomtrica retangular verde;
d) No terceiro quartel, em campo azul, a figura de um forno hexagonal em seus dois teros inferiores e circular no tero superior, representado em muro na parte centro-frontal e marrom nas laterais. Apresenta ainda duas muradas em prata e uma porta na parte inferior no forno. No topo do forno, h uma chamin da qual evola, em sentido horizontal, para o lado de quem v o braso, a fumaa em prata;
e) Como es, tanto direita, quanto esquerda, a representao de criptomrias japnicas, simtricas;
f) Ao p do escudo, num listel de ouro, em preto, a legenda em latim Urbis Pinetorum. Nos extremos do mesmo listel, a data da emancipao poltico-istrativa do Municpio de Caieiras.
Simbolismo
a) Escudo portugus: para lembrar nossa tradio lusa;
b) Campos do braso: o azul representa o saber, a lealdade, a beleza e a grandeza das aes, atributos do povo caieirense. O vermelho representa o vigor e o altaneirismo desse povo;
c) Quatro estrelas em prata: para simbolizar a homenagem do povo de Caieiras terra de Piratininga, pela agem de seu quarto centenrio em 1945. Naquela dcada, surgiu o municpio. Serve tambm para preservar ainda a pureza dos ideais e a irradiao da fraternidade desse povo;
d) Mapa do municpio em vermelho: simboliza o altaneirismo e o vigor do povo de Caieiras;
e) Engrenagem, livro aberto e pinheiro: representam a indstria, principalmente, a do papel e do livro, que to alto elevou o nome de Caieiras, possibilitando seu desenvolvimento e sua emancipao poltica;
f) Figura geomtrica que serve de apoio engrenagem, ao livro e ao pinheiro: representa a fecundidade da terra e simboliza a esperana de seu povo no desenvolvimento da Ptria atravs da explorao da terra;
g) Forno: para simbolizar os primeiros movimentos histricos do municpio. Em virtude da industrializao, esses movimentos deram incio formao do povoado que hoje a cidade representa. Foi desse forno, denominado Macal, que se originou o nome do municpio;
h) Fumaa do forno em prata: para simbolizar o trabalho incessante, diuturno e nobre do povo caieirense, de onde nascem a pureza e a vitria de seus ideais;
i) es: duas criptomrias japnicas, simtricas, uma direita e outra esquerda do escudo, para representarem a prodigalidade dessas plantas nas terras de Caieiras, que tem a honra de estar entre os municpios mias florestados do Estado;
j) Dstico em latim: para simbolizar a origem latina. Est em ouro para representar a riqueza dos ideais caieirenses. Urbis Pinetorum: a “Cidade dos Pinheirais” (essa inscrio em latim foi criada por Olindo Drtora, um dos principais responsveis pela emancipao de Caieiras);
k) Data: 14 de dezembro de 1958, para homenagear o dia da emancipao poltico-istrativa do Municpio de Caieiras.
Bandeira
• Lei n 844, de 16 de novembro de 1973
Dispe sobre a oficializao da bandeira do Municpio de Caieiras.
Descrio
A bandeira composta de sete peas distribudas da seguinte forma:
a) retngulo azul-anil;
b) quatro estrelas colocadas nos quatro cantos do retngulo, de forma simtrica, sendo de cor amarelo-canrio;
c) crculo raiado, amarelo-canrio, colocado no centro do retngulo azul;
d) Braso do municpio sobre o crculo raiado.
Construo
a) O retngulo tem as seguintes medidas: 8m de largura por 11m de comprimento;
b) As estrelas so colocadas nos cantos do retngulo, precisamente nos cruzamentos das linhas superior e inferior do comprimento e esquerda e direita da largura. Essas linhas so paralelas aos lados do retngulo, isto , ao comprimento e largura, respectivamente e na distncia de 1,5m desses lados. Elas so construdas atravs de uma circunferncia de 0,5m de raio e devem ter cinco pontas. So colocadas nos respectivos lugares do campo retangular, com uma das pontas para cima, coincidindo com a perpendicular ao comprimento do retngulo;
c) O crculo raiado traado com um raio de 3 m. As raias do crculo central so em nmero de 16 e tem forma de tringulo com uma altura de 1/4m. A posio de cada uma das raias est bem definida e se encontra da seguinte forma:
1) Divide-se o crculo em 16 partes iguais e o que se consegue por meio de 8 retas que se cruzam no centro do crculo. As alturas de cada uma das raias coincidem com essas retas;
2) Para a colocao do crculo raiado no campo retangular, faz-se coincidir as alturas das duas raias opostas com a reta que divide o retngulo em duas partes iguais e que deve, portanto, ar pelo centro do crculo.
d) O braso deve ter altura de 4m. O centro do mesmo deve coincidir com o centro do crculo raiado do prprio retngulo. Para sua construo e colocao, deve-se dividir o crculo raiado com linhas paralelas ao dimetro e na distncia de m uma da outra. Em seguida, novas linhas paralelas que se cruzam com as primeiras, perpendicularmente, com distncia entre si de m, de maneira que formem uma rede cujas malhas tenham m de lado. Essas retas devem ser paralelas aos lados do retngulo quando o crculo estiver inserido no mesmo. Essa rede tem por objetivo facilitar a cpia do braso na proporo exigida, mesmo porque o braso que serve de base para cpia deve estar tambm reticulado de forma semelhante e proporcional (semelhante porque tem o mesmo nmero de malhas da rede padro descrita; proporcional porque o braso a ser copiado pode ter um tamanho maior ou menor do que aquele que se deseja).
Observaes:
1) O valor “m” dado nas medidas no corresponde a metro, mas a um valor adotado qualquer. Basta multiplic-lo pelo coeficiente e teremos a medida pretendida.
Exemplo:
Para m = 0,50 metros, teremos:
Comprimento da bandeira = 11 m = 11 x 0,50 metros = 5,50 metros
Largura da bandeira = 8 m = 8 x 0,50 metros = 4,0 metros
2) Os dois lados da bandeira devem ser iguais. A dupla face somente obrigatria no que respeita ao braso e s outras estrelas. Fica, portanto, facultativa a construo de toda a bandeira com dupla face.
Significao dos elementos
a) Campo retangular: foi escolhida a cor azul-anil para representar o nosso cu. Pelo mesmo motivo, consta em todos os quartis do braso;
b) Estrelas: usadas para representar os astros contidos no espao. O amarelo-canrio foi a cor escolhida, representando a energia que emana desses astros e que responsvel pela dinmica de toda a vida universal. O municpio nasceu quando a capital paulista comemorava seu quarto sculo de existncia. Da, a opo por quatro estrelas, numa homenagem aos 400 anos de So Paulo. As estrelas constam no braso de forma semelhante;
c) Crculo raiado: em amarelo-canrio, para representar o sol com seus raios brilhantes e plenos de energia, responsvel por toda a vida e equilbrio do Planeta e de seus irmos. Forma, juntamente com as estrelas sobre o campo azul-anil, uma s unidade, que o princpio de todas as coisas e que nada mais do que o universo em seu todo;
d) Braso: colocado sobre o crculo raiado, em projeo, para personificar o Municpio, que dinmico, enrgico e representado por um povo de f, trabalhador e honesto.
Observao:
A bandeira est praticamente contida no primeiro quartel do braso, como se pode ver pelos elementos figurativos do mesmo. Variam apenas as cores e a personificao do municpio, que representado nesse quartel pela planta geogrfica. Na bandeira, a representao se d pelo prprio braso. Portanto, pode-se dizer que a bandeira est no braso, assim como este est na bandeira.
Bibliografia
Fontes literrias
* Revista Comemorativa do Primeiro Jubileu da Companhia Melhoramentos de So Paulo – Indstria de Papel (1890 a 1950);
* Revista Comemorativa do Grande Jubileu da Companhia Melhoramentos de So Paulo – Indstria de Papel (1890 a 1965);
* Revista 35, rgo de divulgao dos atiradores do Tiro de Guerra 35, cuja publicao do ano de 1941 homenageou o seu benemrito, Sr. Johannes Karl Ferdinand Ehlert, diretor tcnico da Companhia Melhoramentos de So Paulo – Indstria de Papel;
* Revista Comemorativa do 15 Aniversrio da Emancipao Poltico-istrativa do Municpio de Caieiras;
* “100 Anos da Melhoramentos”, livro escrito pelo historiador Hernani Donato e publicado para comemorar o centenrio da Companhia, em 1990;
* Relatrios fornecidos por istraes da Prefeitura Municipal de Caieiras.
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Observao: Alm das fontes de informao acima descritas, o autor usou tambm os seus prprios conhecimentos, vez que trabalhou na Companhia Melhoramentos de So Paulo – Indstria de Papel durante os anos de 1938 a 1945, ocupando vrias funes. Atuou nos departamentos de obras, ferraria, oficina mecnica e escritrio tcnico e ocupou tambm o posto de desenhista mecnico. Conheceu, portanto, todas as instalaes daquela empresa, bem como o contingente pessoal que constitua o quadro de funcionrios da Companhia. Da a razo de o autor narrar certos fatos com conhecimento de causa.
