A piscina dos alemes 5z3161
Crnica antiga
Voc vem comigo para um recanto da natureza e no vai se arrepender. Aqui o Bairro da Fbrica de Papel de Caieiras. Um pedacinho do universo onde todos habitantes so irmanados. Esta ruazinha estreita com casas de ambos os lados tem o nome de Bairro Chique. Aqui direita por trs desse muro alto est o grupo escolar. Lembranas de quando garoto me ressurge agora. Estou-me “vendo” de cala curta na hora do recreio comendo sanduche de po com ovo frito e com os ps descalos como era costume dos meninos da poca. Continuemos andando olhando para as casas da esquerda e da direita. Conheo todos que moram por aqui. Pais, filhos e avs. At sei de quem j de quem. Agora, aqui depois da ltima casa temos este caminho estreito de areias finas e claras com matas altas direita e esquerda matas mais baixas nesse terreno ngreme at o crrego que se inicia por aqui e vai percorrer pela Vila Pereira finalizando no Rio Juquery. Chegamos onde queramos.
Aqui est a piscina dos alemes. Nem sei que palavras utilizar para te definir o encanto deste lugar. Estamos aqui neste paredo que represa as guas para formar a piscina. Abaixo, uma pequena comporta regula a vazo de guas na mesma proporo com que elas, vindas de uma nascente, penetra na piscina. Isso as mantm represadas sempre ao mesmo nvel. Deixando a piscina pela pequena comporta, as guas libertas so o incio do j dito crrego da Vila Pereira. Veja agora o trampolim l no meio da piscina. Est fixado sobre aquela enorme pedra que vinda das profundezas, se sobressai das guas at uma boa altura para se jogar em mergulhos a pique, assim como se dizia antigamente. O o at l s a nado, pois, a pedra do trampolim uma ilha. nossa esquerda temos aquelas rvores e por baixo nas sombras delas, entre a vegetao misturam-se as amoras silvestres vermelhas. Como j deve ter ouvido alguns cantos de pssaros, muitos sabis, inclusive aqueles de peito vermelho ficam nas rvores atraindo seus iguais. Agora nossa direita, a margem da piscina de pedra. Ela enorme porque vinda daquela arborizao e subterrnea, ela s se mostra prxima a piscina quando em suave declive se oculta novamente sob as guas da piscina.
Lembro-me de quando por muito tempo essa piscina ficou vazia parecendo abandonada. Choveu muito e algum a vendo repleta novamente por causa da chuva, espalhou a notcia. Muitos se deslocaram para c. Pais com seus pequenos filhos para assistirem rapazes a nadar onde era o paraso aqutico privativo aos alemes. Vi criana soltando barquinho de papel a se balanar nas ondas provocadas pelas braadas n’gua dos jovens atletas nuticos. Tambm estive aqui com meu pai naquele dia. Se me lembro j sabia nadar no estilo cachorrinho e no estilo arranco. E meu pai toda hora dizia “fica por aqui, no vai para onde fundo”. Ele no sabia que com outros amiguinhos, vez ou outra, eu vinha nadar aqui s escondidas. Alm dele, tambm de algum “fiscal” da Indstria Melhoramentos. Ele, alm de nos expulsar do local, poderia ainda delatar-nos para a chefia da empresa e nossos pais seriam chamados para uma repreenso. Mas, dentre a molecada quando vinha para c, alguns vinham providos de boias. Eram feitas com latas vazias de leo de cozinha. Os furos das minhas eram vedados com cera de abelha e gua no penetrava nelas. Com essa “no to confivel” proteo eu me arriscava ir nadar at onde “no dava p” nas guas to geladas da piscina, ou, seria um lago?
Sim, um lago artificial mais visto como sendo uma piscina. Nunca ouvi algum dizer que era um lago, ou, o lago dos alemes. Gostou do eio? Visualize tudo novamente para poder recordar no futuro. Este recanto vai desaparecer e completamente quando das obras da Rodovia Bandeirantes projetada para ar por aqui, cujos entulhos iro desfigurar este local antes da mata descontrolada o invadir. J o entardecer e vamos voltar por donde viemos. Rua do Bairro Chique. Memorize-o, ele a mando da diretoria da Indstria Melhoramentos vai desaparecer tambm, como, todas as casas desta regio. Tudo aqui ser desolao e eu nem poderei dizer para algum que “tenho desejo de voltar para minha terra” onde vivi minha infncia e minha juventude. Vamos embora que j hora.