Biografia do autor
Origem, dados pessoais e instruo
Marclio Dias de Moraes, brasileiro, casado e advogado inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) sob n 49.959, Seo So Paulo, mantm escritrio Rua Cavalheiro ngelo Sestini, n 37-1, na cidade e comarca de Franco da Rocha (SP). portador da cdula de identidade n 1.076.579/SP e do CIC n 044.206.598-15. Reside Rua Joo Drtora, 25, centro de Caieiras.
Filho de Manoel Dias de Moraes e Firmina Pereira da Silva, nasceu em 21 de julho de 1921 no interior da Comarca de Bragana Paulista, no bairro denominado Nossa Senhora dos Homens. Geograficamente, sua terra natal confronta ao sul com o Rio Jaguari, ao norte com o Bairro dos Campos Novos, a leste, com o Bairro dos Flix e, aa oeste, com o Bairro do Foro.
Sua famlia pertencia classe dos agricultores mdios da regio, pois alm das terras que lhe pertenciam por herana, cultivavam as que margeavam o Rio Jaguari, tidas como de primeira qualidade para o plantio de arroz.
Marclio viveu com sua famlia em Bragana Paulista at 1936, quando se transferiram para Caieiras. Nessa poca, ele contava com apenas 15 anos de idade.
No ano de 1938, ingressou na Companhia Melhoramentos de So Paulo – Indstria de Papel, onde trabalhou at 1945. Foi obrigado a deixar a Companhia em 1945 para transferir-se a So Paulo a fim de ampliar seus estudos. ou a residir numa repblica de estudantes localizadas Rua da Abolio, no Bairro Bela Vista, onde morou at 1950.
Tinha como colegas de repblicas algumas das mais importantes personalidades da Caieiras que em breve surgiria com a emancipao. Eram eles: Olindo Drtora, que cursava a Faculdade de Direito do Rio de Janeiro, na cidade de Niteri, Gino Drtora, que fazia curso colegial no Colgio Anglo Latino, e Luiz Gonzaga Drtora, que estudava o ginasial. Marclio fazia o ginasial pelo Decreto 91, no Curso de Madureza Patriarca, localizado Rua So Bento, 201, na Capital, tendo colado grau em 1947.
Marclio Dias terminou seus estudos primrios no ano de 1931, em Bragana Paulista. Formou-se desenhista mecnico pelo Instituto de Cincias e Artes, em 1944, e projetista de arquitetura pelo mesmo instituto quatro anos mais tarde.
Em seguida, comeou a fazer cursos de lnguas, como o intensivo de Ingls com o professor particular Mr. Jorge Soininem, com durao de dois anos. Estudou Francs com a professora particular D. Sinyra Baena Geringer durante dois anos e Alemo com a professora Irina Boschenk, por quatro anos, tambm em carter particular.
Realizou o curso ginasial pelo Colgio Estadual de 1 e 2 Graus de Luclia, Estado de So Paulo. O colegial foi cursado no Colgio Estadual de 1 e 2 Graus de Taubat, tambm no interior paulista. Na faculdade de Direito do Sul de Minas Gerais, de Pouso Alegre, fez seu curso superior.
Atividades profissionais
Durante os sete anos em que trabalhou na Companhia Melhoramentos, exerceu, entre outras funes, o papel de desenhista mecnico, chegando a ocupar o cargo de encarregado da Seo de Estatstica Tcnica.
Foi itido na antiga The So Paulo Tranway Light and Power Company Limited, hoje Eletropaulo, em 1945, onde ficou at 1972. Nesses 27 anos, executou vrias funes, como a de desenhista mecnico, desenhista topgrafo e projetista de arquitetura, registrado no Crea sob n 5617-LP. Ocupou tambm o cargo de tradutor de Lngua Inglesa, traduzindo para a Light os livros intitulados “Welding Construction” e “Manual de Instruo para Lubrificao de Tratores e Patrol”.
Foi autor de um projeto de “freio de emergncia para vagonetes em inclinados”, exposto na 4a Feira Mecnica, realizada no salo do Pavilho Nacional do Ibirapuera e submetido a exame tcnico pela Companhia Brasileira de Material Ferrovirio (Cobrasma). O resultado da anlise concluiu pela viabilidade de construo do freio projetado, que apresenta funcionamento perfeito. Na poca, Marclio recebeu do Governo do Estado uma medalha e um diploma de Meno Honrosa.
Trabalhou tambm na confeco da maquete do plano de saneamento do Canal Pinheiros, em So Paulo, sob orientao do engenheiro e arquiteto Vladimir Kusnetsov. Esta obra era a de maior vulto at ento construda pela Light alm da Represa Billings.
Ocupou a cadeira de professor de Ingls no Liceu Eduardo Prado, nos anos de 1949 e 1950. Foi professor de Ingls e Materiais e Construes do curso tcnico em Edificaes, Noes de Direito e Legislao, matrias aplicadas a todos os cursos do Colgio Tcnico Duarte da Costa, entre 1978 e 1982.
Embora atarefado no quadro de funcionrios da antiga So Paulo Light – Servios de Eletricidade, foi concomitantemente tcnico de obras da Prefeitura Municipal de Franco da Rocha durante os quatro anos da gesto do prefeito Jos Alves Ferreira Filho (1954 – 1958). Exerce hoje a advocacia na Comarca de Franco da Rocha.
Atividades Sociais
O advogado Marclio Dias desempenhou vrias funes de cunho social na regio. Abaixo, esto enumeradas algumas delas:
• Scio e colaborador da Sociedade Amigos de Caieiras, entidade cultural e recreativa, com sede Rua Dr. Armando Pinto, no Centro de Caieiras;
• Scio e colaborador do Culto Instruo, instituio cultural e artstica sediada Avenida Sete de Setembro, na cidade de Franco da Rocha;
• Scio, fundador e vice-presidente da Associao Beneficente de Caieiras, entidade mdico-hospitalar, sediada tambm Rua Dr. Armando Pinto;
• Scio e fundador do Coral Lighteano, de cunho cultural e recreativo, com sede Rua Xavier de Toledo, 23, em So Paulo;
• Fundador da Associao Comercial, Industrial e de Servios de Caieiras (Acisc)..
“Caieiras”
Do livro “100 anos de Melhoramentos” (Parcial)
Em 1877 Rodovalho fez preparar dois fornos de barranco e alargar em estrada o que era trilha de boiada para conduzir a cal, em lombo de mula, estao ferroviria de Perus. Logo, os fornos ensejaram o batismo da regio: Caieiras. Dali sairiam tambm manilhas, ladrilhos, guias e sarjetas. O corte das matas naturais alimentava os fornos.
A 25 de julho, 1877, o coronel reuniu amigos e financistas a seu feitio e com eles fundou a Companhia e Esgotos, apta a explorar os recursos disponveis em Caieiras.
Prontamente, a Cantareira obteve contratos oficiais para trabalhos higienizadores e civilizadores na capital. So Paulo orgulhou-se de modo especial quando pde beber e banhar-se europia graas aos 6.500 metros cbicos de gua com que a CCE reforou o abastecimento, construindo (1878) o reservatrio da Consolao, cuja pedra fundamental foi assentada sob as vistas do imperador Pedro II.
Caieiras tornou-se animado canteiro de obras e servios. Fixou trabalhadores, principalmente famlias de italianos egressos do servio agrcola. Foram alojados em 180 residncias construdas a propsito, vila da qual se afirmou ser o primeiro ncleo habitacional organizado no pas para trabalhadores livres.
Um plano inclinado, longo de 5.000 metros, suavizou e acelerou o transporte de material, eliminando, a partir de 1883, o emprego de muares. No mesmo ano, a 1o de julho, o prestgio de Rodovalho e dos seus scios ingleses da Cantareira obteve para Caieiras uma parada de trens da So Paulo Railways. Depsitos no Monjolinho, na Fbrica, na Calcria, no Bom Sucesso acomodavam material. Um cabo areo, movimentado por locomvel a vapor, transportava as pedras metidas em caambas. Magotes de curiosos iam ver ali o que nunca fora visto em So Paulo.
Os pais trabalhavam, seus filhos estudavam. Na Caieiras propriamente dita e no Bom Sucesso, salas construdas pela empresa e regidas por mestras estaduais recebiam mais de setenta crianas.
ERA PRECISO ALGO MAIS – A produo, quase toda empregada nas obras pblicas da capital. Pedras em bruto e lavradas para o calamento das ruas; manilhas, cal. Em 1886, a cermica produzia de 6.000 a 7.000 tijolos e 5.000 telhas por dia.
argcia de Rodovalho, enfronhado nos meandros da poltica e da istrao, fez-se claro que cedo ou tarde o municpio ou o Estado chamariam a si aqueles trabalhos pblicos. E o s fornecimento de material no justificaria o feito e o por fazer em Caieiras. Obrigou-se, pois, a planejar algo maior, mais abrangente e permanente. Teve a ateno despertada para os reclamos da imprensa e do comrcio quanto falta de papel. O consumo crescia; a oferta, apoucada. Seria um negcio?
Foi lembrado que Emlio Ascanha (Ascagna?), morador entre o Bom Sucesso e o Monjolinho conseguira em casa, misturando guaran e samambaia, uma pasta que garantia ser papel. Ajudado, montaria uma fbrica. Fbrica de papel. Por que no experimentar? Na olaria, com uma tina, uma peneira, alguma fibra, aconteceram as pesquisas. Resultado animador: “Pode-se fazer papel. Bom para embrulhos de lojas, pelo menos”. novidade convincente a ponto de merecer do governo uma patente com valor de monoplio do processo.
MOS OBRA – Em 1887, a deciso: Caieiras fabricaria papel, industrialmente. O projeto da fbrica, confiado firma Gebrder Hemmer, Neidenburg, Pfalz, uma especialista. Certa revista alem voltada para o setor papeleiro internacional, na edio de 1888 analisou o projeto caieirense considerando-o arrojado e moderno. Destacava a grandeza das instalaes, a prevista operao de branqueamento, as calandras de rolo e de arco.
E mos obra! O morro do Tico-tico forneceu as pedras; da Inglaterra veio o cimento; das Flandres as folhas de zinco. O engenheiro paulistano Leonhardt assumiu a direo dos trabalhos que previam, inovadoramente, construes em patamares escalonados para facilitar a chegada e o manejo do material.
A energia, hidrulica, retirada do Juqueri levantado por uma barragem. Na bacia assim formada navegaria barcaa a vapor rebocando chatas de carga. Uma revoluo na paisagem e nos costumes. E isso tanto e to gravemente que a barragem teve de ser definida a mo armada.
E quanto matria-prima? medida que subiam as paredes da fbrica, crescia a importncia da pesquisa iniciada em 1887 com a identificao de variedades vegetais aproveitveis. Pensava-se que o palmito guarani e a guanxuma produziriam papis mais simples.
Enquanto isso rasgavam-se estradas, facilitava-se a comunicao interna.
FERROVIA DOMSTICA – Uma estrada de ferro inteira – doze quilmetros de trilhos, 105 centmetros de bitola – usada, mas em bom estado, foi transplantada para Caieiras. Trs locomotivas. A “Tatu” ou “Chocadeira”, apelido por ser tanto vagarosa quanto barulhenta, a “Capivara”, por rompedora, e a “Etelvina”, a mais graciosa, nome que homenageava a coronela Rodovalho. Os vages, na maioria construdos em casa, nas oficinas de ferraria, de fundio, de carpintaria. Uns poucos, adaptados, haviam sido bondes puxados a burro na cidade de So Paulo.
Ao findar dos anos 80 Caieiras tornara-se objeto de atenes e centro de atividades inusitadas. Havia ali estrada de ferro particular, navegao fluvial, tecnologia avanada nas construes, aproveitamento da vegetao nativa, cuidados com os trabalhadores e suas famlias. Tudo novidades. A antiga fazenda assumiu nimo de vila. E vila cosmopolita. Aos caboclos e aos italianos juntaram-se os peritos alemes sados de Hamburgo em maro de 1889 para a montagem das mquinas de fabricar papel.
Estas chegaram ao longo do ano interior. A ferrovia “inglesa” transportou as caixas at a Ponte Seca, de onde, pelas picadas abertas na ocasio, foram levadas, em carros de boi, at o ptio da fbrica, num esforo que atraiu curiosos de larga distncia.
PAPEL E GOVERNADOR EM CAIEIRAS – Por fim, a 4 de abril de 1890, contabilizando um ano de atraso, uma das mquinas produziu papel. Inferior, irregular, mas papel industrializado. O primeiro no Estado com essa caracterstica. A outra mquina entraria na ativa em 1906. A terceira, em 1913.
Bom momento para responder curiosidade reinante nos meios oficial, econmico, empresarial, em torno das “aventuras” em que o coronel se metera. Assim, ele organizou minuciosa visita do Governador, de personalidades da poltica, da sociedade, das finanas, da imprensa. Mais tarde foi dito que no poderia ter levantado rol de testemunhas mais categorizadas. Os nomes de vrios visitantes esto em ruas e avenidas paulistanas.
No domingo, 20 de abril de 1890, os jornais deram amplo destaque ao visto e ao ouvido. Foi bem descrito o trabalho na fbrica de papel. Servio duro, pessoal sem experincia. Contudo, o projeto avanava.
CONSTITUIO DA MELHORAMENTOS – Havia papel, havia mercado, havia conhecimento pblico da empresa. Situao azada para um o mais largo.
Na capital do pas o governo liberalizava recursos para a formao de firmas comprometidas com a infra-estrutura urbana. Uma, a Empresa Industrial de Melhoramentos no Brasil, planejava criar Companhias de Melhoramentos nos Estados. Seria excelente comear pelo de So Paulo.
No dia 12 de setembro de 1890, no Salo Nobre do Banco do Brasil, rua 1o de Maro nmero 80, Rio de Janeiro, presentes autoridades, investidores, banqueiros, financistas, gente da sociedade, se deu instalao da Companhia Melhoramentos da So Paulo.
Antnio Proost Rodovalho aportou bens que somavam 15 contos de ris, os quais lhe foram pagos em aes e em dinheiro. Bens divididos em dois grupos, definidos e apreciados pelos louvados que emitiram laudo a respeito. Referncia especial fbrica de papel.
“Na Fazendinha est a concluir-se a montagem de uma fbrica de papel do tipo mais aperfeioado, dotado de todas as mquinas necessrias, edifcio incombustvel, fora motriz hidrulica, trs turbinas e etc. ... e incluindo matria-prima j em depsito avaliam esta fbrica em Mil e duzentos contos de ris...”
Volumoso, slido capital. Bom prognstico para a Companhia. No ano seguinte, as aes nominais de 200 ris alcanariam 700 na Bolsa. Estavam entre “as preferidas” e negociadas em larga escala”.
PRIMEIROS DIRETORES – Como de hbito, Rodovalho reservou-se um lugar no Conselho Fiscal. Deixou os postos principais para: Manuel Vicente Lisboa, presidente; Antnio Alves de Carvalho, tesoureiro; Carlos Csar de Oliveira Sampaio, diretor industrial; Manuel Dias do Prado, diretor agrcola. O Conselho Fiscal Efetivo, alm do coronel, alinhava nomes expressivos da sociedade, da economia, da poltica fluminense: Fbio de Mendona Uchoa, Luiz Rafael Vieira Souto, Frederico Augusto Schmidt, Andr Gustavo Paulo de Frontin. Suplentes: Francisco Ramos Gordilho, Jos Ferreira Alegria, Manuel Candido Pinto de Azevedo, Joaquim lvaro d’Armada, Alfredo Coelho da Rocha.
MUDANAS NO PANORAMA – Um ano depois do otimismo realista do laudo de avaliao, o panorama nacional e empresarial mostrava tons diferentes. A Melhoramentos atuava industrial e agricolamente. Enfrentava problemas em ambas as reas. Por exemplo: retirar os produtos de Caieiras ficara mais difcil do que fabric-los. Os trens da So Paulo Railway eram poucos e os vages preferencialmente destinados ao ouro verde, o caf. Os exportadores, quase todos europeus, escorados pelos comerciantes ingleses senhores da ferrovia, monopolizavam os fretes. O ptio da estao acumulava tanto material que resultou necessrio preservar a este em depsitos levantados a propsito. O expediente no impediu que por falta de escoamento fosse suspenso o fabrico de tijolos e reduzida a extrao de pedras. Sobre tal carncia na origem sobrepunham-se onerosas e problemticas baldeaes. Tamanho o aborrecimento causado por tais problemas que Rodovalho levou ao governo proposta ousada: construir outra ferrovia, paralela “inglesa”, privativa da Melhoramentos.
Mas as coisas iam mudar. Para pior.
PROBLEMAS – O setor agrcola tambm padecia. Esfumara-se a safra de 180.000 arrobas de caf na colheita de 1892. E o mercado mundial, estocado, dava mostras de inquietao, de resistncia s compras.
No s dificuldades agrrias. Nem s necessidades industriais. Os problemas da Companhia ecoavam aqueles do pas. O Brasil financeiro estremunhava o amargo acordar post-Encilhamento. Mesmo as empresas sobreviventes sofriam no crdito, nas vendas, nos recebimentos. Estavam, com excees, endividadas. A ao da Companhia Industrial de Melhoramentos no Brasil recuou na Bolsa, de 700 para 200 ris.