Altino Olmpio
Comentrios:
Linda crnica! Lugares paradisacos descritos. Mas, tudo se acabou e esta constatao j me entristeceu quando, h alguns meses atrs, fui dar umas voltas pelo Bairro da Fbrica.
Nem consegui identificar lugares como o da crnica. Tudo demolido e engolido pela industrializao fria e indiferente histria do lugar.
Felizmente crnicas como esta nos levam a uma viagem encantada e cheia de fantasias. Tristemente ao terminar a leitura temos a certeza de que tudo foi apenas um sonho rpido e que nos levou por alguns instantes queles recantos to importantes da nossa vida.
Adorei e me emocionei! Parabns ao Jornal “A semana”
Fatima
Pois – “rezemos para que a raa humana jamais escape da terra, para espalhar sua iniquidade em outros lugares” - sbias palavras. O homem tem um lado perverso que tende a destruir tudo o que bom e lhe faz bem.
uma pena, faam um abaixo-assinado... No tem como impedir isso? Resposta: Impedir o que? Tudo j foi devastado. Tu no sabes porque no s de Caieiras.
MUITO LEGAL... QUANDO EU EI A CHEFE DE DEPARTAMENTO GANHEI O DIREITO DE FREQUENTAR A PISCINA TINHA AT CARTEIRINHA, EU MORAVA MUITO PRXIMO, ERA NA CASA QUE MOROU O SR. CARLOS BAYERLEN, DONA MARINA E FILHOS VISINHO DO ROBERTO BOMBARDI
RENATO MARCHESINI
Muito boa a crnica da piscina.
Realmente ela era o ponto alto da granfinagem melhoramentina.
E as gostosas? Caramba, eu vendo-as daquela cerca...
Por tica no citarei os nomes das minhas preferidas...
Nilson da Curva
Adhemar de La Penha Banho, Possante, Ler, Nivaldo Villalobos, Lino Bollo Foffo, Claudio Sulfatto Nani, Zelo Lopes et caterva, reviram-se na tumba ao lerem a crnica da piscina.
Fred Assoni o Safena
MUITO LINDA A CRNICA... EXISTEM RAZES PARA SER SAUDOSISTA, MAS, A REALIDADE QUE TEMOS QUE NOS DESAPEGAR DAS COISAS MATERIAIS... ONDE EU FUI CRIADA NO BAIRRO DO ESTREITO, NA GRANDE FLORIANOPOLIS... TUDO O QUE EU CONHECIA VIROU P E HOJE S RESTAM AS BOAS RECORDAES... E ASSIM TAMBEM A VIDA... DE NS S VAI SOBRAR O P
POR ISSO DIGO QUE TEMOS QUE APROVEITAR TODOS OS MOMENTOS FELIZES QUE A VIDA NOS OFERECE...
ANA MARIA “GAUCHA” DE SANTOS
A crnica da piscina me despertou outras lembranas, mas queria fazer uma observao nessa sua histria ou melhor lembrar de mais um detalhe que faltou para mim. Ao fundo da piscina ou melhor na entrada da piscina vindo pela vila Morumbi, tinha uma caixa dagua com um enorme p de amoreira, ali alm dos sabias tinha eu e meus amigos que se deliciavam com as
amoras, eu lembro que levava-mos umas canecas de latas feitas por nossos pais com acar, nos enchamos as canecas
e amassava as amoras com uma colher e comamos aquilo como se fosse o manjar dos deuses, que lembrana.
Meus amigos Nego Gil (in memorian) Nelsinho Favero (in memoriam) Adalberto Ciriaco, Antnio Mantovani,
Ao lado dessa amoreira morava sr. Severino R. Gil e famlia
Luiz Carlos Corradini