Parte do capital subscrito em 1890 no fora integralizado e, no auge da crise, no o seria. Para no se abissar no naufrgio juntamente com muitas empresas liquidadas naqueles trgicos dezoito meses, a Melhoramentos dispunha do patrimnio representado por Caieiras com a fbrica de papel. Mas carecia de tratamento energtico.
A 22 de fevereiro, 1892, providncias foram tomadas. O capital (15 milhes de ris representados por 75.000 aes), reduzido para 6.600.000 ris (33.000 aes); a diretoria ou a contar com dois em vez de com quatro membros: o conselho fiscal, trs e no mais cinco integrantes. Os honorrios dos diretores, “fixados” – diz a ata – numa poca muito diversa da atual e a qual reforava esperanas que se evidenciariam ilusrias”, rebaixados a quase a metade – 6 mil ris anuais.
Contudo, o balano de 1892 fechou com lucro. Modesto, porm lucro: 401.874 ris. Baldado o otimismo despertado por ele. O preo do caf ruiu, 1893 seria ano de prejuzo. O aborrecimento dos acionistas identificou o causador de todos os males: o caf. Na Assemblia de 26 de abril, extinguiram o setor agrcola: “as atividades sero concentradas na rea industrial”. As reunies chiques paulistanas seriam realizadas sem o cafezinho, o champanhe, o vinho produzido pela Melhoramentos. Importava salvar o que pudesse ser salvo.
Rodovalho estava ajudando a organizar a Associao Comercial e Agrcola de So Paulo. Queriam-no mentor principal. Mesmo por isso no podia permitir que a Melhoramentos, qual estava notoriamente ligado, ficasse em m posio. Assumiu negociaes de salvamento. Mobilizou haveres, socorreu-se do Banco Intermedirio do Rio de Janeiro e se tornou o maior acionista da Companhia. At outubro, somente. Ocasio em que foi autorizado o lanamento de 4.500 debntures somando 900 mil ris.
Das outras medidas saneadoras, a mais relevante foi a de que dois dos trs diretores – nmero fixado na Assemblia de 10 de outubro de 1894 – atuariam em So Paulo. A tempo de se preocuparem com os estragos causados no ano seguinte pela enchente do rio Juqueri. Perdidas, 311 toneladas de material diverso.
O dinheiro das debntures possibilitou investimentos, recuperao do setor cal e incentivo produo geral. No fim do ano, dividendos distribudos. Maior, em 1896. Esperava-se mais no exerccio posterior. O que se sucedeu, porm, foi uma crise empresarial. Finanas combalidas, planos arquivados. A tal ponto que em julho, 1898, os acionistas adotaram deciso extrema: vender Caieiras, “porteira fechada”, isto , com tudo o que ali houvesse.
Agravada a situao econmica, itiu-se a venda “no picado”, ou seja, setor por setor, conforme o querer dos interessados. Rodovalho, experiente em tais problemas, tentou outra soluo: transferir a Companhia para o maior credor, o Banco de Depsitos e Descontos, do Rio de Janeiro. No conseguiu. Parecia ser o fim da Melhoramentos.
Histria da Estrada de Ferro - Veja na coluna fotos, a Estao .
So Paulo Railway (1883-1946)
E. F. Santos-Jundia (1946-1994)
TM (1994-)
CAIEIRAS
Municpio de Caieiras
Linha-tronco - km 106,000 (1935) SPR/-37
Inaugurao: 01.07.1883
Uso atual: estao de trens metropolitanos com trilhos
Data de construo do prdio atual: c. 1897
HISTORICO DA LINHA: A So Paulo Railway - SPR ou popularmente "Ingleza" - foi a primeira estrada de ferro construda em solo paulista. Construda entre 1862 e 1867 por investidores ingleses, tinha inicialmente como um de seus maiores acionistas o Baro de Mau. Ligando Jundia a Santos, transportou durante muitos anos - at a dcada de 30, quando a Sorocabana abriu a Mairinque-Santos - o caf e outras mercadorias, alm de ageiros de forma monopolsta do interior para o porto, sendo um verdadeiro funil que atravessava a cidade de So Paulo de norte a sul. Em 1946, com o final da concesso governamental, ou a pertencer Unio sob o nome de E. F. Santos-Jundia (EFSJ). O nome pegou e usado at hoje, embora nos anos 70 tenha ado a pertencer REFESA, e, em 1997, tenha sido entregue concessionria MRS, que hoje a controla. O trfego de ageiros de longa distncia terminou em 1997, mas o transporte entre Jundia e Paranapiacaba continua at hoje com as TUES dos trens metropolitanos.
A ESTAO: Em 1877, o Coronel Rodovalho, proprietrio da fazenda Bonsucesso, onde criava gado e produzia vinhos a partir de uvas de suas plantaes, construiu dois fornos de barranco para a produo de cal, e ou a lev-los em lombo de mula para a estao de Perus da SPR. No mesmo ano, fundou a Companhia Cantareira de guas e Esgotos, para explorar seus recursos de Caieiras, nome rapidamente difundido a partir dos fornos de cal (que existem at hoje, ao lado da rodovia Bandeirantes). Com tanta atividade, Caieiras cresceu e o prestgio de Rodovalho e seus scios ingleses obteve para o local uma parada de trens, aberta em julho de 1883. Em 1887, com a implantao de uma fbrica de papel, que mais tarde viria a ser a Cia. Melhoramentos, a cidade cresceria mais ainda, ainda mais que, para transportar material para a construo da nova fbrica, um ramal ferrovirio inteiro, com bitola de 60 cm, foi construdo a partir da estao da SPR, ramal este que perdurou at o ano de 1971 transportando cal. O ponto final dessa pequena ferrovia era a pedreira Olhos D'gua, no muito longe dos fornos de cal citados acima. Para aparelhar a pequena ferrovia, parece ter sido comprado material rodante da ferrovia tambm de bitola estreita que servia ao manicmio do Juquery, alm de carros e locomotivas que serviam no extinto Tramway de Santo Amaro (de 1,05 m e adaptado), extinto pela Light em 1914. Ainda hoje existem uma locomotiva e um vago dessa velha ferrovia no Museu da Melhoramentos. Em 1897 aparecem os projetos para a construo da estao definitiva de Caieiras. O prdio o que est em atividade at hoje, com arquitetura bonita e tpica da poca. A cidade de Caieiras cresceu e tornou-se municpio. Em 28/10/1983, a estao foi incendiada por usurios descontentes com o constante atraso dos trens de subrbio da Refesa, donos da Santos-Jundia, na poca. Eram j outros tempos. Porm, com 50% da cobertura danificada, a Refesa reconstruiu tudo como era originalmente, e em menos dois anos depois do incndio tudo voltou a ser como antes. A estao serve hoje aos trens da TM. (Fontes: Companhia Melhoramentos e Nilson Rodrigues) 3z4p7
O PBLICO E O PRIVADO NA CONSTRUO
DO ESPAO URBANO: O CASO DE CAIEIRAS
O Pblico e o Privado na Construo do Espao Urbano:
O Caso de Caieiras
Resumo
Este artigo trata da formao do espao urbano de Caieiras, a partir das instalaes industriais promovidas na regio pelo Coronel Rodovalho, em 1877, retratando as aes econmicas que levaram formao do ncleo fabril da Companhia Melhoramentos de So Paulo. Trata da interferncia da iniciativa privada na formao do espao urbano, mostrando como a trajetria da referida Companhia permaneceu diretamente ligada ao desenvolvimento da regio. O artigo aborda o processo de desmonte do ncleo originalmente estabelecido no local e as polticas pblicas de preservao dos edifcios remanescentes aps a demolio da quase totalidade das vilas formadoras do ncleo fabril de Caieiras, refletindo sobre a reaproximao entre bens e conservao. Palavras-chave: Ncleo Fabril, Espao Urbano, Preservao, Patrimnio
1
Breve histrico
No final do ano de 2007, a notcia publicada pelo jornal O Globo1 anunciava a venda de 5,2 milhes de metros quadrados das terras da Companhia Melhoramentos, localizada no municpio de Caieiras - SP, para a Construtora Camargo Correia. A construtora divulgou a inteno de implantar um empreendimento com 15 mil unidades residenciais no local. Junto com a notcia, o impacto causado na regio com a possibilidade de implantao deste novo empreendimento, trouxe algumas incertezas para o futuro do municpio. Logo aps, no ano de 2009, a Melhoramentos anunciou o fechamento de um acordo com a CMPC – Compaia Manufactureira de Papeles y Cartones – para vender a Melhoramentos Papeis ao grupo chileno, afirmando que esta venda seria fruto de um processo de reorganizao das atividades do grupo2. Estes recentes processos de vendas do patrimnio da Companhia Melhoramentos esto indicando novos rumos expanso do municpio de Caieiras. O municpio que se formou a partir das instalaes industriais do Coronel Rodovalho,3 no final do sculo XIX, vem testemunhando o desaparecimento de seu patrimnio arquitetnico gradativa e concomitantemente ao processo de fragmentao da propriedade da Companhia e expanso do municpio.
Em 2002, aps a finalizao do trecho Oeste do Rodoanel Mrio Covas, uma significativa valorizao foi atribuda s reas de Caieiras. A construo do Rodoanel facilitou a transposio dos percursos que ligam a capital aos municpios ao redor, articulando as Rodovias Regis Bittencourt, Raposo Tavares, Castelo Branco, Bandeirantes e Anhanguera e assim motivando
novos investimentos nestas reas.
A valorizao imobiliria e a expanso urbana podem ser apontadas como agentes responsveis
pelo desaparecimento do patrimnio industrial, incluindo os edifcios industriais e tambm os
vestgios dos produtos na indstria fabricados, os mtodos de produo, as condies de trabalho
e moradia do operariado, as relaes sociais e espaciais em uma cidade ou regio (KHL, 1998).
Em Caieiras, tais transformaes colaboraram para que ao mesmo tempo em que houvesse um
crescimento urbano, independente dos domnios da Companhia, houvesse tambm a perda de
uma significativa parte do patrimnio arquitetnico local.
1 Camargo Correia compra terreno para desenvolver empreendimento imobilirio de at 3 bilhes. Publicado em 21/12/2007 no site
www.globo.com.
2 Melhoramentos comprada por fabricante chilena por 120 milhes. Publicado em 20/04/2009 no site www.folhaonline.com.br.
3 Antnio Proost Rodovalho nasceu em 27.1.1838, em So Paulo. Atuava no comrcio desde os 12 anos de idade. Instalou filiais no
interior do Estado, negociando fornecimentos para a lavoura do caf. Foi nomeado, em 1875, gerente tesoureiro da caixa filial do
Banco do Brasil e posteriormente presidente do Banco Commercial de So Paulo, onde era fundador e principal acionista. Em 1885,
colaborou para a fundao da Caixa Econmica e Monte de Socorro. istrou as obras da Estrada de Ferro da Companhia S.
Paulo e Rio de Janeiro (Central do Brasil), participou da organizao da Companhia de Gs de So Paulo, adquirindo a quarta parte do
capital; motivou a criao e manteve-se acionista majoritrio da Companhia Cantareira de Esgotos. Acionista e impulsionador da
Companhia Ituana de Estrada de Ferro. Forneceu a primeira sede prpria para a Bolsa de Valores de So Paulo. Acionista,
organizador e diretor da Fbrica de Tecidos Anhaia & Companhia, da Serraria de Gustavo Sidow & Companhia e da Companhia
Melhoramentos de So Paulo. Militou na Unio Conservadora, vereador da Cmara Municipal paulistana de 1866 a 1870, ocupou
posteriormente a presidncia da edilidade. Foi oficial da Guarda Nacional desde 1857, atuou no apoio ao Exrcito na guerra do
Paraguai, onde recebeu o ttulo de coronel. Foi benemrito da Casa de Misericrdia. Faleceu a 30.12.1913 aos 75 anos (DONATO,
1990).
2
O desenvolvimento industrial de muitas cidades deu-se, inicialmente, ao longo das ferrovias e
posteriormente, ao longo das rodovias (VILLAA, 2001). Assim, origem de Caieiras est
relacionada com a implantao da ferrovia e das instalaes fabris, a partir de 1867, com a
inaugurao do prolongamento da estrada de ferro So Paulo Railway at Jundia.
Em sua fazenda4 localizada s margens do prolongamento da So Paulo Railway para Jundia e s
margens do Rio Juqueri, o empreendedor Antonio Proost Rodovalho mandou construir, aps a
constatao de minerais ricos em carbonato de clcio, dois fornos de barranco para produo da
cal, as chamadas caieiras. Neste mesmo ano, o Coronel Rodovalho, alguns amigos e alguns
financistas fundaram ainda a Companhia Cantareira de Esgotos visando extrao dos recursos
naturais de Caieiras e prestao de servios de higienizao na capital (DONATO, 1990).
Com o desenvolvimento da Companhia Cantareira de Esgotos e com a fabricao dos produtos
alm da cal, como manilhas, ladrilhos, guias, sarjetas e posteriormente tijolos e telhas, os
trabalhadores, a maioria italianos, foram atrados para esta regio pelas oportunidades de trabalho
encontradas. Foram construdas, originalmente, 180 residncias para fixar esta mo-de-obra no
local, constituindo-se um dos primeiros ncleos habitacionais organizados para trabalhadores livres
do Brasil. A necessidade de escoamento da produo, que at ento era levada em lombo de
mulas para a Estao Ferroviria de Perus, aliada influncia de Rodovalho e seus scios da
Cantareira permitiram a criao de uma parada de trens da So Paulo Railway na regio, criando
assim, em 1883, a Estao Ferroviria de Caieiras, cujo nome fazia referncia aos fornos de cal
(DONATO, 1990).
Neste perodo, algumas mudanas na sociedade comeavam a ocorrer, pois o Brasil deixava,
gradativamente, de praticar o trabalho escravo. Entre estas mudanas destacamos a introduo do
trabalho assalariado e das atividades industriais juntamente com o adensamento nos centros
urbanos. A abolio, que oficialmente foi assinada em 1888, significou o fim dos entraves
expanso do trabalho assalariado e imigrao. Alm disso, significou tambm a emergncia do
poder dos fazendeiros do oeste paulista.
O ideal de Repblica se consolidou no pas em 1889 com a Proclamao. De maneira geral,
ocorreu uma diversificao na economia do pas. A agricultura deixava de ser a nica atividade
econmica. A dcada de 1880 a 1890 representou um surto industrial no Brasil. Em 1885 o Estado
de So Paulo registrava treze fbricas txteis com 1670 operrios, trs fbricas de chapus com
315 operrios, sete empresas metalrgicas com 500 operrios. Em 1889 havia, no Brasil, 636
empresas industriais onde trabalhavam 54 mil operrios. Em 1901, entre as 91 mais importantes
empresas industriais paulistas, 33 empregavam de 10 a 49 operrios, 33 de 50 a 199, 22 de 200 a
499, duas outras ocupavam 600 operrios cada e uma empresa possua cerca de 800 operrios
(SILVA, 1995).
4 A fazenda foi adquirida na dcada de 1860, provavelmente com o conhecimento do parecer de 1863 elaborado pelo engenheiro
Bruness que considerava o manancial localizado nesta rea como o mais indicado para o abastecimento da cidade de So Paulo
(VICENTINI, 2007).
3
Os estabelecimentos fabris de Caieiras caracterizavam essa rea como um dos principais
centros industriais dos arredores paulistanos na poca. A fbrica de cal, em 1888, era
considerada como uma das duas mais importantes da provncia (...) (LANGENBUCH,
1971:108).
Durante o perodo de industrializao, um grande nmero de trabalhadores foi atrado para as
grandes cidades. As acomodaes residenciais para este contingente eram precrias e os
mdicos, engenheiros, investidores e empreendedores as consideravam focos de doenas, devido
s ms condies sanitrias e maus hbitos dos moradores. Para amenizar esta situao
percebem-se duas formas de empreendimentos diferentes: uma voltada acomodao das
famlias nos centros urbanos, normalmente iniciativas de empreendedores imobilirios e outra
voltada para operrios, iniciativa de industriais que, muitas vezes estavam estabelecidas em locais
afastados dos centros urbanos e por isso fazia-se necessrio promover a fixao dos moradores
no local, formando, assim, ncleos fabris muitas vezes providos de uma infra-estrutura
semelhante a uma pequena cidade:
Muitas empresas criaram no s vilas, mas verdadeiras cidadelas porque se
estabeleciam em locais isolados onde inexistia mercado de trabalho ou cidades capazes
de concentrar trabalhadores e oferecer o mnimo de servios e equipamentos urbanos
(BONDUKI, 1998: 47).
Atento s novas necessidades do mercado que apontavam a falta de papel e tambm iminente
diminuio da demanda para a produo dos derivados da cal que eram ofertados ao municpio
de So Paulo, Rodovalho deu incio a um novo projeto: o aprimoramento de substncias
experimentais para o fabrico de papel.
Em 1887 iniciava-se, o projeto para a nova fbrica com a participao da empresa Gebrder
Hemmer Neidemburg Pfalz. A partir do projeto, iniciava-se a construo utilizando-se pedras de
morro prximo e cimento e folhas de zinco importados da Europa. Comearam tambm as
pesquisas de anlise para matria prima, com a utilizao da cal na celulose. A situao
geogrfica favorecia o empreendimento com o Rio Juqueri que fornecia energia hidrulica para o
funcionamento das mquinas e era utilizado para o transporte fluvial de cargas que, juntamente
com o transporte ferrovirio interno, movimentavam a regio (DONATO, 1990).
At o final de 1889 a empresa de Rodovalho ainda era anunciada como Fazenda Industrial
Caieiras, conforme o anncio no almanaque do estado de So Paulo (VICENTINI, 2007). Com o
funcionamento da primeira das trs mquinas da fbrica, em 1890, teve incio a produo de
papel industrializado, embora ainda de baixa qualidade. Com isso, foi constituda a Companhia
Melhoramentos de So Paulo. O relato de 1890, feito por Henri Raffard j reafirmava o empenho
de Rodovalho em suas atividades:
A 26 quilmetros de So Paulo, pode-se igualmente ver uma instalao de luz eltrica
com lmpadas Edison da fora de 20 velas nas propriedades do coronel Antonio Proost
Rodovalho, vizinhas da estao de Caieiras na linha inglesa, onde este capitalista fez
montar uma fbrica de cal, depois outra de cermica e ultimamente uma de papel
(RAFFARD5, 1892: 3 apud LEMOS, 1989: 46-47).
5 RAFFARD, Henri. Alguns dias na Paulica. Revista do Instituto Histrico e Geogrphico Brazileiro, Rio de Janeiro, 55 (parte 2):159-258, 1892.
4
Descontente com algumas decises e posicionamentos da diretoria da empresa, o Coronel
Rodovalho desligou-se, em 1900, definitivamente, da Companhia.
Com a crescente demanda para o mercado papeleiro, o plantio de eucaliptos - matria prima na
fabricao do papel - foi intensificado, como descreve o relato de um viajante: “tornara-se verde,
com o plantio de 70.000 eucaliptos, dos quais 46.000 em 1912” (DONATO, 1990, p.46).
As paralisaes das obras pblicas e particulares, em decorrncia dos efeitos da Primeira Guerra,
reduziram a explorao da cal. Dos nove fornos construdos e que operavam com freqncia,
apenas trs, em 1916, continuavam funcionando. Segundo Donato (1990), a produo de papel
no sofreu redues neste perodo. O funcionamento dos fornos foi diminuindo at a paralisao
total em meados do sculo XX (LEMOS, 1989).
Em 1920, a empresa foi incorporada firma Weiszflog Irmos, de propriedade dos irmos
alemes Alfried, Otto e Walter Weiszflog, que j atuava no campo das artes grficas e da
produo de artefatos de papel ando a se chamar Companhia Melhoramentos de So Paulo
– Weiszflog Irmos. O ncleo habitacional foi aumentando, surpreendendo pelas suas dimenses
e importncia, conforme o relato de 1920:
Possue Cayeiras 650 casas, para operrios e istrao; 4000 alqueires de terra, quasi
todos plantados de especies vegetaes proprias para a industria do papel, como sejam
eucalyptos, cruptomea japonica, casuarinas, etc; linha frrea na extenso de 30 kilometros
corta a propriedade em diversas direces; possue 7 escolas com media de frequencia de
40 alumnos e um grupo de 100 escoteiros, filiados Associao Brasileira de Escoteiros;
1500 operarios e suas familias; pharmacia; templo religioso, theatro, hospital em construo,
associaes recreativas e desportivas, jornal publicado por auxiliares da Companhia, etc, etc
(A marca dgua no papel de imprensa e a industria nacional de papel6 [s.d.], p.38 apud
CORREIA, 1998: 94-95).
6 A MARCA DGUA NO PAPEL DE IMPRENSA E A INDSTRIA NACIONAL DE PAPEL. So Paulo: Companhia Melhoramentos de So
Paulo, [s.d.].
Figura 1 – Edifcios da fbrica, final de sculo XIX e incio do XX.
5
Este ncleo era, na verdade, uma “pequena cidade”, que abrigava os operrios, inclusive os
especializados em setores da produo de papel (BLAY, 1985). Dentro do ncleo formaram-se
vrios bairros: Bom Sucesso, Abreus, Barreiro, Cermica, Fbrica, Monjolinho, Vila dos
Coqueiros, Vila Leo, Vila Koll, Pedreira, entre outros. O transporte utilizado pelos moradores para
se locomoverem de um bairro a outro ou para chegarem estao de trem de Caieiras era a
ferrovia interna. Alm desta ferrovia, havia tambm para os casos de enfermidades emergenciais
um automvel de eio disponvel para levar a famlia necessitada at um hospital da capital,
caso fosse necessrio (MORAES, 1995).
As casas eram diferenciadas de acordo com a categoria profissional do funcionrio. A casa era
oferecida ao funcionrio e este assumia a responsabilidade do bom uso do imvel, efetuando o
pagamento de um valor simblico referente ao aluguel. A manuteno e reparos de eventuais
avarias ficavam a cargo da empresa, que considerava o valor pago pelo aluguel dos imveis
irrisrio diante de tais servios.
Os visitantes que chegavam ao ncleo de Caieiras verificavam que as acomodaes dos
trabalhadores e de suas famlias eram residncias confortveis, providas de todos os requisitos
higinicos e salutares, dispondo de luz eltrica, gua encanada, pisos assoalhados e forros de
estuque (MORAES, 1995).
Figura 2 – Planta de casa para funcionrios.
Fonte: Acervo da autora. Desenho da planta baseado em croqui da publicao A Obra Social da Companhia
Melhoramentos-casas operrias em Caieiras (Impresses do Sr. Luis Carlos Mancini transcritas em Servio Social n.
24, So Paulo dezembro de 1940). Caieiras, Companhia Melhoramentos de So Paulo, 1940.
6
Figura 3 – Casa para funcionrios: fachada principal.
Fonte: Acervo da autora. Desenho da fachada elaborado pela autora baseado nos levantamentos mtricos e no croqui
da publicao A Obra Social da Companhia Melhoramentos-casas operrias em Caieiras (impresses do Sr. Luis Carlos
Mancini transcritas em Servio Social n. 24, So Paulo dezembro de 1940). Caieiras, Companhia Melhoramentos de
So Paulo, 1940.
.
Historicamente, as vilas operrias e os ncleos fabris eram locais onde indivduos pobres, em sua
maioria, eram arregimentados para trabalhar conforme as necessidades das fbricas. A base
higienista, a preocupao com a formao moral e religiosa, que inclua os princpios de dever e
lealdade na formao do carter do operrio e as opes de lazer e conforto eram oferecidos aos
funcionrios mantendo-os em constante estado de agradecimento e prontido para o trabalho.
(CORREIA, 1998)
Em 1920, foi inaugurada a Estrada Velha de Campinas que ligava a cidade de So Paulo
Campinas, ampliando, assim, as possibilidades de locomoo dos habitantes de Caieiras tanto
para a Capital quanto para o interior. O nmero de pessoas que residiam em Caieiras, em 1926,
era em torno de 2.400 pessoas (aproximadamente 472 famlias e 116 solteiros). Do total,
figuravam em folha de pagamento 946 funcionrios. Cinco anos depois o nmero de funcionrios
subiu para 1.084. Assim, “at 1930, Caieiras era a Companhia Melhoramentos de So Paulo, em
sua atividade sempre crescente, pois o que somente no lhe pertencia era a Estao Ferroviria
da antiga Inglesa” (Histria do municpio de Caieiras, 1973, apud DONATO, 1990:72).
Iniciou-se, em 1931, o loteamento na alta da encosta do morro do Crescima, localizado a mil
metros, aproximadamente, de distncia da estao ferroviria. A aquisio de lotes pelos
trabalhadores da Companhia, que investiram suas economias no local, impulsionou o
desenvolvimento do loteamento. Desta maneira, o bairro que no pertencia Companhia,
assumia caractersticas de “bairro dormitrio” j que boa parte de seus moradores trabalhavam na
Companhia ou nos bairros paulistanos prximos s estaes ferrovirias, como o bairro da Lapa
(BRUGGEMANN, 2007).
7
Durante o governo de Getlio Vargas e a consolidao do Estado Novo algumas intervenes
ligadas ao trabalho ocorreram. Devido crise na agricultura, um nmero cada vez maior de
trabalhadores deixou o campo em busca de melhores condies de trabalho nos centros urbanos.
Havia oportunidade de trabalho nas indstrias, mas a mo-de-obra comeou a exceder a
quantidade de vagas de trabalho e, desta maneira, agravava-se a crise social que contribua para
o aumento do movimento operrio que lutava por melhores condies de trabalho. Assim, o
Governo tinha dois fortes motivos para intervir nos assuntos ligados ao trabalho: conter o avano
do movimento dos trabalhadores e criar mercado para alguns setores da indstria nacional que
tambm estavam em crise.
A ditadura do Estado Novo institucionalizava o controle da classe trabalhadora, como por
exemplo, por meio da aprovao da Lei de Sindicalizao, em 1931, onde todos os sindicatos
eram obrigados a se filiar ao Ministrio para serem reconhecidos oficialmente e receber o fundo
sindical. As novidades relacionadas gesto de trabalho, institudas pelo governo, afetaram,
portanto, o cotidiano da Companhia. Em 1937 foi criado o sindicato local. Em 1946, muros e
cercas foram colocados em toda extenso da fbrica e estabelecimentos afins. Um rigoroso
controle na circulao das pessoas e materiais ou a vigorar, incluindo, como medida, a
colocao de relgios de ponto e a criao do Servio de Vigilncia. A situao de conflito entre
os interesses de patres e empregados suscitou greves entre os trabalhadores, o que pode ser
observado com certa frequncia, a partir de 1946.
No Brasil, os reflexos da Segunda Guerra Mundial fizeram com que as comunidades alems
fossem controladas pelo Governo, sob a suspeita de formarem uma rede de espionagem junto ao
nazismo, e desta maneira, includas na chamada Lista Negra. O Departamento de Ordem Poltica
e Social – DEOPS – controlava a trajetria de todas as pessoas que pudessem ser consideradas
Figura 4 – Vila operria de Caieiras.
Fonte: A Obra Social da Companhia Melhoramentos-casas operrias
em Caieiras (impresses do Sr. Luis Carlos Mancini transcritas em
Servio Social n. 24, So Paulo dezembro de 1940). Caieiras,
Companhia Melhoramentos de So Paulo, 1940.
8
suspeitas. As acusaes de formao de rede nazista7 recaram tambm sobre a Companhia, que
retirou de sua denominao, em 1940, o “Weiszfcorporada” ando a chamar-se
“Companhia Melhoramentos de So Paulo, Indstrias de Papel” (DONATO, 1990).
A poltica centralizadora do Estado assumia alm de um sentido industrializante, tambm, em
muitos aspectos, um sentido nacionalista. Entre as aes que objetivavam amenizar as tenses e
conflitos polticos, estava o convite ao ministro da educao, Gustavo Capanema e ao General
Maurcio Cardoso para visitarem as instalaes e atestarem a “brasilidade” da Companhia e de
seus dirigentes, que se consideravam filhos da terra, j que suas mulheres e filhos eram
brasileiros. Alm da Companhia, alguns diretores tambm tiveram seus nomes includos na Lista e
em 1941 foram afastados de seus cargos.
Todos esses fatores polticos e trabalhistas contriburam para que o interesse em fixar os
trabalhadores prximos s fbricas diminusse. Os trabalhadores aram, aos poucos, a ocupar
as reas do Morro do Crescima. Para os industriais, a responsabilidade do controle de
funcionrios ava a ser do Estado.
At 1958, Caieiras era distrito do municpio de Franco da Rocha. O primeiro levantamento
demogrfico de Caieiras, de 1957, apontava 539 residncias construdas na Vila Crescima para
2.235 pessoas enquanto nos bairros da Companhia havia 1303 residncias para 5949 habitantes,
apresentando um total de 8715 pessoas, nmero suficiente para o pedido de emancipao
mesmo sob os protestos de Franco da Rocha (PERES, 2008).
At o final da dcada de 1950, cerca de 80% dos trabalhadores de Caieiras habitavam as vilas do
ncleo fabril. Em 1961 ocorreu a constituio da URBES – Urbanizao e Expanso Social Ltda.,
vinculada Companhia. Com a expanso das cidades vizinhas e do prprio municpio que j
havia comeado a ocupao de terras fora das reas das proximidades da fbrica, a
Melhoramentos entrou em atividade urbanizadora, desmobilizando o ncleo primitivo nascido em
funo das instalaes industriais. O trabalho foi iniciado com as obras do Jardim Santo Antonio,
que abriu as vendas dos lotes em 1962. Vinte casas foram construdas e sorteadas entre os
trabalhadores da Companhia que puderam financiar o pagamento (DONATO, 1990). Com a
denominao Melhoramentos de So Paulo – Urbanizao Ltda., em 1986, o grupo comeou a
atuar na rea imobiliria com loteamentos, venda de lotes e construes de nvel mdio-alto. Os
lotes eram vendidos, com facilitao na forma de pagamento, aos funcionrios ou oferecidos
como parte de pagamento das indenizaes trabalhistas nas rescises contratuais da empresa.
medida que o funcionrio deixava a residncia do ncleo, iniciava-se o processo de demolio e,
muitas vezes, o material em condies de aproveitamento era oferecido ao funcionrio para que
assim desse incio construo de sua nova moradia fora do ncleo.
7 Pronturios DEOPS n. 96964 e 44311.
9
A Companhia Melhoramentos associou-se, em 1972 a MD Papis. Desta associao e da venda
das mquinas de papel e de 193.077m de rea fabril da Melhoramentos MD Papis, constituiuse
a MD Nicolaus.
Em 1976 cerca de 1.264.000 metros quadrados de rea de reflorestamento da Companhia foram
desapropriados para a construo da Rodovia Bandeirantes que embora construda nas
proximidades das caieiras, no efetuava conexo com o municpio (DONATO, 1990).
O desmonte do ncleo foi intensificado, principalmente, a partir da dcada de 1980 com a
demolio de praticamente todas as vilas que o constituam. Alguns edifcios, como a igreja de
So Jos, construda em 1933; a Igreja Nossa Senhora do Rosrio, construda em 1917; as
oficinas construdas em 1922; os fornos de barranco construdos em 1877 e os fornos construdos
posteriormente, a fbrica, o prdio do Armazm de 1885; o grupo escolar Alfredo Weiszflog e
algumas residncias permaneceram aps o desmonte.
A falta de uso dos edifcios remanescentes associada falta de manuteno dos mesmos deu
incio a um processo de deteriorao. Alm disso, estabeleceu-se uma distncia entre os bens
remanescentes e a populao, j que o o ao interior da Companhia ou a ser
constantemente vigiado pela equipe de segurana.
Figura 5: O edifcio do cinema em processo de demolio.
Fonte: Acervo Paulo Polkorny, [s.d].
10
Figura 6: Grupo Escolar Alfredo Weiszflog. Figura 7. Igreja de So Jos.
Fonte: acervo da autora, 2010. Fonte: Acervo da autora, 2010
Uso e preservao dos edifcios remanescentes
As primeiras aes polticas em defesa dos bens arquitetnicos remanescentes das instalaes
dos edifcios fabris da Companhia foram observadas pela disposio da Lei Orgnica do Municpio
n1994/90. O 4 do artigo 184 designa ao municpio a proteo s obras e outros bens de valor
histrico, artstico e cultural, os monumentos, as paisagens naturais notveis e os stios
arqueolgicos. E ainda o artigo 185 estabelece que
Ficam fazendo parte do Patrimnio Histrico e Cultural do Municpio, os fornos de cal,
localizados no bairro do Monjolinho, a Igreja Nossa Senhora do Rosrio localizada Avenida
Vitor Teixeira da Silva e os antigos prdios do Arquivo do Armazm e do antigo
Almoxarifado, localizados na Rua Crinco Barnab, antiga Rua da Estao, cabendo ao
Poder Executivo Municipal solicitar os seus tombamentos histricos, atravs do Conselho de
Defesa ao Patrimnio Histrico, Arqueolgico, Artstico e Turstico do Estado de So Paulo,
CONDEPHAAT.
Infelizmente, no havia qualquer referncia na Lei 1994/90 quanto s edificaes residenciais que
continuaram em processo de demolio. Em 2004, muitas casas da Rua dos Coqueiros
desapareceram cedendo lugar para um gramado. Os edifcios da fbrica e da estao ferroviria
tambm no eram resguardados pela Lei. Os bens descritos no referido artigo exclua a arquitetura
vernacular como digna de incluso entre os bens de representao do patrimnio histrico e
cultural do municpio.
A prefeitura deu incio solicitao de tombamento dos referidos edifcios em 1994, com o pedido8
ao CONDEPHAAT - Conselho de Defesa do Patrimnio Histrico, Arqueolgico Artstico e
Turstico. Aps anlise, o CONDEPHAAT indeferiu o processo justificando “que os bens culturais
em questo no se colocam como bens de representao estadual”, propondo assim o
8 Processos consultados: 394/94 e 679/96.
11
arquivamento do processo e recomendando, se assim entenderem os solicitantes, a preservao
no mbito municipal.
Entre a Lei Orgnica de 1990 e a Lei Complementar de 2006, no houve um amadurecimento
municipal nas questes que se referem ao Patrimnio. As aes continuaram genricas sem um
estudo aprofundado ou recomendaes especficas para a proteo dos bens elegidos como
Patrimnio Histrico e Cultural e, excluso da solicitao feita ao CONDEPHAAT, no
constatamos aes efetivas em prol da construo e difuso da memria do municpio como
recomenda a Lei.
Com a aprovao da Lei municipal 4160/08, que dispe sobre o zoneamento, parcelamento, uso e
ocupao do solo no municpio de Caieiras, um pequeno avano quanto s definies do
Patrimnio municipal foi observado. O artigo 40 do Captulo V da referida Lei define como
Unidades Protegidas, as reas e imveis, legalmente institudas pelo Poder Pblico, que exigem
definio de usos e diretrizes especiais tendo em vista a sua importncia histrica, arquitetnica e
necessidade de preservao. Ficam declaradas, pelo Artigo 41 da mesma Lei, as Unidades
Protegidas (UP): UP dos Fornos de cal, localizadas no bairro do Monjolinho; UP do conjunto de
casas, galpes, pontes, fbricas e igrejas de relevante interesse histrico e cultural localizadas na
propriedade da Companhia Melhoramentos, ou de seu sucessor; UP da Estao Ferroviria de
Caieiras; UP do antigo ponto de captao de gua da Vila Miraval, de propriedade da rede
Ferroviria Federal S.A. (RFFSA).
Esta definio lana um olhar diferente aos bens que o municpio elegeu como Patrimnio
Histrico e Cultural, incluindo as casas, fbrica e a estao como itens de importncia histrica e
cultural ainda no observados nas definies das leis anteriores.
Aps anlise dos processos de solicitao pela Prefeitura ao CONDEPHAAT para tombamento do
patrimnio, consideramos que as aes municipais no tocante preservao do patrimnio so
ainda frgeis para a eficaz concretizao da ao, havendo a necessidade, primeiramente, de
uma organizao interna do reconhecimento do seu prprio patrimnio.
A solicitao do tombamento no deve ser compreendida como uma responsabilidade alheia,
assim como, a compreenso da importncia dos bens deveria partir de um reconhecimento local
colocando em prtica a recomendao da Lei municipal 3896/06 “implantar um programa
municipal permanente de preservao, proteo, recuperao do Patrimnio Histrico, Cultural e
Paisagstico do Municpio”.
Conseguir o tombamento Estadual pode atestar aos edifcios uma importncia pela atribuio de
valor que lhes seria concedida, e conferir status ao municpio, ao promover novas valorizaes
imobilirias. Mas por outro lado, no garante a preservao eficaz dos edifcios, que s se far
com a utilizao e insero dos bens na vida cotidiana da sociedade, como ocorre com a utilizao da Igreja do Rosrio, onde as missas dominicais so abertas populao resultando na conservao do edifcio.
Figura 8: Prdio do Armazm. Figuras 9: Detalhe do forno de cal Figura 10: Forno de barranco
Fonte: Acervo da autora, 2009. Fonte: Acervo da autora, 2005. Fonte: Acervo da autora, 2005.
Figura 11: Fornos de cal.
Fonte: Acervo Paulo Polkorny, [s.d.]
A relao atual entre a sociedade e os bens que se pretende preservar foi alterada devido s
mudanas istrativas da Companhia e pode se alterar ainda mais com as demandas
populacionais que esto por vir com os novos empreendimentos propostos para a regio.
Os critrios de preservao foram modificados, de maneira geral, desde a dcada de 1990, pela
lgica de participao dos setores pblicos e privados nas polticas de patrimnio (LEITE, 2007).
O autor ressalta a predominncia da discusso, nos rgos internacionais de preservao, que
destacava a necessidade de investimentos privados nas prticas de preservao, desde a carta
de Veneza – 1964 - observando a escassez dos recursos pblicos para o setor. O debate das
13
dcadas de 1970 e 1980 focava a perspectiva desenvolvimentista, onde o Estado assumia ainda o
papel central no planejamento, captao dos recursos e execuo dos projetos. Desta maneira,
mesmo com a crescente participao do setor privado, como forma de suprir as deficincias
oramentrias e tirar do Estado o nus com as despesas do patrimnio, havia o predomnio de um
discurso social voltado ao desenvolvimento urbano e regional, atravs do incremento do turismo
cultural.
Assim, Leite (2007) aponta, neste contexto, a noo de sustentabilidade como uma espcie de
salvaguarda financeira, mais do que preservar um bem patrimonial era necessrio repensar seus
usos, em funo da necessidade de um bem oferecer suficiente retorno econmico que
justificasse um investimento privado.
Dentro de um esforo para melhoria da qualidade de vida da populao, aliado contnua
valorizao imobiliria e expectativa que se deposita na gerao de recursos pelo patrimnio, a
atual istrao municipal tem, em parceria com a Companhia Paulista de Trens
Metropolitanos – TM - e com o Servio de Abastecimento Bsico do Estado de So Paulo –
SABESP - procurado definir uma proposta de implantao de um parque linear s margens do Rio
Juqueri9. O projeto pretende solucionar problemas ligados ao sistema sanitrio, virio, cultural e
de lazer e integrar-se ao municpio de Franco da Rocha, por meio do Parque Estadual do Juqueri
compondo uma rea verde linear, s margens do rio, integrando-se tambm ao municpio de
Francisco Morato. Assim, fazem parte da proposta a criao de um viaduto para a transposio da
linha frrea (cujas obras do Governo do Estado foram iniciadas no final do ano de 2009), de uma
nova estao de trem prxima aos bairros mais adensados demograficamente, a implantao de
ciclovias e vias para caminhada e utilizao dos edifcios histricos remanescentes das
instalaes fabris da Companhia Melhoramentos definidos no artigo 41 da lei municipal 4160/08.
O Parque Linear do Rio Juqueri seria uma consonncia entre os interesses da TM e a carncia
de solues para a questo do transporte, lazer e cultura na regio, alm de ser potencialmente
uma rea de compensao ambiental10
Arantes (1987) alerta sobre a necessidade de “se aprofundar o conhecimento do processo de
reelaborao (ou apropriao simblica) que se d no plano sociolgico” ao se pensar na
complexidade do processo chamado de preservao (ARANTES, 1987:54).
Assim, alm da constituio histrica do lugar, sua arquitetura e importncia enquanto local de
troca de experincias e prticas sociais necessrio refletir sobre o retorno dos bens para a
sociedade diante do crescimento e da valorizao de terras, as aes de preservao e a
insero do caieirense neste processo.
9 Consulta a ata da terceira reunio da comisso de desenvolvimento dos estudos de concepo e elaborao do termo de referncia do
projeto bsico do eco-parque linear de Caieiras, realizada em 25 de junho de 2009.
10 Programa de compensao ambiental decorrente das obras de modernizao das linhas ferrovirias. O programa atende aos Termos
de Compromisso Ambiental firmados com o Departamento Estadual de Proteo de Recursos Naturais – DEPRN – da Secretaria do
Estado do Meio Ambiente (www.tm.sp.gov.br, publicado em 08/04/2008).
Histria Contempornea
Prefeitos e Vice - Prefeitos
1960 a 1963 - Gino Drtora e Milton F. Neves
1964 a 1969 - Pde. Jos C. de Oliveira e Milton F. Neves
01/02/1969 a 16/10/1969 - Gino Drtora - Antonio Furlanetto
17/10/1969 a 28/11/1970 - Amrico Massinelli
28/11/1970 a 31/01/1973 - Nelson Manzanares
1973 a 1977 - Pde. Jos C. de Oliveira e Lourides DellPorto
1977 a 1982 - Gino Drtora e Luiz Lopes Lansac
1983 a 1988 - Nelson Fiore e Fausto da Silva Junior
1989 a 1992 - Milton Ferreira Neves e Edson Navarro
1993 a 1996 - Nvio L. A. Drtora e Pedro Sergio Graf Nunes
1997 a 2000 - Pedro Srgio Graf. Nunes e Edson Navarro
2001 a 2004 - Nvio L. A. Drtora e Joaquim Costa
2005 a 2008 - Nvio L.A. Drtora e Joaquim Costa
2009 a 2012 - Roberto Hamamoto e Gerson Romero
2013 a 2016 - Roberto Hamamoto e Gerson Romero
2017 a 2020 - Gerson Romero e Adriano Sop
2021 a 2024 - Gilmar Soares Vicente e Cleber Furlan (2021 a 2024)
- Pedro Srgio Graf. Nunes e Edson Navarro (1997 a 2000)
- Nvio L. A. Drtora e Joaquim Costa (2001 a 2004)
- Nvio L. A. Drtora e Joaquim Costa (2005 a 2008)
- Roberto Hamamoto e Gerson Romero (2009 a 2012)
- Roberto Hamamoto e Gerson Romero (2013 a 2016)
- Gerson Romero e Adriano Zambelli (2017 a 2020)[13]
- Gilmar Soares Vicente e Cleber Furlan (2021 a 2024)